tag:blogger.com,1999:blog-99692482024-03-29T09:08:31.280+00:00sorumbáticoUnknownnoreply@blogger.comBlogger16670125tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-44605702081741564482024-03-29T09:08:00.001+00:002024-03-29T09:08:00.135+00:00 “O Avô e os Netos Falam de Geologia” - FINALMENTE, 4ª edição<p><span style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11.5pt; text-align: justify;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9ABoA9635Pos46GnWQjGjx24jv6VSfkWEmHBvUEkiWBp_qRcGAHkI-tJDpWC_xcZtAiH74jDBXjR-gkHBkGbKR3zLr1xsjXW4JhOE8Cd4ICiFce5doP8i_YG7TK1R4XQ_qLZ3Z9D96w9q_XXuViUriQMGufULDqu1J3jgAJOGe-gpqgwSU6Quhw/s2048/Imagem%20WhatsApp%202024-03-25%20a%CC%80s%2016.52.15_09371981.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9ABoA9635Pos46GnWQjGjx24jv6VSfkWEmHBvUEkiWBp_qRcGAHkI-tJDpWC_xcZtAiH74jDBXjR-gkHBkGbKR3zLr1xsjXW4JhOE8Cd4ICiFce5doP8i_YG7TK1R4XQ_qLZ3Z9D96w9q_XXuViUriQMGufULDqu1J3jgAJOGe-gpqgwSU6Quhw/s320/Imagem%20WhatsApp%202024-03-25%20a%CC%80s%2016.52.15_09371981.jpg" width="320" /></a></div><br /><span style="color: #2b00fe;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Este livro é uma ideia tão feliz quanto necessária e útil. O seu valor pedagógico é comparável aos cadernos de iniciação científica de Rómulo de Carvalho. Com uma diferença que lhe acentua a utilidade: é que me parece que precisam tanto dele os jovens alunos como os professores do ensino básico e secundário que temos e em que me incluo. Recomendá-lo-ei aos meus alunos do secundário, assim como tomarei a iniciativa de o recomendar aos colegas de grupo disciplinar e ainda solicitarei à direcção da Escola que adquira meia dúzia deles para a biblioteca. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">José Batista da Ascenção<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Professor de Biologia e Geologia da Escola Secundária Carlos Amarante, Braga<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Sobre o livro<o:p></o:p></span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Naquele Verão, era quase sempre com o Sol a descer para lá do Oceano, que o avô falava das muitas coisas que haviam preenchido o seu mundo como geólogo e professor de geologia. Sob o alpendre coberto de hera, no pequeno terraço anexo à casa, uma grande mesa com tampo de ardósia, onde se podia escrever com giz, e algumas cadeiras eram o centro preferido para estas conversas com os três netos. Liberta a mesa de tudo o que servira o jantar, o Domingos e os gémeos Francisca e Mateus, rodeando o avô, tinham nos olhos o brilho da curiosidade. Mais velho, o Domingos, terminara o 7º ano de escolaridade. O Mateus e a Francisca tinham concluído o 6º. O tempo de férias era agora todo deles, com praia pela manhã, jogos e leituras, dentro de casa, nas horas mais quentes da tarde e aquele apetecido convívio ao fim do dia, que os conduzia a maravilhosas viagens e aventuras. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Embalados nas palavras do avô, “caminhavam” sobre rochedos em altas montanhas, “corriam” no solo fofo das estepes e pradarias, “pisavam” o chão áspero e duro dos vales secos e gélidos da Antárctida, “respiravam” a humidade quente e perfumada da floresta amazónica, “mergulhavam” nas profundezas do oceano e “nadavam” nas águas tropicais, límpidas e mornas, por entre corais e peixinhos de todas as cores. Ouvindo as histórias que o avô contava, “subiam” ao topo de vulcões jorrando lavas incandescentes ou projectando nuvens imensas de cinza, “escorregavam” nas dunas escaldantes no deserto do Sahara ou “percorriam” grutas repletas de cristais e imaginavam-se entre dinossáurios e muitos outros animais desaparecidos.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Encorajado pelo interesse e pela atenção dos netos, o avô não parava de falar. Paisagens que percorrera, profundas minas a que descera, museus que visitara, grandes figuras que conhecera e episódios que vivera ou presenciara eram condimentados com ensinamentos nos domínios em que trabalhara e que, ao mesmo tempo, estivessem entre as matérias constantes dos programas escolares destes três elementos do seu pequeno e interessado auditório.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">E era tudo tão agradável e entusiasmante. Ouvir o avô era como ver um filme ao lado de alguém que explicava e tornava fácil o que parecia difícil de entender. A cada passo, as novas palavras necessárias ao discurso iam sendo descodificadas, “traduzidas por miúdos”, como dizia o avô, ganhando significado.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">.</span><span style="color: #050505;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: inherit, serif; font-size: 11.5pt;">(Na introdução da 1ª edição)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-67328883231010581422024-03-27T08:42:00.001+00:002024-03-27T08:42:00.251+00:00 ESCOLA PÚBLICA -CARTA ABERTA AO FUTURO GOVERNO<p><span style="color: #2b00fe; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">(saído no Público online, no passado dia 20)<span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><b>Na sua bem visível luta</b> de há anos e que dá mostras de prosseguir, os professores têm posto a nu algumas vertentes da degradação da Escola Pública, uma deplorável e angustiante realidade. A oitava ronda do PISA (programa </span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 14pt;">de avaliação da OCDE) d</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">ada a conhecer no ano que findou, mostrou que, em 30 países, Portugal ocupa o 30º lugar em literacia científica, o 29º, em Matemática e o 24º, em leitura, resultados que nos envergonham e revelam a deplorável e manifesta pouca importância dada a este sector da nossa sociedade. Com base nas classificações (os “rankings”, como se tem dito) oficialmente divulgadas, fica claro que Escolas Públicas más e alunos maus, em quantidade preocupante, são, entre nós, uma vergonhosa realidade. Temos vindo a esvaziar conteúdos e a criar resultados fictícios para mostrar à OCDE. As direcções das escolas são pressionadas no sentido de facilitar as aprovações e os professores são convidados a agirem em conformidade. Reprovar um aluno representa, para o professor, e para os colegas do conselho de turma, terem de justificar essa decisão, em moldes que mais parecem um castigo, a que eles fogem subindo as notas.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Salvo as muitas e boas excepções, estamos a lidar com uma geração de adolescentes sem qualquer interesse pelo saber, ignorantes de quase tudo, que </span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">não leem nem sabem escrever português, cujos pais, apenas desejam que os filhos tenham aprovação e, se possível, com boas classificações. Grande número de pais ou encarregados de educação não está à altura das suas responsabilidades. Pais e encarregados de educação, já instruídos e educados no pós-Revolução de Abril, a quem a escola deu, igualmente, muito pouco.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">A classe política, no seu todo, a quem os militares de Abril, há 50 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada” entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente, entre outras realidades, de facultar conhecimento, civismo, cidadania, em suma, a uma sociedade que aceitou conduzir.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Entre os sectores da vida nacional, que muito pouco beneficiaram com esta abertura à liberdade e à democracia, está a educação e</span><b><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">, aqui, a escola falhou completamente.</span></b><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"> A iliteracia cultural e científica, mesmo aos níveis mais básicos, de uma parte importante da nossa população, a todos os níveis socioprofissionais, a sucessiva e elevada abstenção em actos eleitorais, a irracionalidade e violência associada ao futebol e o elevado número de consumidores de programas de TV de mais baixo nível cultural são a prova provada desse falhanço. </span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">São muitos os portugueses a quem a escola deu e continua a dar diplomas, mas não deu e continua a não dar a educação, a formação e a preparação essenciais a uma cidadania plena. Educação, formação e preparação, três grandes défices que o dr. António Costa, em começos do seu mandato, já lá vão 8 anos, disse serem a sua grande preocupação, preocupação que, infelizmente, pouco passou das palavras.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Verdadeiros défices na educação, na formação e na preparação para uma cidadania plena abriram as portas a um populismo, a que a democracia deu voz e que, usufruindo da liberdade dessa mesma democracia, nos procura arrastar para um modelo de sociedade que a história já mostrou que sempre nos amordaçou, com consequências funestas. </span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Todos sabemos que se alargou a escolaridade obrigatória e gratuita até ao 12º ano. E isso foi bom. Foi, mesmo, muito bom. No meu tempo, a escolaridade obrigatória e gratuita era a chamada 3ª classe (actual 3º ano). Todos sabemos que o parque escolar deu um grande pulo em frente, comparativamente ao de um passado que nos envergonhava. Mas a verdade é que não chega. Está, mesmo, muito longe de chegar.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Pergunto muitas vezes que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que convide a pensar, a reflectir sobre si mesmo e sobre o que o rodeia. Um mundo, tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera a corrupção, o vírus do futebol profissional e a promiscuidade entre a política, o poder económico e a justiça.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Todos sabemos que há boas e excelentes escolas públicas, que há bons e excelentes professores, que há bons e excelentes alunos, mas o essencial do problema que temos de enfrentar reside na quantidade preocupante de escolas más, professores maus e de alunos maus.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">A mola real de uma verdadeira e eficaz política de Educação reside na dotação orçamental que lhe é destinada e que tem de ser </span><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">adequada à importância deste sector na sociedade.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"> Da satisfação desta necessidade depende a resolução de todas as situações e problemas do sector, de há muito, identificados.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">A preparação de professores deveria ser pensada de molde a oferecer níveis de excelência compatíveis com a sua importância na sociedade, oferecendo saídas profissionais adequadamente remuneradas e atraentes.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">O actual sistema de avaliação dos professores, demasiado injusto, não ajuda a elevar o nível do ensino. Avança-se por quotas e não por mérito. Praticamente, nada avalia. Propostas de avaliações a sério têm sido rejeitadas por parte dos muitos que não querem ou receiam ser avaliados. Neste capítulo, os maus professores, que os há e não são assim tão poucos, os tais que recusam as avaliações a sério e veem na Escola um emprego assegurado até à aposentação, têm contado com o apoio dos sindicatos, que põem ao mesmo nível os bons e os maus profissionais.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">É preciso pôr em prática uma rigorosa supervisão científica e pedagógica dos manuais escolares. São muitos os que se repetem acriticamente, com noções estereotipadas e, por vezes, com erros, tantas vezes denunciados.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">Impõe-se a necessária dignificação dos professores e educadores, num conjunto de acções, envolvendo salários compatíveis com a sua relevância na sociedade, colocações, libertação de todas as tarefas que não sejam as de ensinar e outras, postas em evidência nas suas reivindicações.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">O pessoal não docente representa um conjunto de elementos fundamental no universo do ensino, pelo que é forçoso dar lhes um tratamento, em termos de dignidade e de salários, a condizer.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">É urgente demolir o obsoleto edifício da Educação que temos tido e, em seu lugar, fazer surgir um outro, <b>concebido e levado a cabo, </b></span><b><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">numa profícua colaboração entre governos e oposições, para durar três ou mais legislaturas.</span></b><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"> Desta vez, será necessário </span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">ouvir os bons professores (que os há) e dar início a uma campanha poderosa, com base na verdade e no dever patriótico, que entre na poderosa “máquina ministerial”, melhore o que tiver de ser melhorado e varra o que tiver de ser varrido.</span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #2b00fe;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><a name="_Hlk156711578"><span style="background-attachment: scroll; background-clip: border-box; background-image: none; background-origin: padding-box; background-position: 0% 0%; background-repeat: repeat; background-size: auto; font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #2b00fe;">Termino dizendo que considero os professores, incluindo os educadores, entre os mais importantes pilares da sociedade e, uma vez mais, que é necessário e urgente conferir-lhes o estatuto, a atenção e a dignidade compatível com essa importância.</span></span></a><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">,</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt;">A. M. Galopim de Carvalho<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866667px; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa<o:p></o:p></span></p><b><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br clear="all" style="break-before: page;" /></span></b><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866667px; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> </span></b></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866667px; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Aptos, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-26383732964517419352024-03-23T09:43:00.006+00:002024-03-23T09:43:44.366+00:00 Grande Angular - Vésperas<p><span style="font-family: Calibri, sans-serif; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">A</span>s últimas eleições</b> não trouxeram soluções, nem tranquilidade. Muito menos estabilidade. É quase universal a crença na agitação que se segue, os desequilíbrios parlamentares e sociais, a instabilidade necessária e provavelmente as novas eleições a curto prazo. Polarização política e fragmentação partidária estão nas cartas. A animosidade pública nunca foi tanta. A virulência do argumento político nunca ou raramente esteve tão presente como agora. E note-se que a vontade expressa de todos os partidos de distribuir dinheiros a todos os grupos sociais o mais rapidamente possível não é sinal de força nem de abundância: é sinal de fraqueza e de competição demagógica. Nenhum partido se mostra capaz, por si só, de orientar, dirigir e impulsionar um esforço nacional, assim como de congregar forças rivais. Os principais partidos esperam o desastre dos outros e nada parecem fazer para ultrapassar a instabilidade que se anuncia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O Chega tem sido a surpresa da vida política nacional. E das eleições. Os seus próprios apaniguados devem estar surpreendidos. Como já tanta gente disse, se aparecem e se têm este êxito, é por motivos que devem ser investigados, sentidos e estudados. E sobretudo compreendidos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Se a democracia não consegue detectar as razões pelas quais o Chega aparece e progride, é porque é cega e estúpida. Se a democracia não consegue integrar o Chega na luta política, nas eleições e nas instituições, é porque é sectária e fanática. Se a democracia não consegue eliminar as raízes do Chega, assim como as terras que lhe são férteis, é porque não tem força. Se a democracia não consegue, por actos e gestos, não por palavras, mostrar à população a carga demagógica e ridícula da política da “vassoura e da limpeza” do Chega, é porque é politicamente impotente e culturalmente medíocre.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Em poucas palavras: ou a democracia transforma o Chega ou o Chega transforma a democracia. Nestes cinquenta anos, a democracia portuguesa conseguiu integrar, dissolver e transformar partidos extremistas e radicais, revolucionários ou não. A democracia portuguesa, mesmo vulnerável, mesmo imatura, conseguiu integrar e transformar os seus delatores e os seus subversivos. Também poderá fazê-lo a estes. Se souber mudar, ouvir, ver, sentir e perceber.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">E</span></b>speram-nos grandes combates. Enormes confrontos. Entre partidos. Entre instituições. Entre grupos e classes sociais. Muitos consideram que tal facto é útil e essencial para a democracia. Dizem que só assim as pessoas e as organizações se esclarecem e se definem. Que só dessa maneira toda a gente é chamada a revelar as suas posições. Para uns, trata-se sobretudo de questão moral: cada um deve dizer ao que vem e o que quer. Para outros, a separação das águas é condição de luta e de esclarecimento: só assim, com separação e afrontamento, o bem e a verdade vêm à tona.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O problema é que os grandes combates deveriam ser travados, não uns contra os outros, mas contra a pobreza, a corrupção, a violência e o preconceito. Ora, tanto à esquerda como à direita, há gente que perfilha estas lutas e estes objectivos. E tanto à esquerda como à direita há também preconceito, cobiça e corrupção. Separar todas as esquerdas de todas as direitas é simplesmente declarar a guerra das classes. Sem proveito aparente.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Não se trata, como já há quem o diga, da velha lengalenga que afirma que “já não há esquerda e direita”, o que aliás parece ser um traço específico da direita. Não, não é verdade. Sim, há esquerda e direita. Só que nem uma nem outra têm o monopólio da verdade, da honradez e da liberdade. Nem uma nem outra têm o exclusivo da maldade, da cupidez e do despotismo. Mas há certos momentos, certas fases da evolução histórica, certas situações sociais e políticas que exigem esforço comum, convergência de objectivos e de uns tantos propósitos, sem os quais a deriva política pode levar facilmente a desastres.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Não é verdade que a divisão entre facções, entre partidos e entre instituições seja condição essencial para poder meter ombros aos outros combates, os mais graves e mais urgentes. Na verdade, os combates entre facções já destruíram muitas democracias. Da Alemanha à Rússia, da Itália a Espanha e a Portugal, do Brasil ao Chile, não faltam exemplos de países e democracias que se perderam nas lutas entre facções e onde os resultados nunca foram favoráveis à liberdade, à paz e à honestidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">M</span></b>ais do que nunca, ou quase, Portugal necessita de convergência entre as principais facções. Para evitar cenas como as vistas e ouvidas estas últimas semanas, por exemplo na justiça. Aqui, a guerra entre instituições, entre profissões, entre estatutos e condições, só pode levar a histórias como estas, de verdadeira obscenidade, com acusações definidas e apagadas, com arguidos pronunciados e ilibados, com prescrições anunciadas, com decisões feitas e desfeitas várias vezes. Os protagonistas da justiça têm dificuldade em dar-se conta de si próprios. Sem intervenção política de carácter nacional, de consenso e convergência, pouco ou nada será possível. Sem revisão profunda da política de justiça, da legislação e da organização, pouco ou nada há a esperar da justiça como contributo para a liberdade e a democracia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Tanto quanto a justiça, saúde e educação necessitam de esforço jamais visto. Os dois mundos entraram em colapso e, sem reforma e trabalho colossais, novos desastres estão à vista. Mais ainda, o país parece condenado a uma sucessão de poucos anos de progresso seguidos de muitos de atraso. Ou uma espiral de pequeno melhoramento seguido de longo retrocesso. Um passo em frente, diante da Europa, dois passos atrás, perante a mesma Europa. Esta espécie de triste sina, de fatalidade, não resulta da sorte, é obra dos homens e das mulheres. Das elites e do povo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Polarização e bipolarização! Há muita gente que acarinha estes termos e o que eles anunciam. Esquerda contra a direita! Classe contra classe! Capital contra o trabalho! Trabalho contra o capital! Tocar a rebate pelos combates vitais! Promover a guerra entre classes, entre instituições! Nada disso trará qualquer coisa de boa ao país e à população. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">União nacional? Nem pensar nisso. Nunca deu bom resultado, a não ser, em certos países, em tempo de guerra. Unidade de todos os partidos? Não resulta. Coligação de todas as esquerdas contra coligação de todas as direitas? É uma solução, mas não se afigura especialmente produtiva. Coligação das forças políticas centrais e moderadas? Está nas cartas. Mas há quem não queira ver.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i>Público, 23.3.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-73173671006058273392024-03-18T19:25:00.003+00:002024-03-19T17:32:36.212+00:00Pergunta de algibeira<p style="text-align: center;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1gSetdp5FazeuI2acOy3bCcq24TOe2f-NKtQ5z6ZOWq9Gy8Hu9yIyPegNthpTdZbZdKJaPhQqkIrKETt1_TjVhr5xHIkKmxDkjIn6xJTyJ0t1_rXoB_xstk1hXTDV4IJpiDswxfqCkhZBvLRW5kWQQwfk4clwFZ9NQ16jeVvRyBNsdpGKxFagpg/s1600/PHOTO-2024-03-17-12-43-51.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1391" height="459" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1gSetdp5FazeuI2acOy3bCcq24TOe2f-NKtQ5z6ZOWq9Gy8Hu9yIyPegNthpTdZbZdKJaPhQqkIrKETt1_TjVhr5xHIkKmxDkjIn6xJTyJ0t1_rXoB_xstk1hXTDV4IJpiDswxfqCkhZBvLRW5kWQQwfk4clwFZ9NQ16jeVvRyBNsdpGKxFagpg/w399-h459/PHOTO-2024-03-17-12-43-51.jpg" width="399" /></a></div><div style="text-align: center;">Alguém é capaz de indicar os erros nesta imagem?</div><p></p>Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-51647347613340557672024-03-16T07:44:00.002+00:002024-03-16T07:44:19.372+00:00 Grande Angular - A glória fátua do desastre<p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">A</span>s e</b>leições realizaram-se a 10 de Março. Há uma semana. Os resultados conhecidos trouxeram grandes surpresas. Mas ainda não se sabe realmente quem ganhou. As previsões têm alta probabilidade, mas não são ainda certezas. O apuramento dos votos ainda não acabou. Não se percebe porquê, mas a contagem de votos de emigrantes fica para o fim. Poderia estar pronta desde as vésperas da eleição. Os resultados poderiam ser logo acrescentados aos primeiros dados conhecidos, evitando-se assim esta verdadeira desconsideração pelos eleitores a viver no estrangeiro. Tudo ficaria resolvido. Mas não. Ficam a faltar quatro deputados que podem mudar os resultados! E ficamos quase duas semanas à espera. À espera... Os eleitores não percebem. Mas isso não importa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Ainda não se pode dizer com segurança quem tem mais votos e mais deputados eleitos. Para efeitos de indigitação, não se sabe quem, pessoa e partido, vai ser chamado a formar governo. Assim, o governo não existe, nem se conhecem os futuros ministros. Por direito próprio, o Parlamento deveria reunir no dia seguinte à sua eleição. Apesar disso, entre nós, essa inauguração fica dependente de factores burocráticos e políticos pouco recomendáveis. Logo, o Parlamento ainda não reuniu, o que só poderá acontecer lá para 25 deste mês, pelo menos duas semanas depois das eleições. Não se conhecem ainda todos os deputados eleitos. Por isso, o Primeiro-ministro e os seus ministros ainda não tomaram posse. Pelo que não há programa de governo. Muito menos aprovação ou rejeição de uma moção de confiança ou de censura. O que quer dizer que não há sequer ideias sobre a possibilidade de se preparar orçamento novo ou rectificativo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Sendo verdade tudo o que precede, não deixa de impressionar aquilo de que é capaz a imaginação dos políticos portugueses! Imaginação e espírito quezilento. Assim como egocentrismo impertinente e soberba partidocrática. Já vários partidos anunciaram que, sem conhecer governo, votariam moções de rejeição, não se sabe de quê, nem de quem. Outros garantiram que votariam contra o programa de governo e o orçamento que não conhecem pela simples razão de que não existem. Não se dão sequer ao trabalho de afirmar candidamente que “vão ler” ou “vão ouvir” … Não! Já sabem que não votam, nem querem.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O PCP vota contra. Ponto. O Bloco vota contra. Ponto. O PS faz oposição e vota contra. Ponto. O PSD diz que “não é não” e já anunciou há muito que não fala com o Chega, nem quer bloco central. O Chega diz que, se não for previamente consultado, vota contra. Convém repetir, pois parece inacreditável. Já há quem vote contra uma moção de censura, que não está escrita, que não se sabe se haverá, cujo autor se desconhece e cujo teor é um mistério. Não se sabe qual é o governo, nem qual é o seu programa, muito menos em que condições é formado, mas já se sabe que há quem vote contra. Parece que a força da oposição, das oposições, reside nesta maravilhosa frase digna de banda desenhada: “Não sei o que é, mas sou contra!”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O PSD deixou-se enrolar naquela que foi a maior vitória dos Socialistas, que perderam a eleição, mas ganharam o combate. Com a ajuda dos mais pequenos e o contributo de umas pessoas avulso, conseguiram demover o PSD e obrigá-lo a afirmar, antes das eleições, que não fariam alianças nem governos com o Chega. Daí o famoso “não é não!”, autêntica corda para o suicídio. Pagou assim uma apólice de seguro de vida aos socialistas. E reforçou o papel do Chega na oposição, coisa que interessa de novo aos socialistas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">De toda a maneira, isto tudo, que passa por ser o mais importante e é o mais falado, é próprio da coreografia do governo, da política e dos partidos, sempre mais interessados no adjectivo do que no conteúdo. Sempre mais preocupados com os processos do que com os objectivos. Sempre mais atentos às suas contas de “ganhos e perdas”, do que à realidade social e económica e à substância dos serviços públicos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">E</span></b>stranho país este, esquisito sistema partidário este, em que os grandes partidos, de quem tudo depende, se revelam medrosos e covardes, enquanto os pequenos partidos, atrevidos como não se imagina, de quem nada depende, com menos de meia dúzia de deputados, ousam dar a entender que tudo depende deles, que “não estão dispostos para isto”, que “estão disponíveis para aquilo”, e que “não contem com eles para aqueloutro”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Não conseguimos afastar esta sensação de que a classe política portuguesa não está à altura de resolver os problemas que cria. Uns, especialistas em minas e armadilhas, entregam-se à intriga com facilidade. Outros ainda, pretensos conhecedores da alma humana, dedicam-se aos adjectivos e aos processos da política, como se os meios fossem mais importantes do que os fins.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">É lamentável ter de o dizer, mas há quem queira sempre o pior. São condenáveis as generalizações, mas somos obrigados a verificar que quase todos estão interessados no desastre, na impossibilidade de governo, na dificuldade da coligação, na impotência de qualquer solução, no adiamento de qualquer acção e na realização de novas eleições. O Chega quer subir ainda mais. O PSD julga poder assegurar uma maioria. O PS quer ter uma segunda oportunidade. Os pequenos partidos, à beira da evaporação, procuram uma saída. Todos convencidos de que, assim, liquidam o Chega e vão buscar os seus despojos. O que o país pode sofrer, durante os próximos meses, até anos, na economia, na sociedade, na política e na cultura, parece ser totalmente indiferente. O que importa é o casino da política e o puzzle das teorias.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Há duas hipóteses. Uma, a aliança da direita, entre PSD, CDS e Chega. Outra, dita de bloco central, entre o PSD e o PS. Quase ninguém quer uma. Quase ninguém quer outra. Acordos sólidos, mesmo se sectoriais ou parcelares, mas com palavra dada e documento escrito, conhecidos pelos eleitores e atraentes para os parceiros sociais? Também quase ninguém quer. Outras maneiras de participar, dialogar e colaborar, com ou sem participação no governo? Ninguém quer nem está para isso. O que terá dado a estes partidos, a esta classe política e a estes políticos para sacrificarem o seu país a interesses menores e a vaidades maiores? Querem a terra queimada e chamar-lhe paz e progresso…<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><i>Público, 16.3.2024</i><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-36084312055667079112024-03-15T14:37:00.001+00:002024-03-15T14:37:39.718+00:00«Como Bola Colorida. A Terra, Património da Humanidade» 2ª edição actualizada, com prefácio do Prof. Carlos Fiolhais<p><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #2b00fe;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKkPDf_82PqF7xmqFcqaA1JUOVLq-N7iWiR4fBsyJmKvSZG_za7rF7b29Ck2MOr3m1wjxK6XEl4d_aY48wnQ2Ou_24cYPhtTiA1E5Xe9Az8yjZiAOcRgRqxj4MLQMgljksD5WTcmqANqEgRbiTWnh0RqMDKwUZl5nusveB1tljYbsae28GK5mv6g/s2717/Capa_comobolacolorida_13demarco2024.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2717" data-original-width="1772" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKkPDf_82PqF7xmqFcqaA1JUOVLq-N7iWiR4fBsyJmKvSZG_za7rF7b29Ck2MOr3m1wjxK6XEl4d_aY48wnQ2Ou_24cYPhtTiA1E5Xe9Az8yjZiAOcRgRqxj4MLQMgljksD5WTcmqANqEgRbiTWnh0RqMDKwUZl5nusveB1tljYbsae28GK5mv6g/s320/Capa_comobolacolorida_13demarco2024.jpg" width="209" /></a></span></div><span style="color: #2b00fe;"><br /><span style="font-family: arial;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><b>Merecia, há muito, </b>uma reedição este livro, <i>Como Bola Colorida. A Terra, Património da Humanidade,</i> da autoria do Professor Galopim de Carvalho, publicado pela primeira vez na Âncora Editora em 2007. De facto, a expressão “há muito” não será a mais apropriada do ponto de vista de um geólogo, já que este lida com intervalos temporais de milhões de anos. Do ponto de vista da história da Terra, a edição e a reedição deste livro sobre as Ciências da Terra são praticamente simultâneas. Seja como for, a necessidade de reeditar esta obra diz bem do interesse que ela merecidamente continua a suscitar no público. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">A expressão <i>Coma Bola Colorida,</i> uma citação de um famoso verso do poema “Pedra Filosofal” de António Gedeão, pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho, o professor de Ciências Físico-Químicas que é o patrono da cultura científica em Portugal, refere-se ao nosso planeta, que tem belas cores: decerto o azul do mar e o verde da vida, mas também as cores das rochas, que podem ir dos tons claros do quartzo aos escuros do basalto, passando pelos cinzentos e rosa dos granitos e pelos tons vermelhos da algumas argilas (pois as há multicolores!). Mas uma criança que quisesse agarrar no nosso planeta teria de ter um tamanho gigantesco. Basta pensar que a bola onde vivemos tem cerca de 6400 quilómetros de raio, ao passo que uma bola de futebol adequada a uma criança terá cerca de 20 centímetros de raio. Um rapaz ou uma rapariga poderão ter entre um metro e um metro e meio. Feitas as devidas proporções, a altura da criança teria de ser à volta de 40 mil quilómetros, o que, parecendo muito, não é nada à escala do Sistema Solar: é um décimo da distância entre a Terra e a Lua.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Uma metáfora impressionar-nos-á tanto mais quanto mais fora da realidade estiver. E é indiscutivelmente uma bela metáfora aquela que Galopim de Carvalho escolheu, em 2006, para título do seu livro, publicado quando se comemoravam os cem anos do nascimento de Rómulo de Carvalho. A nossa “bola colorida” já deu 17 voltas ao Sol deste então. Estamos todos mais velhos. Mas na Terra não se nota muito. Só não está na mesma devido às modificações que lhe fizemos, das quais a mais grave será o aumento desmesurado dos gases de efeito de estufa, como o dióxido de carbono, na atmosfera. Mas, para quem tem 4,54 mil milhões de anos de idade, como é o caso do nosso astro, 17 anos não são nada, absolutamente nada. O livro mantém-se novo, tendo a revisão sido menor: naquilo que está bem não se deve mexer. Em particular, o prefácio de José Mariano Gago tem plena actualidade, pelo que se mantém rigorosamente na íntegra. Ao relê-lo, senti saudades do seu autor: faz-nos falta aqui neste nosso quinhão do planeta para avivar a luz da ciência. Foi ele que instituiu, em 1996, o Dia Nacional da Cultura Científica, precisamente no dia de aniversário de Rómulo de Carvalho, para prestar justa homenagem aquele que, além de professor e poeta, foi também um grande divulgador de ciência.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">O geólogo Galopim de Carvalho, a quem um dia chamei “Mestre das Pedras e das Palavras” por ser tão exímio com as primeiras como com as segundas, é, na esteira de Rómulo, um grande divulgador de ciência. Com uma vivacidade que tem resistido ao passar dos anos (para ele os anos que sejam abaixo de um milhão não são relevantes!), tem-nos dado o melhor do seu saber e talento quando nos descreve a incrível variedade da Terra e nos conta o longuíssimo processo histórico que moldou o nosso lugar no espaço. Neste livro, que acresce a mais de três dezenas de outros seus títulos, Galopim traz-nos, num português de lei, uma síntese dos resultados mais importantes das Ciências da Terra: a estrutura, a dinâmica, a pluralidade de paisagens do nosso planeta, incluindo as pródigas marcas da vida que é quase tão antiga como ele. Galopim de Carvalho usa um recurso que Rómulo de Carvalho (por coincidência, partilham o mesmo apelido!) também usava desenvoltamente e que devia ser mais comum na divulgação da ciência entre nós: recorre à história da ciência. Mostra assim que a ciência é uma conquista humana, um conjunto de conhecimentos que foram duramente extraídos da Natureza pelos cérebros e mãos de diligentes seres humanos ao longo do tempo, uns na peugada dos outros, num empreendimento contínuo e a continuar. Mais importante que os conhecimentos, são os métodos para os obter. Sim, é contada em traços gerais a história da Terra, mas é também contada a história da tomada de consciência da historicidade geológica, que é muito recente. Com efeito, foi só no século XIX que os geólogos se aperceberam da enormidade da nossa história planetária, ultrapassando antigos preconceitos, alguns de raiz bíblica. Os geólogos que olharam para as modificações lentas e graduais da Terra foram-lhe dando uma idade aproximada que nada tinha a ver com as mitologias e que excedia mesmo largamente a que era estimada por físicos e químicos com base em considerações termodinâmicas. E era mais fiel a sua cronologia, justificada pela acumulação de observações de lagos e oceanos, vales e montanhas, estratos e fósseis, etc. do que a dos seus colegas físico-químicos, fundada em modelos matemáticos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Ao Terra tem sido palco de um rol de acontecimentos, não raro surpreendentes: arrefecimento a partir de uma massa ígnea inicial, impacto com outro astro para originar a Lua, quedas de meteoroides, formação dos oceanos, surgimento dos primeiros organismos, início da fotossíntese e oxigenação da atmosfera, proliferação da vida com a «invenção» do sexo, extinções maciças por razões em parte misteriosas, movimentos de placas tectónicas e outros, sismos e vulcões, idades do gelo, e, nos nossos tempos, as transformações de responsabilidade humana que alguns julgam merecer um novo período geológico: o Antropoceno. Se hoje sabemos algumas coisas sobre estes fenómenos foi graças aos esforços de homens e mulheres cujos nomes vêm referidos neste livro. Mestre Galopim é o nosso guia nessa viagem nas páginas que se seguem, destacando naturalmente os sítios e eventos em Portugal, onde está ou de onde vem a maioria dos seus leitores. Ele preocupa-se com a fácil compreensão por parte de quem lê, nunca subestimando a inteligência dos leitores, uma regra básica na divulgação científica. Por exemplo, tem o cuidado de nos explicar, recorrendo a grãos de arroz e a badaladas de sinos, o que significa um milhão de anos, que afinal é uma «migalha» na história da Terra. Para nos acicatar a imaginação, fala de um bolo de aniversário para a Terra com 4540 milhões de velas. São, indiscutivelmente, muitas velas! Quando os dinossauros desapareceram, o bolo «só» tinha 4474 milhões de velas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Se com José Mariano Gago a ciência entrou nas nossas casas, é preciso que ela entre mais e que fique bem instalada. Galopim de Carvalho é um exemplo inspirador de como é possível, com vista a tal desiderato, fazer bem-sucedida divulgação de ciência, num país em que largos sectores são avessos à ciência. São utilíssimos livros como este que descrevem em linguagem simples o chão que pisamos, o seu início e as suas metamorfoses, as suas riquezas e misérias, os seus encantos e mistérios. Em meu nome e – seja-me permitido – em nome de todos os leitores expresso-lhe a minha, a nossa, gratidão, por tudo o que temos aprendido dele e com ele. Sei que a vida humana é um lampejo em comparação com o tempo da Terra, mas desejo que, no seu caso, esse lampejo se prolongue, prosseguindo a iluminação que tem espalhado. Desejo que o «Mestre das Pedras e das Palavras» continue a ajudar-nos a compreender o nosso planeta não só com a sua grande sabedoria, mas também com a sua enorme jovialidade e a sua extraordinária simpatia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;">Coimbra, 15 de Dezembro de 2023<u><o:p></o:p></u></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-58670150409505687092024-03-02T10:13:00.003+00:002024-03-02T10:13:30.709+00:00 Grande Angular - O fim dos partidos políticos<p><span style="font-family: Calibri, sans-serif; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span> fenómeno</b> não é novo. Mas é mais real do que nunca. Esta eleição veio acelerar o desaparecimento dos partidos políticos. Pelo menos, tal como os conhecemos durante décadas. A campanha está sobretudo concebida para a televisão e “as redes”. O que quer dizer preparada para as aparições dos chefes à saída dos restaurantes, as visitas dos chefes a hospitais e ao repouso dos chefes. Tudo está pensado para que os momentos importantes sejam os debates e as entrevistas de televisão dos chefes. Até os programas da manhã, que não era possível imaginá-los com política à mistura, são agora feitos de modo a que os chefes apareçam e por ali espalhem os seus talentos privados e as suas sofisticadas modéstias.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Na verdade, não estamos perante uma competição entre partidos, muito menos uma apresentação de alternativas. Estamos, isso sim, diante de um combate de chefes. E de uma passagem de modelos. Se a eleição fosse a do Presidente da República, ainda vá. Mas não é. Não se trata de cargo pessoal. Só combate de chefes. Mesmo os que elogiam o colectivo, deixam-se arrastar pelas vaidades dos duelos. Mesmo o Bloco e o PCP, tão palavrosamente elogiosos do trabalho de equipa, acabaram por tudo fazer girar à volta do chefe.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">São cada vez mais fortes os indicadores das novas tendências, as que substituem o papel dos partidos pela função dos líderes. Poderá dizer-se que não se trata de fenómeno novo. Mas novo é o facto de tal se fazer à custa da dissolução sistemática das estruturas dos partidos. Os organismos partidários são meros instrumentos do Chefe. É visível e deplorável o apagamento de estruturas partidárias. A doutrina comum, a natureza de classe, as inclinações religiosas, as tradições comunitárias e as opções doutrinárias desaparecem, deixando lugar às mais banais proclamações adjectivas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Movimentos novos e partidos tradicionais agem no mesmo sentido, no da destruição do partido como organização política autónoma e reconhecida. Pelo que não percebem das mudanças do eleitorado. Pelos erros que cometem. Por esta espécie de autismo em que os partidos vivem, na certeza de que tudo o que está mal é da culpa dos outros, da extrema-direita, dos esquerdistas, dos imigrantes, da juventude sem credo e do povo sem crença!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">S</span></b>em partidos políticos, não há democracia. É, para muitos, um princípio indiscutível. Mas não é possível deixar de pensar em todas as outras possibilidades. O que é a democracia sem partidos políticos, ninguém sabe. Mas…. Há quem pense que é possível organizar a vida política das comunidades com outras instituições e de outras formas. Teoricamente, a democracia pode ser melhor sem partidos. Com menos “rackets” organizados para capturar o Estado e as autarquias. Mas também pode ser pior, com movimentos ditos “inorgânicos” e efémeros, sem identidade histórica nem programa, sem doutrina nem valores de referência, quase só energia e protesto. E vontade despótica.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Os partidos políticos podem ser fonte de racionalidade, tal como os “movimentos” são factores de irracionalidade. Os novos movimentos, associações e grupos efémeros, dependem de racionalidades ou interesses externos, ligados a uma pessoa, herói ou demagogo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Há vários exemplos em Portugal. É uma realidade em crescimento. Chega, PAN, ADN, Bloco de esquerda, Nova Direita e outros pertencem a esta nova variedade. Os dois grandes partidos, PS e PSD, resistem, mas já exibem as suas fraquezas. O mais antigo, PCP, está em vias de desaparecimento, como em quase todo o mundo. O CDS já despareceu. É possível que a democracia portuguesa seja dominada, nas próximas décadas, por figuras efémeras, agentes de interesses, mafias internacionais…<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">As presentes eleições e respectiva campanha são as mais certeiras demonstrações deste caminho para a destruição dos partidos como centros de racionalidade. Uns desapareceram. Outros nasceram, mas já não são partidos políticos no sentido conhecido. Os que melhor resistem são agora obrigados a compor com movimentos, com iniciativas sem história e talvez sem futuro. Mas que são o que é hoje a política. Os que se mantêm como partidos deixaram de perceber os cidadãos. E deixaram de ter que lhes dizer. Não recebem inspiração, nem lhes dão valores, só subsídios e pensões. O tema não é evidentemente português. O mesmo acontece em vários países, na Itália e em França, ou na Europa central e oriental. Muitos são os partidos socialistas, social-democratas, democrata-cristãos, comunistas e radicais que já desapareceram.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Curiosamente, os partidos tinham mais existência, como organizações e estruturas associativas, quando tinham líderes fortes e notáveis (Soares, Sá Carneiro, Cunhal…), do que agora que parece terem dirigentes iguais aos militantes. Em certo sentido, parece poder dizer-se que os chefes muito fortes eram traços de continuidade ou faróis de reconhecimento. Os seus partidos podiam perder ou ganhar, mas eles mantinham-se por períodos razoáveis (talvez de mais, quem sabe?) e os programas duravam com eles. Hoje, líder derrotado é líder morto. Chefe que não vence vai para a rua. Líder que vence, fica e manda.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Chefes fortes de partidos fracos são más receitas para a democracia. São partidos com poucas relações com as instituições, as associações profissionais, os sindicatos, as empresas, as religiões, as universidades e outras, que reforçam as democracias e as liberdades. Chefes fortes querem dar voz ao descontentamento, ao protesto e às pulsões naturais das pessoas em dificuldade. São partidos instantâneos e fracos que não existem sem os seus líderes de momento.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">De modo crescente, as campanhas eleitorais têm sido viveiros de líderes fortes de partidos fracos, o que é confirmado pelas dezenas de comentadores, jornalistas, analistas e académicos que ocupam os canais de televisão. Já ninguém quer saber da espessura política e da vivacidade doutrinária de um partido. A ideia é simples: a mensagem passa se o líder passa. O líder passa se tudo depende dele, se só ele tem voz e se os militantes se limitam às árias do coro ou às funções do papagaio. Aliás, os debates, as entrevistas e os comentários giram cada vez mais à volta das questões adjectivas. Com quem se alia? Quem rejeita? Quem exclui? De quem quer apoio? E se perder muito? E se ganhar pouco?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Convém não esquecer: os partidos fracos tornam fracos os fortes líderes.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i>Público, 2.3.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-28772525550422470672024-02-26T12:26:00.004+00:002024-02-27T12:43:15.908+00:00 MERCANTILIZAÇÃO DA MEDICINA (crónica de uma experiência pessoal)<p><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><b style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Como portador </b><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white;">de doença coronária, vulgo angina de peito, de há uma vintena anos a esta parte, venho beneficiando do muito bom acompanhamento, por parte de cardiologistas competentes que regularmente (mais ou menos 6 em 6 meses) me têm acompanhado, prescrevendo os exames que se aconselham e a medicação adequada.</span><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span face="Arial, sans-serif" style="background: repeat white;">O último destes profissionais é uma jovem médica de um hospital privado (a ADSE, permite-me fazê-lo em condições de preço bastante acessíveis) que tem continuado esta rotina, ao estilo e ao ritmo próprios da mercantilização do acto médico que é, em teoria, reprovada pelo Código de Ética Médica, mas que, na prática, é a que existe nos hospitais privados, com administrações e accionistas naturalmente interessados no lucro. Em menos de meia hora esta doutora, delicadamente, mas quase sem falar comigo, cumpre, e bem, diga-se, as suas obrigações contratuais com a entidade que lhe paga o salário. Observa os exames que me prescreveu na consulta anterior, sempre calada, de olhos fixos no monitor e mãos a dedilharem no teclado. Ausculta-me com o estetoscópio, mede-me a tenção arterial e só me diz os valores se eu lhos perguntar. Uma vez mais, calada, dedilhando no teclado, prescreve os exames a fazer e a medicamentação habitual. Posto isto, levanta-se e, com um sorriso distante, estende-me a mão e abre-me a porta do consultório. E … até daqui a seis meses. O sistema funciona, mas, tristemente desumanizado, afastado de valores essenciais à vida em sociedade, como o afecto ou o carinho, tão apreciados nestas ocasiões.</span><span face="Arial, sans-serif" style="background: repeat white;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><span face="Arial, sans-serif" style="background: repeat white;">À semelhança de muitos dos seus colegas, quando se me dirige, ela, uma jovem e eu um velho com mais de 90 anos, trata-me por você. Fui educado a não cometer essa deselegância, face e um desconhecido, sobretudo, se esse desconhecido for pessoa mais velha. Não aprecio ser tratado assim por pessoas de estatuto social elevado, como são, por exemplo, os juízes e os médicos, no exercício das respectivas funções, sobretudo, quando mais novos do que eu. Aceito-o perfeitamente se o você vier da boca de pessoa de mais baixo estatuto sociocultural, como, por exemplo, o caixeiro da drogaria, o amola tesouras que passa na rua ou a senhora da limpeza. </span><span face="Arial, sans-serif" style="background: repeat white;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif"><span style="color: #2b00fe;">O doente é, via de regra, uma pessoa diminuída física e emocionalmente. Precisa que lhe cuidem do corpo e, quanto a isso, não há nada a dizer, mas também precisa (tantas vezes muito) de amparo e conforto psicológico. Salvo as pouquíssimas excepções, que sempre as há, os médicos e as médicas que me têm assistido, trataram-me e tratam-me, não como uma pessoa inteira, de corpo e alma, a necessitar de ajuda, mas sim e apenas como um corpo material, a pedir tratamento. Executam, e muito bem, essa a parte que lhes diz respeito, como bons profissionais, tal como um bom mecânico automóvel executa o seu trabalho na sua oficina. Pouco ou nada lhes interesso como pessoa. Não estabelecem qualquer diálogo de aproximação comigo, um seu doente. Agem como robots guiados por inteligência artificial. Não têm tempo ou disponibilidade para mais. Para eles sou, apenas, mais um “senhor António”.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif"><span style="color: #2b00fe;">Por uma questão de segurança para, em caso de necessidade, a poder contactar, pedi a esta minha cardiologista, logo na primeira consulta, o número do seu telefone, mas ela não me o facultou. Delicadamente, preferiu dar-me o seu e-mail. Acontece que, em começos de dezembro, último, comecei a sentir-me particularmente cansado. O próximo exame (ecocardiograma Doppler) e a subsequente consulta só estavam agendadas para meados de janeiro. Não podendo contactá-la, a pedir orientação, recorri à urgência do hospital, no dia 9 de dezembro, do que resultou a necessidade de antecipar os ditos exames e consulta. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif"><span style="color: #2b00fe;">Em resultado, foi-me diagnosticado uma estenose aórtica grave e o subsequente encaminhamento urgente para o cirurgião cardiovascular. Foi assim que a 5 de janeiro recebi a implantação percutânea de uma válvula artificial, em substituição da minha, que estava já demasiado fechada. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif"><span style="color: #2b00fe;">Seguiram-se 24 horas em cuidados intensivos, mais três infindáveis dias e noites de internamento. Aqui, como no consultório, nada falta ao tratamento do corpo, mas tudo falta ao conforto da alma. Médicos, apareceu-me um, muito fugazmente, ao fim da tarde do segundo dia de internamento, sem tempo para conversar, e o que me operou, ao fim do último dia, apenas para me entregar o documento da alta. Não tive, sequer, visita da minha cardiologista (a trabalhar no mesmo hospital) a que me encaminhou, e bem, para esta cirurgia que me permitiu voltar à vida.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif"><span style="color: #2b00fe;">A versão de 2017, do juramento médico, creio que, actualmente usada em Portugal, diz, num dos seus preceitos: «a saúde e o bem-estar do meu doente serão as minhas primeiras preocupações”»… </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif"><span style="color: #2b00fe;">.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif">No "Público" <i>online</i> de 24 Fev 24</span></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-653237372335726702024-02-24T10:00:00.003+00:002024-02-24T11:58:17.623+00:00 Grande Angular - Perderam os dois. E nós também<p style="text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="color: #2b00fe; font-family: arial;">Por António Barreto</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span></b> <b>combate dos Chefes</b> terminou com uma certeza: a de que perderam os dois. Basta, aliás, o facto de todos os simpatizantes (políticos, comentadores, analistas e jornalistas) de um dos dois terem apoiado e garantido a vitória do seu preferido, enquanto todos os simpatizantes (políticos, comentadores, analistas e jornalistas) do outro terem afirmado que o seu dilecto era o vencedor, basta esta pequena observação para concluir que ambos perderam. É visível e de lamentar: com raríssimas excepções, os autores dos comentários e das análises das duas ou três dezenas de debates eram aficionados. Conclusão: quem designa o “vencedor” é quem escolhe os comentadores.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Vivemos tempos estranhos! O tema mais disputado, o segredo mais bem guardado, a questão bélica mais utilizada, a <i>vexata quaestio</i> mais atraente, a grande força dos contendores e a grande vulnerabilidade dos mesmos traduz-se nas mais absurdas perguntas que se fazem um ao outro e que todos lhes fazem: se perder, o que vai fazer? Se sair derrotado das eleições, quem vai apoiar? Se ficar em segundo lugar, promete apoiar quem fica em primeiro? As perguntas mais frequentes fazem sorrir qualquer pessoa. Em vez de perguntar “o que faz se ganhar?”, pergunta-se “o que faz se perder?”. Realmente importante é o vencedor do debate, não o vencedor das eleições.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Esperava-se, em território conhecido, que todos estivessem interessados no que o vencedor vai fazer. Por exemplo, se vencer as eleições, como vai agir para salvar o SNS? Mantém uma política dita de “contas certas”? Que garante fazer com os professores, os médicos, os enfermeiros, os oficiais de justiça, os polícias e os militares? Como pensa o seu partido melhorar a situação dos agricultores? Não vale a pena esperar: não, nada, nunca! O que interessa é saber o que vai fazer o outro, se apoia o vencedor caso perca as eleições!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Também há muita gente interessada em perguntas difíceis, mas que, por o serem, seriam justamente as adequadas para uma disputa eleitoral. Como pensa que o nosso país será afectado pelos conflitos em curso, no Próximo Oriente, na Ucrânia, em vários pontos de África e no Extremo Oriente? Qual deve ser a política do Estado português relativamente a esses conflitos? Como se deve preparar Portugal para eventuais alterações da ordem internacional e da NATO em especial? Pode-se esperar sentado pelas respostas: não, nada, nunca! Importante é saber se, sem maioria, apoia os governos dos adversários.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">As grandes questões de Estado que importa tratar e resolver, como sejam a revisão constitucional, os poderes dos órgãos de soberania, o sistema eleitoral, a organização da Justiça e o conceito estratégico nacional serão também devidamente ocultadas. Que pensam os chefes dos principais partidos? Zero! Não se sabe. Não dizem. Não querem ouvir falar. Estão ocupados com questões mais importantes e decisivas para o país e a população, tais como as de saber o que vai fazer um se perder e se vota o orçamento do outro!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">A defesa e a segurança, sempre vitais, mas agora, de modo brutal, essenciais, estão ausentes de tal modo que se fica mesmo com a impressão de que não sabem o que pensar nem imaginam o que devem fazer. A organização das Forças Armadas, actualmente com falta de pessoal e de envolvimento da comunidade, sem equipamento à altura, nem capacidade para cumprir as suas missões, está fora das cabeças dos candidatos. Não explicam. Não sabem. Não prometem. Não se comprometem. Mas têm urgência em saber o que fará o outro se perder e sobretudo no caso de perderem os dois.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Nas questões internas, para além da habitual distribuição de subsídios e descontos, há matéria urgente. Por exemplo, a política de imigração e o controlo das populações a viver ilegalmente. Ou ainda, os prazos da justiça e o desempenho dos tribunais cada vez mais deficiente. Ou, finalmente, o aumento de criminalidade e da corrupção. Quais são os planos dos candidatos? Estão preparados para os debater diante de nós? Sentem-se capazes de assumir compromissos que não sejam as eternas frases de calendário? Não parece ser o caso. Nada disso é importante. Decisivo é saber se o que perde as eleições vai votar o programa do outro. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Fazem campanha eleitoral não para tornar público o que pensam, mas sim para agradar quem os ouve, dar a impressão de que farão o que se lhes diz, acatar quem lhes fala e dar tudo o que pedem. Os candidatos refugiam-se no novo conceito de proximidade para nada dizer e tudo prometer. E com um único propósito: incomodar o adversário, encostar o outro à parede e vencer, como se fosse luta livre.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">É impressionante a sensação de receio que os Chefes transmitem! Ambos receiam perder e não serem capazes de fazer governo ou de ficarem nas mãos dos pequenos aliados. Deviam estar preocupados com a sua ambicionada maioria e com o que fazer nesse caso, mas não, estão angustiados com a sua minoria e a do outro. Parece até que nunca aconteceu em Portugal. Na verdade, maiorias de coligação ou aliança não previstas antes das eleições, não anunciadas durante a campanha e improvisadas depois, houve pelo menos três: a de Mário Soares com o CDS de Freitas do Amaral e Amaro da Costa, a de Mário Soares com o PSD de Mota Pinto (o famoso Bloco Central…) e a de António Costa com o PCP e o Bloco. Boas ou más, não estavam previstas, resultaram da necessidade. Boas ou más traduziram o sentido de responsabilidade de um ou mais partidos. Assim como foram o reflexo da vontade de poder e da ambição. Tudo dentro das regras democráticas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Hoje, parece pecado não admitir logo à cabeça que pode perder as eleições ou não dizer com quem fará coligações. Mesmo sem conhecer os resultados das eleições. Mesmo sem saber com que aliados se pode contar. Mesmo sem saber o que o eleitorado quer! Exige-se dos candidatos que digam, desde já, se votam moções de censura (sem ver o texto e sem conhecer as circunstâncias), se viabilizam orçamentos (sem conhecer o conteúdo e sem debater as opções) e se apoiam governos sem ver a exacta composição, sem conhecer o programa e sem avaliar as respectivas opções. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Portugal tem contribuído galhardamente para a transformação do debate político em luta livre sem conteúdo político. Só com adjectivos e sem discussão relevante. Elevação e respeito pelo eleitorado são géneros raros na caixa de ferramentas dos candidatos. É só minas e armadilhas.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: center;"><i>Público, 24.2.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-15486347919663851732024-02-23T10:51:00.002+00:002024-02-23T10:51:27.017+00:00No "Correio de Lagos" de Jan 24<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVblraRJ_-pnMOOpPkc6-t_tTUgY_ESbN7V1Vlw_A8vjmszQL00RMeIzudxO4fKfjC_6MZ2oPl_Y_u8h3rgyrzaeKVwh-lT3Gd2EVSSaMqIQ9xJnF1-_UYElKbgQz62Oxj_gOGtmx4JgBR-g__7smPF36Jk_emLjhYAAynWk4JWa1BL78sif2tLQ/s693/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-02-23,%20a%CC%80s%2010.49.34.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="693" data-original-width="535" height="453" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVblraRJ_-pnMOOpPkc6-t_tTUgY_ESbN7V1Vlw_A8vjmszQL00RMeIzudxO4fKfjC_6MZ2oPl_Y_u8h3rgyrzaeKVwh-lT3Gd2EVSSaMqIQ9xJnF1-_UYElKbgQz62Oxj_gOGtmx4JgBR-g__7smPF36Jk_emLjhYAAynWk4JWa1BL78sif2tLQ/w350-h453/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-02-23,%20a%CC%80s%2010.49.34.png" width="350" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div> <p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-40583161090670831482024-02-19T12:14:00.003+00:002024-02-21T09:28:27.014+00:00 ABRAHAM GOTTLOB WERNER (1749-1817)<p><span style="color: #2b00fe; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt; text-align: justify;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt; text-align: justify;">À atenção dos professores de Geologia</span><span style="font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt; text-align: justify;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"><b>Geólogo e mineralogista alemão,</b> autor de uma estratigrafia geral, à escala do planeta, e de uma teoria que fez história e ficou conhecida por Neptunismo. Foi professor ilustre da Academia de Minas de Freiberga, na Saxónia, de enorme prestígio na Europa do seu tempo, e director do <i>Geognostische Landesuntersuchung Sachsens.</i> (Serviço de Investigação Geológica e Mineira) deste estado germânico.</span><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Segundo a sua concepção neptunista, todas as rochas, excepto as lavas solidificadas dos vulcões activos, eram tidas como materiais depositados e petrificados no fundo do que designou por Oceano Primordial que, segundo ele, outrora cobrira toda a Terra, incluindo os cimos montanhosos. Explicava que águas profundas e turvas haviam contido, em solução ou em suspensão, todos os materiais que formam as rochas da crosta terrestre. Granitos, basaltos, pórfiros, gnaisses, calcários, xistos e muitas outras rochas eram aceites como precipitados marinhos. Grauvaques e arenitos eram vistos como o resultado de decantações terrígenas. Dizia, ainda que, quando as águas baixaram, as rochas, assim formadas e seriadas segundo uma sequência estabelecida, emergiram, ficando integradas na paisagem actual, com todo o relevo que a caracteriza.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Deve lembrar-se que a teoria neptunista surgiu na sequência de séculos de crença no Dilúvio, tal como está descrito no Velho Testamento e, até então, ensinado pela Igreja Católica. Para os diluvianistas todos os acontecimentos geológicos estavam descritos nos Textos Sagrados, grande parte dos quais relacionados com catástrofes, única maneira de explicar tão grandes transformações nos reduzidíssimos cerca de 6000 anos atribuídos pelos clérigos à idade da Terra e do homem. A história do planeta contida na teoria werneriana não colidia com as Sagradas Escrituras. Antes, sim, as explicitava numa linguagem tida por científica. O neptunismo vinha em apoio da Bíblia, pois tranquilizava a Igreja que trazia a geologia sob apertada vigilância. Nesta óptica, foram muitos os religiosos que se interessaram por esta ciência em crescimento, cuja aceitação radicou ainda no prestígio do seu autor, considerado um dos grandes mestres da Europa do século XVIII.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Apoiando-se, em grande parte, nas investigações dos seus conterrâneos Georg Christian Füchsel e Johan Gottlieb Lehmann levadas a efeito nas montanhas do Hartz, Werner desenvolveu uma ideia de sequência estratigráfica formulada num contexto regional e propôs uma estratigrafia à escala do planeta, numa concepção teórica, à luz do saber de então, que fez época e escola.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Em 1787, Werner publicou, na cidade de Dresden, uma pequena brochura intitulada <i>“Kurze Klassifikationen und Beschreibung der verschiedenen Gebirgsarten”</i>, na qual descreveu, das mais antigas para as mais recentes, a sucessão por ele estabelecida, composta por cinco grandes unidades ou Gebirge (um antigo termo mineiro):<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">1 — <i>Urgebirge</i> - unidade primitiva ou de terrenos primários, formada por rochas então entendidas como precipitados marinhos, em especial granitos, pórfiros, gnaisses, xistos e outras rochas que hoje sabemos serem ígneas, umas, e metamórficas, outras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">2 — <i>Übergangsgebirge</i> - unidade de transição, depositada logo que o nível do mar começou a baixar (não explica para onde foram as águas). Os correspondentes depósitos passaram a um misto de precipitados químicos e de deposição detrítica terrígena, com escassos fósseis. Esta unidade é composta pelos terrenos que actualmente atribuímos ao Paleozóico superior, com grauvaques, calcários e diabases;<br /><br />3 — <i>Flötzgebirge</i> - representada por terrenos estratificados do Pérmico, Triásico, Jurássico, Cretácico e Terciário, incluindo calcários, arenitos, lignitos e basaltos antigos. A inclinação dos estratos era vista como uma adaptação dos depósitos ao relevo original submerso e, logo que as águas ficassem mais tranquilas, os estratos tendiam para a horizontalidade.<br /><br />4 — <i>Aufgeschwemmte Gebirge</i> - unidade formada por depósitos aluviais não consolidados (cascalheiras, areias, argilas), em resultado da desagregação e erosão das rochas mais antigas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">5 — <i>Vulkanische Gesteine</i> - unidade constituída por lavas e tufos vulcânicos recentes. Deve acentuar-se que, na concepção neptunista, nem os granitos da<i> Urgebirge,</i> já então descritos nos seus aspectos petrográficos, nem as diabases da unidade de transição, nem sequer os basaltos antigos da unidade <i>Flötzgebirge</i> eram aceites como gerados a partir de um magma fundido. Apenas as lavas e os piroclastos do vulcanismo actual (cujas erupções podiam ser presenciadas) eram vistos como produtos magmáticos expelidos pelos vulcões e, daí, o nome <i>Vulkanische Gestein</i>. Tratava-se, pois, de um conhecimento, na altura, pouco acessível aos habitantes do centro e norte da Europa (incluindo os cientistas), mas, pelo contrário, bem vivido pelas populações mediterrâneas, de há muito familiarizadas com este fenómeno geológico.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Era inegável a génese não marinha destas lavas e destes piroclastos, evidências de origem vulcânica bem conhecidas e descritas por homens ilustres como Plínio, no início do primeiro milénio, ou por Agricola, no século XVI. Todavia, para os neptunistas, este vulcanismo, que não podiam negar, resultava da fusão de outras rochas em regiões onde tivesse lugar a combustão de camadas subjacentes de carvão ou de betume, uma concepção errónea vinda da Antiguidade, expressa, por exemplo, no poema latino do século I, Aetna, e reforçada pelo facto de já então serem conhecidas na Europa importantes minas de carvão fóssil. Entre quem assim pensava, contava-se o francês Étienne Guettard (1715 - 1786) que, tendo sido um neptunista convicto, se tornou um dos primeiros defensores da teoria vulcanista, então a despontar timidamente.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">A sucessão estratigráfica divulgada pelo grande Mestre de Freiberga, vingou por algumas décadas, até meados do século XIX com o valor de uma escala litostratigráfica global que, embora cheia de imprecisões, era a possível nesse tempo. Nesta concepção, os materiais depositados pelas águas do dito Oceano Primordial teriam dado origem aos continentes e formado, praticamente, todas as rochas; estratificadas ou não; que os constituem.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">A concepção de Werner era amplamente confirmada nos Alpes pelo suíço Horace de Saussure (1740 – 1799) e nos Urais pelo alemão Peter Simon Pallas (1741 – 1811).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Porém, duas grandes questões abalavam o neptunismo. Uma delas vinda de um dos seus críticos mais intransigentes, o italiano e contemporâneo Scipio Breislak (1748 - 1826), que perguntava, com alguma ironia, onde se havia escondido toda a água desse imenso oceano global e insistia, dizendo que, por muito grande que fosse, esse oceano não poderia ter contido em suspensão todos os constituintes das rochas da imensa crosta. A outra questão centrava-se na origem do basalto.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">O geólogo italiano Arduíno de Pádua e os franceses, Jean-Louis Giraud Soulavie, Faujas de Saint-Fond e Déodat Dolomieu, seus contemporâneos, familiarizados com o vulcanismo actual e subactual, defendiam que o basalto antigo (entendido, no modelo neptunista, como um precipitado químico, a partir das águas do dito oceano) era, pura e simplesmente, rocha solidificada a partir de lava produzida por vulcões há muito extintos. A esta nova concepção, Werner contrapunha, afirmando que o basalto antigo com as características das lavas actuais resultava do facto de o precipitado original ter sido fundido pelo fogo alimentado pela combustão das camadas de carvão subjacentes, um argumento que não convenceu os seus opositores.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Surgiu, então, uma das mais notáveis polémicas no domínio das geociências. Aos neptunistas, centrados na escola alemã de Freiberga e, por isso, também chamados wernerianos, opunham-se os vulcanistas contemporâneos, com particular relevo para os geólogos italianos e franceses, com toda a experiência que tinham do vulcanismo activo no Mediterrâneo, no caso dos primeiros, e do vulcanismo relativamente recente, do Miocénico inferior (20 Ma) ao Quaternário, embora extinto mas ainda evidente, nos Puys-de-Dôme, no Maciço Central francês, no caso dos segundos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Serenados os ânimos e numa análise histórica, necessariamente desapaixonada, deve atribuir-se à visão neptunista o mérito de ter interpretado a consolidação dos sedimentos de uma forma mais correcta do que a contida na teoria plutonista protagonizada por James Hutton (1726 - 1797), na Escócia. Com efeito, a diagénese está mais próxima da concepção werneriana do que a preconizada por Hutton e seus seguidores, que apontavam o calor como o principal agente da consolidação dos sedimentos. Assim, por exemplo, para os plutonistas, os conglomerados, que hoje sabemos serem de cimento silicioso, eram vistos, erroneamente, como cascalheiras antigas que haviam sido penetradas ou injectadas por sílica em fusão, a mesma que, segundo eles, gerava as concreções de sílex no Cré (Cretácico) inglês e francês. A teoria de Werner assentava numa sequência de estratos que, não sendo ainda a biostratigrafia dos séculos XIX e XX, tinha valor cronológico, embora relativo. A teoria de Hutton prescindia desse enquadramento temporal indissociável da história geológica, o que constituiu uma das suas fragilidades.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 12pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Os trabalhos verdadeiramente pioneiros de Werner contribuíram para a consagração da geologia e da mineralogia como ciências distintas. Quanto à primeira, divulgou o termo Geognósia, proposto por Georg Christian Füchsel (1722 – 1773) a meados do século XVIII, como designação de uma disciplina de acentuado cunho geológico, definida como a <i>“ciência que trata da Terra sólida como um conjunto e das diferentes origens e localizações de minerais e rochas, assim como das suas interrelações”</i>. Werner estabeleceu, ainda, as primeiras teorias (com base nas então modernas física e química) para explicar a origem e as características das formações geológicas. Sob o seu impulso, as ciências que hoje compõem a geologia ganharam um novo ímpeto e a observação e estudo da estrutura da Terra passou a seguir o moderno método científico.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Werner desenvolveu a mineralogia como um dos campos mais avançados e importantes da engenharia de minas do seu tempo. Neste campo, foi o primeiro cientista a propor um sistema verdadeiramente científico de classificação dos minerais, sendo apontado pelos historiadores das geociências como o “pai da mineralogia moderna”. Apesar de hoje ser considerada obsoleta, esta classificação ainda tem marcas na actual mineralogia. A sua nomenclatura dos minerais e muitas das suas descrições ainda são utilizadas. Tendo sido um ávido coleccionador de minerais, reuniu uma colecção de mais de 10 000 exemplares que legou à sua Escola e que hoje está patente na <i>Technische Universität Bergakademie</i>, de Freiberga.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">A wernerite, um tectossilicato de alumínio e sódio, do grupo da escapolite, foi assim designado, em 1800, por José Bonifácio de Andrada e Silva, em homenagem a este que foi seu professor.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">Em 1848, também a associação mineralógica (<i>Mineralogische Gesellschaft</i>), de Dresden, construiu um monumento em sua honra no cemitério de Annen de Löbtau e conseguiu que esta cidade desse o nome de <i>Wernerstraße</i> a uma das suas ruas. Em 1851, Werner foi homenageado com um monumento colocado na movimentada <i>Promenaden</i>, no centro de Freiberga.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 3.75pt 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #3333ff; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">A Sociedade Alemã de Mineralogia (<i>Deutsche Mineralogische Gesellschaft</i>) instituiu em sua honra a Medalha Abraham-Gottlob-Werner, no sentido de galardoar os cientistas que se distingam no campo da mineralogia e ciências afins.<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 3cm 0cm 0cm; text-align: center;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica; font-size: 10.5pt;">20 de Outubro de 2011</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 3cm 8pt 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 3cm 8pt 0cm;"><o:p> </o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-66043276446565423692024-02-17T09:46:00.005+00:002024-02-17T09:46:35.067+00:00 Grande Angular - Campanha eleitoral: Falhas intoleráveis<p><span style="font-family: Calibri, sans-serif; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">É </span>um nariz de cera</b> conhecido: “esta campanha eleitoral não vale grande coisa, as anteriores é que eram boas”. Acontece que não é totalmente verdade. Esta pré-campanha começou muito bem. Duas vantagens são já indiscutíveis. Por um lado, os debates de chefes animaram o público que parece acorrer a ver e ouvir. É verdade que ficam a perder os partidos, as equipas e as políticas, tudo se limitando às qualidades e aos talentos dos líderes. Mas estes têm pelo menos o condão de atrair e interessar. Por outro lado, já se percebeu quais são os tabus, isto é, os temas de que os partidos não querem falar, nem assumir compromissos. Grande mérito o de mostrar o que os candidatos pretendem esconder.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Em primeiro lugar, a Justiça. Nem é necessário recorrer aos tempos, longos e inacabados, de Sócrates, do BES, da PT, do BNP e de tantos outros. Depois do que se passou recentemente em Lisboa, na Madeira e em Coimbra, há cada vez menos dúvidas sobre a actuação do Ministério Público: as suas ingerências na política, as suas incompetências técnicas ou a sua rivalidade com polícias e magistraturas. Mais ainda do que isso, os últimos anos têm revelado uma Magistratura Judicial absolutamente incapaz de tratar da grande criminalidade associada ao poder político, à grande fortuna, à corrupção, ao futebol ou ao mundo dos negócios públicos ou privados. A rivalidade entre polícias não ajuda. As reivindicações dos oficiais de justiça só complicam. A culpa e o crime de vários juízes e procuradores ilustram este pesadelo, já alimentado pela criminalidade em que estão envolvidos políticos, governantes, administradores de empresas públicas, autarcas, empresários e banqueiros. Todos os casos sobejamente conhecidos e que, há anos, fazem o quotidiano da comunicação social, têm de comum as falhas e as deficiências da Justiça. Sendo que a rivalidade entre Magistrados e entre estes e Procuradores atinge as raias da obscenidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Nunca vivemos, como agora, tão intensa e delicada crise da Justiça. Agravada esta pela abdicação dos poderes políticos e pela desistência dos órgãos de soberania. Além disso, a passividade dos profissionais e a ineficácia das instituições tornam tudo mais difícil. Para completar este quadro, a rivalidade entre profissionais e as lutas internas entre e dentro dos grandes corpos da justiça são tais que os direitos dos cidadãos são postos em perigo. Finalmente, é confrangedora a paralisia do governo e do Parlamento. Fica-se com a impressão de que os magistrados e os procuradores desprezam e desconfiam dos políticos e de que estes têm medo daqueles e das suas informações. Fora dos debates eleitorais, a Justiça revela bem a sua crise e a sua ameaça. O silêncio dos candidatos mostra bem o seu medo e a sua cumplicidade. Ora, está em causa a liberdade de um povo. Como é sabido, sem Justiça não há democracia. Nem liberdade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Segundo, a política internacional e as questões europeias. Como nunca desde há setenta anos, os perigos e as ameaças são enormes. As guerras em curso, as alianças antigas e novas e as crises iminentes em várias partes do mundo exigiriam esclarecimentos, empenho e compromisso por parte dos nossos políticos e candidatos. A previsível crise da NATO deixa qualquer europeu, ou qualquer português, pelo menos inquieto. O desmantelamento e a suspensão da Aliança são perfeitamente possíveis. Mesmo num pequeno país como o nosso, sem capacidade militar para influenciar o curso da história, exige-se que os governantes esclareçam o seu povo. Estão essencialmente em causa a sua liberdade, a sua segurança e a sua paz.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Terceiro, a defesa nacional e segurança europeia são assuntos estranhos e alheios às eleições portuguesa. Pela sua urgência, todas as questões essenciais à defesa e à segurança dos portugueses necessitam de pensamento e esforço colectivo. Sem capacidades para uma defesa auto-suficiente, a nossa política de defesa tem de ser sufragada e devidamente orientada, incluindo o equipamento, o orçamento, o serviço, o recrutamento e a sua organização. Nada disto merece a atenção dos candidatos. Estes têm receio das dificuldades do tema, dos sacríficos impostos, dos gastos e da própria ignorância. Está em causa a capacidade dos portugueses para integrar uma defesa colectiva e uma segurança europeia. Sem o que não passaremos de parasitas. E ninguém nos respeitará.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Quarto, as políticas de imigração e emigração. É, por causa dos preconceitos, um dos temas mais delicados. A maior parte dos candidatos receia-o. Ou prefere esconder as suas posições. Ou não quer correr os riscos de um pensamento difícil. Verdade é que Portugal vive um dos períodos, da sua história, de maior emigração para o estrangeiro. E, ao mesmo tempo, o período de maior imigração de estrangeiros. Estes dois movimentos de população traduzem quase tudo o que há de importante numa sociedade: identidade, capacidade económica, educação, rendimentos e condições sociais. O trabalho ilegal, o tráfico de força de trabalho e a residência clandestina são cuidadosamente evitados. Às dificílimas questões da “Integração Versus Multiculturalismo”, assim como do controlo dos movimentos demográficos, os candidatos, em geral, fogem espavoridos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">A</span></b>bundantemente presentes na campanha estão as dádivas, os presentes, o “bacalhau a pataco”, o “cabrito com batatas”, o “vinho a tostão” e o bodo aos pobres! O que cada partido oferece aos eleitores de aumentos ou de reduções, de benefícios ou de isenções, nem anos de orçamento comportariam. Sem fazer as contas, toda a gente oferece tudo o que lhe vem à cabeça. Evidentemente, já são contemplados a educação, a saúde, os salários, o ambiente e a segurança social. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Além do tacticismo político mais imediato e barato. Como, por exemplo, as questões de arremesso desta temporada: com quem não fazes aliança? Quem recusas? Com quem governas caso não tenhas maioria absoluta ou caso fiques em segundo lugar? Quem prometes excluir? São perguntas legítimas, mas fáceis e superficiais. Além de que retiram aos partidos, antes da eleição, liberdade de acção. Na verdade, a melhor resposta é a de simplesmente garantir que se fará o que o eleitorado quiser. Ponto final. Não é possível dizer que, nesta campanha e até agora, não se tenham abordado questões importantes. Não seria verdade. Mas é certo que as ausências são graves e significativas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #2b00fe;">Público, 17.2.2024<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-48787364129782844192024-02-14T11:38:00.002+00:002024-02-14T11:38:29.423+00:00 UMA REFLEXÃO EM TORNO DA POESIA<p><span face="Calibri, sans-serif" style="background-color: white; color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt; text-align: justify;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></p><p><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"><span face="Calibri, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 11.5pt; text-align: justify;"><b>Dei por mim, </b>há dias, a folhear uma antologia com obras dos mais distintos poetas portugueses deparei-me, com este “Entre os teus lábios” de Eugénio de Andrade, figura maior da poesia portuguesa contemporânea, de entre os mais lidos e traduzidos, de entre os mais premiados, mas, ignorância minha, não a sei apreciar. Que me desculpem os entendidos. Não me diz nada.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 11.5pt; text-align: justify;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Eis o poema que li:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Entre os teus lábios <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">é que a loucura acode,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">desce à garganta,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">invade a água.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">No teu peito<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">é que o pólen do fogo<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">se junta à nascente,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">alastra na sombra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Nos teus flancos<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">é que a fonte começa<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">a ser rio de abelhas,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">rumor de tigre.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Da cintura aos joelhos<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">é que a areia queima,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">o sol é secreto,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">cego o silêncio.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Deita-te comigo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Ilumina meus vidros.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Entre lábios e lábios<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">toda a música é minha.<span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Li, depois, ”Em todos os jardins”, da grande Sophia de Mello Breyner, outra figura maior da poesia portuguesa contemporânea e, não obstante, a minha atrás confessada ignorância, digo que é desta poesia que realmente gosto. Não me permito qualificar, digo apenas que esta me diz muito, que me enche a alma, enquanto que a outra pouco ou nada me diz.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Eis o poema de Sofia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Em todos os jardins hei de florir,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Em todos beberei a lua cheia,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Quando enfim no meu fim eu possuir<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Todas as praias onde o mar ondeia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Um dia serei eu o mar e a areia,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">A tudo quanto existe me hei de unir,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">E o meu sangue arrasta em cada veia<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Esse abraço que um dia se há de abrir.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Então receberei no meu desejo<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Todo o fogo que habita na floresta<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Conhecido por mim como num beijo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Então serei o ritmo das paisagens,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">A secreta abundância dessa festa<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Que eu via prometida nas imagens.<span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Comecemos, então, por dizer que a palava “poesia”, com raiz no termo grego </span><i><span style="font-size: 11.5pt;">poíesis</span></i><span style="font-size: 11.5pt;">, alude à acção de fazer alguma coisa, nos chegou através do italiano, </span><i><span style="font-size: 11.5pt;">poesia</span></i><span style="font-size: 11.5pt;">. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Na minha ignorância sobre tão importante e delicado tema, atrevo-me a dizer que aprecio, sobretudo, a poesia entendida como um género literário caracterizado pela composição em versos estruturados de forma harmoniosa, que eu diria, musical. À falta de competência para caracterizar a poesia de que estou a falar, exemplifico com a de Camões, de Bocage, a de muitos poetas do século XIX, como Cesário, Antero e Garret, e alguns do século que passou, como Torga, Gedeão, Florbela, Aleixo e Ary. Estas e muitas outras que ficam por citar, são, para o meu gosto, manifestações de beleza e estética, criadas com palavras. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">É a que mais fácil e belamente entra na minha sensibilidade. Fiquei amarrado a um tipo de poesia marcada por elementos formais, como a rima, o ritmo, em versos e estrofes que lhe definem a métrica. É, porque a entendo, a susceptível de me despertar os mais variados sentimentos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Ao longo da História, a poesia, seja ela a que, na minha ignorância, chamarei de antiga, seja a que se diz moderna, que não me atrai, tem sido usada como uma forma literária de expressar os mais variados sentimentos, como o amor, a felicidade, a dor, a solidão, a tristeza, a saudade, entre muitos outros. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">Não acompanhei o desenvolvimento ou, melhor dizendo, a transformação da poesia ao longo do século XX. Fala-se de poesia moderna, na qual, se destacam elementos do modernismo e do chamado pós-modernismo. Trata-se de uma matéria que não domino. Só sei que, na poesia, o autor tem liberdade para definir o seu próprio ritmo e criar as suas próprias normas. Só sei que nela os versos não têm de ter rima obrigatória, nem seguem nenhuma métrica. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; font-size: 11.5pt;">É senso geral que só se gosta daquilo que se conhece e é, talvez, só por isso que a não sei apreciar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"> </span></o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-50250534694542315252024-02-10T10:13:00.007+00:002024-02-10T10:13:46.853+00:00 Grande Angular - Perigos, ameaças e fantasmas<p style="text-align: left;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span></b> <b>partido Chega</b> é provavelmente a maior novidade do sistema político português e da história política recente. De importância parecida, mas efémero, foi o PRD dos anos oitenta. Ainda de grande significado, o quase desaparecimento do CDS e do PCP. De menor importância, mas ainda sem que se saiba o seu futuro, o Bloco de Esquerda. Com valor e longevidade por apurar, são a Iniciativa Liberal, o PAN e o Livre. E pouco mais. O Chega, com 12 deputados e 7,5% dos votos, em tão pouco tempo, merece atenção. Em menos de cinco anos, ultrapassou o Bloco e o PCP e é o terceiro partido! Mais do que isso, os valores atingidos nas sondagens, cerca de 20% actualmente, apontam já para uma realidade de peso. Mais ainda: o lugar que este partido ocupa no espaço público, nas redes sociais, no Parlamento e nas reuniões partidárias, fazem dele um fenómeno. Para muitos, uma ameaça. Para alguns, um perigo iminente. Para todos, um espectro. Como na Europa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Sem qualquer dúvida, este partido é nacionalista, de direita, conservador, com veios de extrema-direita e laivos de xenofobia. É populista, diz-se agora. Tem sobretudo uma inteligência intuitiva afinada: mal surge uma deficiência, uma razão de queixa, um problema social, uma incompetência do Estado ou uma qualquer crise, logo André Ventura e o seu partido “saltam”, atacam o problema e denunciam os que entendem ser os responsáveis, isto é, todos os outros, sobretudo o governo e o PSD. Fome, greves, trabalho clandestino, crime, droga, pobreza, violência, miséria nas periferias, filas de espera nos hospitais, baixos salários em todos os sectores, nada escapa ao Chega. Corrupção, nepotismo, favoritismo familiar ou partidário são talvez as principais molas que o fazem reagir com prontidão e espalhafato.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Para muitos, é um partido fascista ou neofascista. De simpatias neonazis, evidentemente. E de antepassados salazaristas. Para esses, os responsáveis pelo seu crescimento são as forças de direita, assim como os partidos socialistas que mais não fazem do que a política da direita. Para outros, são variadas as explicações para este fenómeno. Na velha tradição marxista, trata-se de obra e graça do grande capital monopolista e da política do imperialismo. As contradições do capitalismo actual e a decadência do imperialismo americano exigem partidos deste género, dizem. Contra o simplismo desta teoria, elevaram-se opiniões, com outra dimensão epistemológica: este seria um partido tipicamente da pequena-burguesia, aquela que se encontra, sem passado nem futuro, entre o mundo do trabalho e o do capital. Sem ideologia de classe, um partido como este é atraído pela demagogia anticapitalista e sobretudo pela fúria anticomunista. Outras explicações, se assim se podem chamar, filiam este partido na mais pura tradição nacionalista, anti internacionalista, anticomunista e antieuropeia. Seria um partido do passado, contra a modernidade. Já agora, um partido com raízes rurais e católicas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span></b> partido Chega, pobre em doutrina e programa, oportunista e provocador como nunca se tinha visto em Portugal, beneficiando de arguto sentido da ocasião, é o resultado das deficiências da democracia. Das dificuldades do Estado providência e da democracia contemporânea. Da partidocracia reinante, à esquerda e à direita. Vive no abismo que cresceu entre os Estados e a União Europeia, por um lado, os cidadãos e as instituições, por outro. Caça e pesca nas águas turvas das comunidades nacionais em crise causada pela globalização. Nunca se ouviu justificar as suas causas na liberdade individual ou nos direitos dos cidadãos. Nunca se viu fundamentar a sua acção na democracia. O partido denuncia a democracia, não a enriquece nem alimenta.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O seu mais eficaz programa diz, em poucas palavras, que deve denunciar todas as crises, dificuldades e carências. Há sempre culpados para os problemas sociais. Protesta contra tudo e todos que reputa responsáveis pelo regime actual. Como ainda não tem currículo, nem experiência política, nem tradição autárquica, isto é, como ainda não deve nada a ninguém, denuncia e acusa todos e cada um. Propõe-se, com enorme despudor, privatizar o que está nacionalizado ou nacionalizar o que privado é. Expulsar, proibir e prender são verbos que conjuga com familiaridade. É partido com a inteligência suficiente para, sem doutrina nem programa, apurar as suas artes no protesto e na denúncia. Chora diante da pobreza, geme perante a corrupção. Escandaliza-se com a corrupção dos democratas. Desespera com a intervenção europeia, a perda de independência e a submissão aos interesses internacionais. Não se sente tolhido pela Igreja, nem pela Maçonaria. Não depende de patrões ou de sindicatos. Usará a democracia enquanto esta lhe for útil, para crescer, usufruir de espaço público, denunciar democratas e vilipendiar poderosos. Se, um dia, a democracia lhe impuser o respeito pelos outros, assim como o obrigue a seguir as leis e acatar a tradição, nesse dia, o mais provável é que atire a democracia às urtigas. A sua palavra de ordem é o mais medíocre dos clichés: “limpeza”!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Incapazes de derrotar a direita, os socialistas esperam que o Chega a divida. Querem que o Chega seja o seguro de vida da esquerda, tal como o PCP foi, da direita, durante os anos de ostracismo. Os comunistas e o Bloco limitam-se a denunciar o capitalismo e a culpar os socialistas, estimando que, se estes fizessem o que eles querem, o fascismo seria derrotado. Todos os partidos, sem excepção, deram um precioso contributo para a crescimento do Chega. No governo, os socialistas trouxeram causas ao Chega. Nos hospitais, nas escolas, nas fronteiras, nos transportes públicos, nos bairros periféricos e nos centros das cidades, os democratas estão a alimentar o Chega à mão. O desdém dos partidos democráticos pelo povo e pelas vítimas, pelos pobres e pelos necessitados, é uma linha de vida do Chega. Estes partidos agem como se os eleitores do Chega não fossem cidadãos como os outros. A democracia sem tom nem som, com preocupação pelas intrigas, é uma vitamina do Chega. O Chega não é um inimigo externo, não vem de fora da sociedade, muito menos fora do país: nasce das falhas e da miséria da democracia portuguesa. Jornais e televisões colocaram-no no centro do mundo. Os partidos democráticos fizeram dele o inimigo e a ameaça. Não cessam de a ele se referir. Talvez se queixem, um dia. Mas queixam-se da sua própria obra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #2b00fe;">Público, 10.2.2024</span><o:p></o:p></i></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-59441485379917078392024-02-03T09:05:00.007+00:002024-02-03T20:23:45.987+00:00 Grande Angular - Será chuva? Será gente?<p><span face="Calibri, sans-serif" style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span></b> <b>que está a correr mal? </b>E porquê? Num país que ainda há pouco tempo gozava de estabilidade, cooperação institucional, algum crescimento económico, contas certas e paz social, de repente, tudo se estragou. Nas ruas, ouvem-se ruídos e rumores de manifestação. Nos serviços públicos, há espera e ineficiência. Na justiça, há atraso. Na política, há corrupção. Na sociedade, há desigualdade. No espaço público, há descontentamento. Que se passa? São as elites? Será o povo? É a crise mundial? Será a guerra?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Para explicar o mundo, os acontecimentos, a história e a política, não há nada melhor do que uma boa teoria da conspiração. Basta imaginação, não são necessárias provas. Uma boa argumentação vale todas as demonstrações. Quanto mais estapafúrdia, mais crível é. Se forem referidos poderes ocultos, religiosos, maçónicos, financeiros, mafiosos e feiticeiros, melhor ainda. Se houver militares, a verosimilhança é enorme. Se ninguém tiver pensado nisso, a força de uma explicação pela conspiração é quase absoluta. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Uma boa conspiração poupa a inteligência e dispensa o estudo dos factos e das causas. A conspiração da situação actual é, para muitos, simples e clara. O Presidente quis liquidar o governo socialista. O governo e o seu partido pretenderam liquidar o Presidente. Maçonaria e católicos entraram na dança. Os barões do PSD zangaram-se mais uma vez. Os minoritários moderados do PS querem já macular os primeiros passos dos novos dirigentes. Procuradores e juízes digladiam-se, mas, em conjunto, atiram-se aos políticos. Os 31 crimes de Sócrates passaram a 6 e são agora 22, o que nos permite avaliar o rigor e a validade das acusações.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Os casos actuais, as gémeas brasileiras, as estantes do IKEA, as casas dos políticos em vários locais do país, as declarações de rendimentos e de residência oficial, as contas no estrangeiro, os dinheiros sem origem certa, tudo tem explicação em razões mais ou menos ocultas, em misteriosas personagens sinistras. Parece haver um “Deus ex Machina” que regula e promove o mal. Ou um conspirador a tecer as teias do diabo? Nestes tempos, a teoria da conspiração tem adeptos. Claro que não é verdade. Mas ocorre a tantos espíritos!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Com excepção das “contas certas” e da taxa de crescimento, tudo parece estar a correr mal. Parece cada vez mais que “há alguém por trás disto”. Tudo conjugado com as guerras e as crises “lá fora”. “Não é por acaso” é uma das frases mais vezes repetidas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Além da pura loucura e de uma concepção mesquinha da história, a principal causa de uma boa teoria da conspiração reside na ignorância. Quando não se conhecem as causas de um qualquer fenómeno, quando não se percebe o curso dos acontecimentos ou quando se desconfia sem saber porquê, esta explicação, ou antes, esta insinuação vale uma verdade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">S</span></b>ucedem-se as crises. Algumas como nunca ou quase nunca se viu. Bloqueamento das estradas. Polícias em permanente manifestação. Professores em falta. Alunos sem aulas. Serviços públicos em deslasse. Esperas inadmissíveis nos hospitais. Avolumar de casos de corrupção. Incapacidade para julgar os casos difíceis de poderosos e políticos. Impotência da justiça. Em seis meses, quatro eleições, três das quais antecipadas por razão de crise. Políticos detidos, presos, em recurso, arguidos, processados e suspeitos: há para todos os gostos como nunca aconteceu no nosso país. Episódios inéditos de má literatura política, como os casos do computador do assessor do ministro, o das gémeas e o das estantes com dinheiro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Há razões mais profundas que explicam as crises actuais? Há seguramente. Para além da incerteza internacional e das guerras, assim como do mau ambiente económico europeu, há a incapacidade nacional de criar riqueza de modo consistente. A dificuldade em formar gerações de técnicos, cientistas, gestores e artistas de elevado nível. A decrescente capacidade técnica dos governos e da Administração Pública. A tentação para fazer o que é fácil e dá nas vistas, em detrimento do que faz falta. O especial talento para dar e distribuir, em detrimento de criar e poupar. A impossibilidade, por parte dos empresários privados e das instituições públicas, de criar emprego qualificado em grandes proporções. A inaptidão para suster a imigração e reduzir a emigração. A persistência, entre as elites e no seio do povo, da “cunha”, da corrupção e da trafulhice. E outras, certamente. A verdade é que todas estas explicações não explicam a coincidência no tempo das crises actuais. Esta resulta evidentemente dos efeitos de arrasto (umas puxam pelas outras) e sobretudo da falta de talento, de sabedoria, de disciplina e de orientação política para cuidar dos serviços públicos, para gerir e organizar, para liderar e manter a disciplina.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Parece fácil dizer o que precede? Talvez. Mas pense-se apenas no paradoxo dos últimos tempos. A saúde financeira é razoável. As condições económicas nacionais e internacionais, apesar das dificuldades do mundo, não eram más de todo. Havia uma maioria absoluta que podia garantir a estabilidade. Nas regiões autónomas, as coligações podiam facilmente ser sólidas. As relações entre órgãos de soberania eram excelentes. O apoio do Presidente da República ao governo e ao Parlamento era manifesto. A simpatia do governo pelo Presidente da República era sem par. As classes sociais estavam em paz. Os patrões não se sentiam mal. Os sindicatos estavam sossegados. Tudo isto ruiu. Tudo se desfez em pouco tempo. Tratou-se do maior desperdício político das últimas décadas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Ao lado das causas profundas, há evidentemente as causas imediatas. E estas residem em grande parte na deficiente gestão do serviço público, das instituições e dos grandes serviços. São estas deficiências que explicam a simultaneidade das crises no Serviço Nacional de Saúde, nas escolas, na Justiça e nos tribunais, nas polícias e forças de segurança, na agricultura, na habitação e nos transportes públicos. Raramente, talvez nunca se tenha visto uma simultaneidade como esta na história recente de Portugal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">A democracia portuguesa comemora os 50 anos do 25 de Abril, os 50 anos das eleições livres e os 50 anos da Constituição, com uma desordem institucional jamais vista. Festejam-se com quatro eleições. Três dissoluções de parlamentos e assembleias legislativas. Três governos demitidos. Prisão ou acusação de vários políticos de elevada importância. Milhares de polícias na rua a manifestar. Órgãos de soberania à bulha. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Onde estão as causas? Chuva não é certamente. É gente, com certeza.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i>Público, 3.2.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-1369817095823591942024-01-30T08:24:00.009+00:002024-01-30T08:24:55.031+00:00CONDIÇÃO FEMININA (em Évora, anos 30 e40 do século que passou) <p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;"><span style="color: #2b00fe;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><b>Depois do jantar, </b>os homens saíam a caminho dos seus interesses. Fossem ricos, remediados ou pobres, a regra era essa. As mulheres ficavam em casa. De muitas delas, a única distração era ficarem à janela a ver quem passasse ou a falar com a vizinha da frente. Prisioneiras das responsabilidades que lhes eram atribuídas pela tradição e pelo regime, continuavam no exercício das tarefas domésticas, lavam a loiça, arrumavam a cozinha, costuravam e, ao mesmo tempo, cuidavam dos filhos mais pequenos. Estes, ou faziam os trabalhos da escola ou brincavam, muitas vezes na rua, à porta da casa, sempre aberta. As filhas com idade para ajudar, começavam aí a sua iniciação de mulher de família<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Eram as mães que, contra elas próprias, educavam as filhas e os filhos a perpetuarem os hábitos da sociedade machista em que cresci e me fiz homem, numa vivência estimulada pela Igreja e pelo poder político da época. Jovem casadoira, qualquer que fosse a sua condição, já sabia que o seu lugar ia ser no lar ou no “ninho”, como algumas e alguns gostavam de dizer. Ao contrário das mulheres do campo, eram poucas as da cidade com trabalho fora de casa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">No mundo rural não era assim. Pobres por condição e tradição, mães com ou sem filhos e raparigas adolescentes tinham mesmo de trabalhar sempre que as oportunidades surgissem e essas oportunidades eram, sobretudo, a monda, a ceifa e a apanha da azeitona.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">«A mulher quer-se em casa, a cuidar dos filhos», «a rua é que é para os homens», «homens na cozinha só atrapalham» eram frases feitas, submissa e pacificamente aceites pela generalidade das mulheres, industriadas que estavam em casa, pelas mães, e na escola, pelas professoras. Eram frases próprias de uma sociedade machista como era a nossa, numa tradição europeia vinda da antiguidade helénica, onde, na Pólys, a cidade-estado da Grécia antiga, cidadão era aquele - nunca aquela - que gozava do direito de participar na vida política da cidade, um direito igualmente vedado a estrangeiros e a escravos. Mais tarde, na Europa e até finais do século XVIII, foi condição de dignidade do homem – nunca da mulher - que recebia esse título honorífico. Mantida e aperfeiçoada na cultura judaico-cristã, esta diferença era, e ainda é naturalmente bem aceite por muitos homens, como parte interessada. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Esta desigualdade tinha para nós, rapazes, as suas vantagens, habituando-nos a essa condição privilegiada dos elementos masculinos da família.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">- Tisa, já fizeste as camas? – Ordenava a mãe. - Agora vai pôr a mesa!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">- Lurdes, vai passar (a ferro) a camisa do teu irmão.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">E aí, nós só não líamos o jornal, recostados num sofá, porque não tínhamos sofá. De qualquer maneira, lá se nos ia metendo na cabeça que isso dos trabalhos domésticos eram coisas de mulheres.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">No meu tempo de escola, o ensino obrigatório, estabelecido pela reforma de 1936, de Carneiro Pacheco, ministro da Educação do governo de Salazar, era o primário, terminado com o exame da 3ª classe (3º ano, como agora se diz). Certificado pelo diploma do “Primeiro Grau”, era exigível para ingresso em algumas profissões e, nos homens, para ser eleitor. A escola primária separava rapazes de raparigas e o ensino destas estava confiado a professoras e, às raparigas, na sua predestinada condição de mulher, bastava aprender a ler e fazer contas, duas aquisições essenciais a quem tinha por dever a economia do lar. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Nascida em 1937, a Mocidade Portuguesa Feminina visava criar “a nova mulher portuguesa: boa esposa, boa mãe, boa doméstica, boa cristã, boa cidadã sempre pronta a contribuir para o bem comum, mas sempre longe da intervenção política deixada aos homens”, como na dita Pólys. A mulher viu-se, assim, relegada para um plano secundário na família e na sociedade em geral, até que, entre nós, o 25 de Abril, não o esqueçamos, pôs fim a esta indignidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Obrigatória para todas as jovens dos 7 aos 14 anos, a inscrição na Mocidade Portuguesa pretendia estimular nas nossas jovens a formação do carácter, o desenvolvimento da capacidade física, a “cultura do espírito e a devoção ao serviço social, ao amor de Deus, da Pátria e da Família”. Nos textos oficiais desta organização do Estado Novo figuravam conselhos sobre as atitudes (de acato e docilidade) a ter em casa para com o marido, lições de lavores femininos, com linhas, dedais, tesouras e agulhas, culinária e outros afazeres da vida doméstica e indicações sobre o fato de banho “com decote pouco generoso e saia não muito curta”. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Saídas à noite, só na companhia de alguém que a protegesse, não de qualquer agressão física, praticamente inexistentes nesse tempo, mas das “más línguas”. E essa protecção era a dos pais, a de um irmão ou outro familiar mais velho. As idas ao cinema, a um qualquer evento público ou a um Café tinham as mesmas restrições. Sempre que as minhas irmãs, adolescentes nesses anos, queriam ir ao cinema tinham de convencer o meu pai, nunca a minha mãe, a acompanhá-las. Do mesmo modo, a minha mãe só podia ir ao cinema, a um teatro, ou a qualquer outro espectáculo acompanhada do meu pai. Poder, podia, só que havia que enfrentar os “bons costumes”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Nos bailes ou nas matinés dançantes, desiderato da juventude, sempre realizados nas sociedades recreativas, rapazes e raparigas podiam abraçar-se, com decência, dizia-se. As mães, numa “sova de cadeira” de várias horas, acompanhavam invariavelmente as filhas, não só para as vigiarem, não fossem os rapazes apertá-las demais ou fugirem dali com elas, como também para as defenderem das “bocas do mund</span><o:p></o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-7252155613256745182024-01-28T09:14:00.007+00:002024-01-28T09:20:30.656+00:00O "1-2-3" das promessas eleitorais...<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGTpYzv6qjH8E4HssKLNFWjf0zogXNtY0R39tFlrl-Cmc1Tod_znMl7fKP0r10xxgLKO-whJU5ZOFUKejTiyoodqMtS2lz0v2RIo7FRIS_bf89O2xxyvEGiwA1ss_FG5C4vq17YmpzBye_AtcWg5221YQSgK3MwERGAnIrs_Nn_LXo_J2BZTIzew/s829/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-01-28,%20a%CC%80s%2009.12.29.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="829" height="359" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGTpYzv6qjH8E4HssKLNFWjf0zogXNtY0R39tFlrl-Cmc1Tod_znMl7fKP0r10xxgLKO-whJU5ZOFUKejTiyoodqMtS2lz0v2RIo7FRIS_bf89O2xxyvEGiwA1ss_FG5C4vq17YmpzBye_AtcWg5221YQSgK3MwERGAnIrs_Nn_LXo_J2BZTIzew/w413-h359/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-01-28,%20a%CC%80s%2009.12.29.png" width="413" /></a></div> <span style="caret-color: rgb(5, 5, 5); color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, BlinkMacSystemFont, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px;">Faz lembrar a anedota do caçador que não conseguia matar coelhos porque eles corriam em “ziguezague”:</span><div dir="auto" style="caret-color: rgb(5, 5, 5); color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, BlinkMacSystemFont, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px;"><b>— <a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a>Quando disparo para o zigue, já eles estão no zague. E vice-versa…</b></div><p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-58019183085054807312024-01-27T08:09:00.007+00:002024-01-27T08:09:59.657+00:00 Grande Angular - Prova de fogo<p><span style="font-family: Calibri, sans-serif; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">U</span>m grupo de pessoas de direita</b> ou de extrema-direita entende levar a cabo uma manifestação. As intenções e o espírito são de ordem nacionalista, possivelmente xenófobas ou racistas. A manifestação está convocada para a zona do Martim Moniz e da Mouraria, isto é, bairros onde vivem comunidades de imigrantes, africanos, asiáticos e outros. Está também convocada, para a mesma hora e no mesmo local, uma contramanifestação. Entretanto, circula uma carta, assinada por uns milhares de pessoas, solicitando que a primeira manifestação seja proibida. Outras vozes, na imprensa, exigem também a proibição. O executivo da Câmara Municipal de Lisboa condenou, por unanimidade, a realização desta manifestação.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Uma manifestação não necessita de autorização, mas apenas de informação remetida às autoridades, a fim de, se tal for necessário, serem tomadas providências. Do ponto de vista da liberdade de expressão e do direito à manifestação, este dispositivo parece suficiente.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Proibir esta manifestação é um acto grave e de sérias consequências. É a melhor maneira de abrir uma temporada de violência na sociedade. Deixá-la correr sem qualquer intervenção é igualmente gesto condenável e de maus efeitos: haverá afrontamento e violência. Deixar correr as duas, manifestação e contramanifestação, é ainda pior, é quase garantir que haja confronto físico. Em poucas palavras, qualquer destas soluções é uma má resposta ao problema.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">É verdade que a situação é delicada e perigosa, ainda por cima com eleições marcadas para breve. A “questão racial” está a ser fomentada há anos, racistas e anti-racistas procuram-se mutuamente. Por ausência de políticas de imigração e de integração, pelo aumento de imigração ilegal, pela exploração de trabalho clandestino e pelas condições de vida de milhares de imigrantes, por todas estas razões, é possível prever a iminência de afrontamentos. É possível que estejamos a viver um desses momentos que marcam uma viragem, para pior, da situação e dos acontecimentos. É alto o grau de nervosismo. É garantida a vontade de mostrar forças.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Grupos e partidos nacionalistas e de extrema-direita desejam um momento dramático para dizer que “isto aqui é Portugal”! Para isso, estão dispostos a tudo. Querem choques violentos para depois afirmarem que já não se pode ser português em Portugal. Do outro lado, esquerdistas, antifascistas e anti-racistas querem uma oportunidade dramática e se possível violenta para demonstrar que “Portugal é um país racista”! Ambos ficariam satisfeitos com o confronto. Ambos receberiam com delícia a proibição da manifestação.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">A discussão pública sobre a imigração e o debate sobre as respectivas políticas estão por fazer. Estes temas são difíceis, por isso mesmo urgentes. São igualmente recheados de preconceitos, o que reforça a necessidade de esclarecimento e de elaboração de políticas. Assim é que importa que não se deixem abrir feridas nem azedar ânimos, o que só tornaria mais inútil o debate nacional. Parece, pois, essencial evitar o confronto que se desenha para a próxima semana. Este e outros a seguir. Mas, evitar esse afrontamento não pode ser feito à custa dos direitos do cidadão. Por isso não é imaginável que se proíba a liberdade e o direito de expressão e de manifestação.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">A</span></b> democracia é o regime de todos, incluindo de antidemocratas. Sejam eles de extrema direita nacionalista ou fascista, sejam revolucionários comunistas e aparentados. Todos estes querem ultrapassar a democracia e criar novo regime que a elimine. É o seu direito. São livres de assim pensar e tentar convencer a população, desde que não cometam actos ilegais, como sejam a violência contra pessoas, a segregação à força, a destruição de bens, o roubo, a agressão de qualquer espécie… Isto é, que cometam actos ilegais de qualquer espécie. Nesses casos, terão de ser detidos e julgados. Mas não podem ser atacados pelas suas opiniões.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">A democracia é o regime de todos, incluindo de racistas e xenófobos. Brancos, negros ou de qualquer outra origem. Os racistas e os xenófobos são pessoas frequentemente detestáveis, não escondem a sua animosidade pela democracia e têm um orgulho infundado na superioridade da raça branca. Podem defender as suas ideias. Podem publicar as suas opiniões e até divulgá-las. Não podem é agir em consequência dessas opiniões, segregar outrem de serviços e empresas, ser violentos, expulsar de locais públicos e ofender as outras pessoas. Noutras palavras, não podem cometer crimes de ofensa, agressão ou segregação, proibidos na lei em todas as circunstâncias. Mas a liberdade de expressão é intocável.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">A ideia de que se pode proibir alguém, racista, xenófobo ou antidemocrata, de pensar, ter opinião e divulgar os seus pontos de vista é um grave passo atrás na democracia, é uma perversão da tolerância, é um atentado contra alguns dos direitos e liberdades fundamentais da democracia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O direito a manifestação de todos os cidadãos, protegido pela lei, sem qualquer autorização, é igualmente intocável. Evidentemente que se pode, por razões de segurança, condicionar esse direito de manifestação, não no essencial, mas na circunstância. Por exemplo, a hora e o local de manifestação. Este caso da manifestação nacionalista do Martim Moniz e da Mouraria parece um exemplo de escola. Evidentemente que o local traduz uma procura de afrontamento e de confronto social no que pode ser considerado uma provocação. Assim sendo, é legítimo que as autoridades nacionais e camarárias obriguem os manifestantes a alterar a circunstância (hora e local), sem renunciar ao essencial (a manifestação e a expressão de opinião). Como é igualmente legítimo que a contramanifestação seja deslocada na hora e no local. É um imperativo de ordem pública e de paz social que essas manifestações não coincidam no espaço e no tempo. Mas não se pode proibir uma nem outra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O que está em causa na próxima semana é a liberdade de expressão e o direito de manifestação. É uma real prova de fogo da democracia portuguesa. Por razões de interesse público e em defesa da paz e da ordem pública, podem as manifestações (que não necessitam de autorização) ser deslocadas no espaço e no horário, como pode ser exigido que não se realizem no mesmo sítio ou à mesma hora. Mas não podem, definitivamente não podem ser proibidas!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Se a democracia portuguesa não consegue viver com antidemocratas e com racistas ou xenófobos é porque é fraca, frágil e medrosa. A democracia defende-se com métodos legítimos e com força democrática, sem recorrer a meios ilegítimos. Sem pisar o risco.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i>Público, 27.1.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-84113594560278676992024-01-27T08:08:00.000+00:002024-01-27T08:08:17.171+00:00NO 19.º ANIVERSÁRIO DO "SORUMBÁTICO"<p style="text-align: justify;"><b> <span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt;">Meu Caro Sorumbático!</span><span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span></b></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b>Vai o meu artigo desta semana, sobre assunto delicado e difícil. A liberdade de expressão e as questões de racismo, verdadeiro ou alegado.<u></u><u></u></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b><br /></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b>Quero aproveitar o envio para o festejar uma vez mais. Agora são 19 anos! Já estamos na maioridade, como se fosse possível aplicar tal critério ao Sorumbático! Foi maior… desde sempre! Muito parabéns pelo aniversário e muitos parabéns ao seu Guardião, Carlos Medina Ribeiro.<u></u><u></u></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b><br /></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b>Quando comecei a colaborar aqui, há muitos anos, tinha a impressão de que estava na vanguarda! Escrever num Blogue! Publicar artigos e fotografias! E assim era. Verifico hoje, com as “redes” ditas sociais, que o Blogue já é uma tradição. Que deve ser mantida. A todo o preço. Como os jornais e a rádio, ricas tradições do melhor espírito da humanidade.<u></u><u></u></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b><br /></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b>Um abraço, Sorumbático!<u></u><u></u></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b><br /></b></span></p><p class="MsoNormal" style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><b>António Barreto</b></span></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-85651893262492522892024-01-21T08:38:00.005+00:002024-01-21T09:00:53.002+00:00 19º ANIVERSÁRIO do "Sorumbático" <p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJOxS9zCtzC9Tt3nWtXpb13kpSueHwjG0jbA2pZ67bziJpsAyjFZCXnuGgKAlViUpiOUh-BsK5vZnMAXi7lN_QXGyGuzUaDP0Klyb8Q2Y8J3uOT0vv3GeSGDCQ9URNz9xj2jSrxUVoujjO30DPEr6SKjZZWPzeMuaxR63Sk2wy59At4xbG7Pa9mA" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="481" data-original-width="330" height="346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJOxS9zCtzC9Tt3nWtXpb13kpSueHwjG0jbA2pZ67bziJpsAyjFZCXnuGgKAlViUpiOUh-BsK5vZnMAXi7lN_QXGyGuzUaDP0Klyb8Q2Y8J3uOT0vv3GeSGDCQ9URNz9xj2jSrxUVoujjO30DPEr6SKjZZWPzeMuaxR63Sk2wy59At4xbG7Pa9mA=w238-h346" width="238" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial; white-space: pre-wrap;">No passado dia 5, até eu me esqueci do 19º ANIVERSÁRIO do "Sorumbático"!</span></div><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"><span style="white-space: pre-wrap;">No entanto, continuam a estar aqui todas as publicações desde o primeiro dia (16.650, ao todo) tendo tido, até à data, 3.658.940 visualizações </span></span><span style="white-space: pre-wrap;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;">com 34.522 comentários.</span></span></div></span><div style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"><span style="white-space: pre-wrap;"><span style="caret-color: rgb(0, 0, 0);">Aqui fica, também, uma especial palavra de saudade aos amigos Carlos Pinto Coelho, Nuno Brederode dos Santos, Pedro Barroso e J. L. Saldanha Sanches.</span></span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-54906149185029217402024-01-20T10:18:00.005+00:002024-01-20T10:18:51.306+00:00 Grande Angular - Sonho de uma noite de Inverno<p><span face="Calibri, sans-serif" style="color: #2b00fe; font-family: arial; text-align: justify;">Por António Barreto</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">D</span>entro de pouco mais</b> de uma semana, ficaremos a conhecer as listas completas de candidatos à Assembleia da República. São listas exclusivamente subscritas por partidos ou coligações de partidos. Movimentos, associações e grupos de cidadãos estão excluídos. Independentes também não se podem candidatar, a não ser que se submetam a fazer parte de uma lista partidária, o que quer dizer que estejam dispostos a perder a sua independência. A não ser que façam prova de fidelidade partidária, mais de dez milhões de portugueses não se podem candidatar a eleições legislativas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O fabrico destas listas é um dos momentos mais polémicos da política portuguesa. Esse gesto traduz a realidade da vida partidária e das relações dos partidos com a sociedade. É através das listas que se pode escolher e sanear quem vai ser eleito, quem fica na vida política e quem é despedido. O dispositivo essencial das listas consiste na ordenação dos candidatos: são eleitos os que vêm à frente, são afastados os que vêm atrás ou ficam cá para baixo. Mas tudo depende, evidentemente, do número de votos que a lista recebe. Nos partidos com muita autoridade, tudo se passa sem ruído percebido pelo público. Nos partidos democráticos no poder, o clima é tenso, mas pacífico. Nos partidos democráticos na oposição, o momento é febril e adequado a ajustes de contas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">De qualquer maneira, dos 230 deputados a eleger, 190 já estão eleitos. Já podem tomar providências, alugar casa ou reservar hotel em Lisboa. Foram as escolhas dos chefes dos partidos que decidiram o lugar em que estão nas listas e é assim possível saber já a maioria dos que são eleitos. Os cidadãos não escolheram absolutamente nada. A não ser os muito pequenos partidos que podem eleger alguns ou nenhuns deputados. Assim como os últimos 30 ou 40 deputados eleitos que vão compor os grupos e definir quem tem maioria. Na verdade, são estes que decidem a vitória eleitoral e respectiva amplitude. Justiça seja feita: o eleitorado ainda tem a escolha destes últimos deputados. Ou seja: escolhe quem vence, mas não escolhe quem o representa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Há cinquenta anos, abstiveram-se cerca de quinhentos mil cidadãos. Há vinte anos, um pouco mais de três milhões. E há dois anos, perto de cinco milhões e meio optaram pela abstenção. Melhor do que taxas e percentagens de abstenção, estes números brutos revelam um profundo mal-estar. De muitas democracias, com certeza, mas a nossa é a que nos traz aqui. Como toda a gente sabe, existe um problema muito sério, cada vez mais difícil, de legitimidade e de representatividade dos parlamentos eleitos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">E</span></b> tudo poderia ser tão diferente! Poderíamos ter, neste 10 de Março, uma verdadeira revolução dentro da democracia! Poderíamos ter 230 círculos eleitorais, cada um elegendo, por maioria absoluta, um só deputado. Este seria alguém já conhecido pela comunidade, ou que passaria a sê-lo depois da campanha e da eleição. Seria um elemento da região, ou de sítio vizinho, ou mesmo vindo de longe (da capital, por exemplo) mas que se tinha apresentado localmente para ser seleccionado. Aliás, o “candidato a candidato” por um partido deveria ser seleccionado pelas assembleias dos partidos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O termo “o meu deputado” faria assim sentido para todos os deputados, com responsabilidades pessoais, contas a prestar, mandatos a receber, lutas a conduzir e batalhas a travar. O distrito de Lisboa, por exemplo, em vez dos actuais 48 deputados, uma verdadeira sociedade anónima que ninguém conhece em maioria, seria dividido em outros tantos círculos, cada um com o seu deputado, de acordo com a dimensão demográfica. O resto do país teria o mesmo tratamento.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O “meu deputado” seria o que foi eleito, evidentemente, poderia ou não ser do meu partido ou daquele em quem votei. Desde que é eleito, um deputado representa todo o eleitorado, não apenas o seu partido. Esse “meu deputado” teria reuniões regulares com os seus eleitores (os que quisessem estar presentes) e teria anunciado, à porta do seu gabinete e na NET, os dias em que receberia os seus eleitores que lhe apresentariam casos e poderiam assim elogiar, criticar e fazer sugestões ou reclamações.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O “meu deputado” poderia ser um membro do partido que eu apoiaria, ou de um outro partido que teria ganhado as eleições. Mas poderia também ser de um movimento cívico, de um grupo de defesa do meu bairro ou da minha cidade. Ou de um movimento de defesa da ecologia, do género, de uma religião, dos idosos, dos doentes ou de outro qualquer grupo de referência. Poderia até ser apenas independente absoluto, sem pertença a grupo, partido ou movimento, mas claramente conhecido, até para vencer as eleições.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O mais provável é que a maioria dos deputados eleitos pertencesse aos partidos estabelecidos. São eles que têm nome e meios, profissionais de campanha, história e interesses estabelecidos, referências de classe, religião, origem ou doutrina. Mas as relações de cada deputado com o seu partido mudariam de modo significativo. Os deputados saberiam que eram eleitos pelo que eram, ou também por isso, não apenas pelo nome do partido. O que quer dizer que teriam mais força e mais autonomia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Ao mesmo tempo, os partidos saberiam que se não respeitassem os deputados e a sua liberdade, estes poderiam pura e simplesmente informar o eleitorado. Além disso, quando os partidos escolhessem as suas listas, teriam de ser muito mais exigentes e seleccionar os melhores, tanto do seu ponto de vista como dos interesses das comunidades. Caso contrário, perderiam a eleição. Ou os candidatos em questão apresentar-se-iam por eles próprios. As listas partidárias teriam de ser as melhores e não apenas o rol dos fiéis, dos que causam menos problemas à direcção do partido e dos que fazem o que lhes mandam e só isso. Os independentes e membros de associações ou movimentos teriam assim um duplo papel: o de serem bons representantes do povo e o de obrigarem os partidos a seleccionar melhor.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Tal como noutros países, este sistema eleitoral poderia funcionar a duas voltas, isto é, todos concorrem à primeira e, à segunda, passam os dois primeiros ou os que estão acima de uma fasquia determinada. Quer isto dizer que um deputado é sempre eleito com mais de 50% dos votos, o que confere legitimidade e consolida as maiorias. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Não há milagre. Nem soluções mágicas. Mas os que se queixam de falta de proximidade da democracia, de afastamento dos políticos, de reduzida transparência do processo democrático e da legitimidade decrescente em tempos de abstenção em permanente aumento, deveriam pensar duas vezes. O sistema está feito para afastar, não para chamar.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i>Público, 20.1.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-65810639340599637812024-01-18T10:13:00.002+00:002024-01-18T10:13:39.043+00:00No "Correio de Lagos" de Dez 23<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk6Cd6BfCbxvXW5UA5-6If4bnmjoasQRHj-EEXdUx2u5rksjjK_5vC7XP8lK6M_RCgr1YcmAz2QCmVA7JxRS1zqzO_06jxExMAZi2KECPDI2F7jbpsWJv7joKWMvVjq0BjvsK2Wf4G-F7ag4KlH61ZYXGxfWjnGb15T9mIoQddLr-wgGXAKgICHA/s968/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-01-17,%20a%CC%80s%2013.41.42.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="568" data-original-width="968" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk6Cd6BfCbxvXW5UA5-6If4bnmjoasQRHj-EEXdUx2u5rksjjK_5vC7XP8lK6M_RCgr1YcmAz2QCmVA7JxRS1zqzO_06jxExMAZi2KECPDI2F7jbpsWJv7joKWMvVjq0BjvsK2Wf4G-F7ag4KlH61ZYXGxfWjnGb15T9mIoQddLr-wgGXAKgICHA/w407-h239/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-01-17,%20a%CC%80s%2013.41.42.png" width="407" /></a></div> <p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-43386438710123547962024-01-16T13:30:00.004+00:002024-01-16T13:31:14.621+00:00 DAS MEZINHAS E REZAS AOS FÁRMACOS<p><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="background-color: white; font-size: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe;">Por A. M. Galopim de Carvalho</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b>Um tema antigo,</b> bem gravado na memória, é o das enfermidades e dos meios com que se procurava dar-lhes combate. Nos curtos anos da minha infância e adolescência pude assistir à substituição das mezinhas e dos remédios manipulados na farmácia pelos fármacos produzidos industrialmente. É claro que não conheço o suficiente de história da medicina e da instituição farmacêutica que me permitam abordar este tema em moldes minimamente fundamentados. Mas o que eu posso e sei fazer é relatar o que, neste domínio, se passava nesse tempo, no seio da minha família. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Constipações, amigdalites, otites, gripes, sarampo, varicela, papeira e disenteria, embora com nomes diferentes, tudo isso andou lá por casa, tocando todos os filhos. Falava-se, de anginas, de dores de ouvidos, de bexigas doidas, de dores de barriga, tudo situações que a mãe ultrapassou, por si só ou com a ajuda do médico, mas sempre com muita fé, velas e promessas de cera ao Senhor Jesus dos Passos e muitas rezas a Nossa Senhora e às duas santas da sua devoção: Santa Rita e Santa Teresinha.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Uma purga com óleo de rícino ou um clister eram coisa certa sempre que aparecíamos com febre. Dizia a mãe que serviam, antes do mais, para limpar os intestinos. Vinham, depois, consoante os casos, os papelinhos de criogenina, para baixar a febre, as fricções com vinagre aromático ou com álcool canforado, o algodão iodado ou os emplastros de papas de linhaça e mostarda, a escaldar, colocados sobre o peito. Se doíam as costas pincelavam-se com tintura de iodo ou aplicavam-se meia dúzia de ventosas.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Nas dores de ouvidos, e quão fortes eram, a minha mãe procurava dar-nos alívio vertendo, lá para dentro, leite levemente aquecido, o que, segundo me lembro, pouco ou nada resultava. As dores só passavam quando a infecção era debelada pelas defesas próprias do organismo. Com as anginas, nome que se dava às amigdalites era a mesma coisa. As correspondentes dores de garganta, a febre e a dificuldade de engolir passavam ao fim do tempo que durava a luta dos leucócitos sobre o agente patogénico. Mas era crença generalizada que as anginas se curavam com as mezinhas caseiras e, assim, besuntava-nos a parte anterior do pescoço, onde se localizavam as ínguas, com pomada de beladona, sobre a qual se passava um lenço de algodão. Em complemento, gargarejávamos com água e sal, chupávamos sumo de limão, engolíamos colherzinhas de mel e fazíamos zaragatoas com azul de metileno. Este último tratamento, feito ao deitar, era aceite como uma brincadeira, porque tingia de verde a urina da manhã seguinte. Ir para a escola com um lenço atado ao pescoço, a cheirar a beladona não era agradável. Mas muito pior era quando o tratamento tinha sido feito com “enxúndia de galinha” que, com o mesmo propósito, era preferida pela minha avó. Esta gordura amarela da ave era guardada numa velha tigela de faiança de Sacavém, onde se oxidava, tornando-se rançosa e mudando a cor para castanho. Era nesta fase de apodrecimento, exalando um cheiro nauseabundo, que este unguento estava, dizia ela, em condições de produzir o efeito desejado.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Na maior parte dos casos estas amigdalites eram passageiras e com ou sem mezinhas acabavam por passar. Havia, porém, situações graves como o garrotilho, designação que se dava à difteria. Esta exigia o recurso ao médico, mas havia uma norma nesse tempo, segundo a qual o doutor só era chamado se, ao fim de três dias, o doente não desse mostras de recuperação, em resposta aos tratamentos caseiros. Por vezes, este tipo de procedimento tinha consequências fatais. Isto aconteceu com um meu vizinho e colega de escola, vítima desta angina má. O estado da doença causada pelo<i> Corynebacterium diphtheriae</i> não cedeu ao soro que lhe foi ministrado tarde demais. Foi a consternação na minha rua. Morrera um menino. Passados dois ou três dias sobre este trágico desfecho, comecei com dores de garganta e muita febre. A minha sorte foi o estado de alerta em que a minha mãe ficara, o que a fez chamar, de imediato, o nosso médico. Foi já amodorrado na cama, cheio de febre, que vi surgir, na porta do quarto, o Dr. Fonseca, pai. De farta bigodeira branca, a chegada do velho clínico confirmou os meus receios, afinal, os mesmos da minha mãe. Experiente destas situações, ela já tinha ali, à mão, uma toalha de linho destinada à auscultação. Não havia ou, se havia, ainda não se usava estetoscópio. O paciente, de tronco despido, era coberto por este pano que a tradição e o brio da dona da casa mandavam que fosse branco e se apresentasse sempre muito bem passado a ferro. Com esta toalha de permeio, o médico encostou-me o ouvido às costas e ao peito, mandando-me respirar fundo, parar de respirar, tossir e dizer trinta e três, à medida que ia procurando, em audição directa, as respostas dos meus pulmões. Observou-me depois a garganta com o cabo de uma colher a servir de abaixa-línguas, e a sua conclusão, dita à minha mãe, numa voz descontraída que deu para eu ouvir perfeitamente, foi:<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">- Temos aqui, dona Adília, um caso de angina diftérica.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Face a esta afirmação, recordo, afundei-me resignadamente nos lençóis, convicto que teria o mesmo fim do Cardoso, o meu colega acabado de enterrar. Pouco depois da saída do médico, entrou a menina Rita, a enfermeira que habitualmente nos assistia, para me injectar o soro e, assim, as imunoglobulinas do fármaco inactivaram as toxinas produzidas pela bactéria, mas encheram-me de urticária, situação que se resolveu depois com um antiestamínico (Anafilarzan).<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Foi um tempo em que a única vacina era a que se dava contra a varíola, enfermidade grave, tantas vezes fatal, conhecida por toda a gente por bexigas, pois deixava os poucos que lhe sobreviviam marcados pelas inúmeras pequenas cicatrizes das vesículas pustulentas espalhadas por todo o corpo, particularmente visíveis no rosto.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Uma entorse, por exemplo, num artelho ou num pulso resolvia-se, via de regra, com escaldões num alguidar com água quase a ferver onde se dissolvia um punhado de sal. Aí se mergulhava o pé ou a mão e parte do antebraço, procurando resistir ao intenso calor, o tempo considerado necessário. Por último apertava-se a articulação com uma ligadura, no sentido de a imobilizar e reduzir o inchaço. Depois era esperar uns dias até o incómodo passar. Nos casos mais difíceis de resolver por esta via, a mãe recorria a uma vizinha tida por muito virtuosa, para que ela “cosesse o torcegão”. Conheci a virtude desta senhora uma vez em que, correndo no Largo dos Penedos, torci um pé no sítio do tornozelo. Chegado a casa dela, levado pela minha mãe, a senhora mandou-me sentar à sua frente, numa cadeirinha baixa, pegou-me no pé magoado e ajeitou-o sobre os seus joelhos. A seguir tirou-me a ligadura, encostou um novelo de lã cinzenta à zona mais inchada e começou a “cosê-lo” com uma agulha grossa onde enfiara um pedaço de lã do mesmo novelo, sem o habitual nó na ponta do fio. A agulha e o fio iam entrando e saindo ao ritmo de uma reza, dita em surdina, para mais ninguém ouvir. Recebida da mãe à hora da morte, guardá-la-ia consigo enquanto vivesse e só ao sentir-se morrer a transmitiria à mulher que ela entendesse merecer tal virtude. A intervalos de tempo, como se de um refrão se tratasse, perguntava em voz bem audível.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">— O que é que eu coso? – e a minha mãe respondia, por mim.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">— Carne quebrada, nervo torto. – E a senhora confirmava – “Isso mesmo é que eu coso”.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Historic", sans-serif" style="font-size: 11.5pt;"><span style="color: #2b00fe;">Terminada a cosedura, repôs-me a ligadura e recomendou-me repouso e mais uns escaldões. O incómodo acabou por passar e tudo voltou ao normal alguns dias depois. Habituada que estava na assistência à doença, numa casa de família com seis filhos, a minha mãe passou a assumir, sempre que necessário, o papel da virtuosa senhora. Não conhecendo a tal reza, substituía-a por Padre Nossos e Avé Marias, com idêntico bom resultado. Em sua muito convicta opinião, o que contava era a fé com que se rezava.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-29942538206994530692024-01-15T17:17:00.006+00:002024-01-15T17:17:57.553+00:00No "Correio de Lagos" de Dez 23<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEidKv6igqUATsqwWVWeSNAvJKdzh8_gV1ay-CYKOIF7vfTqBUcRUb5apm--dnZH4g4XzMUi5B7H9GwJ30BCCiWSbGHJAyxxEQGlIOcnRT63gupXyZ2GTgVDAaPisJjrMddPylMOAc4yHvjp16cvnKgTvZmTtJnOj-txmc1B8gZ1_xia0d39r6ngtw" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="698" data-original-width="536" height="449" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEidKv6igqUATsqwWVWeSNAvJKdzh8_gV1ay-CYKOIF7vfTqBUcRUb5apm--dnZH4g4XzMUi5B7H9GwJ30BCCiWSbGHJAyxxEQGlIOcnRT63gupXyZ2GTgVDAaPisJjrMddPylMOAc4yHvjp16cvnKgTvZmTtJnOj-txmc1B8gZ1_xia0d39r6ngtw=w344-h449" width="344" /></a></div><br /><p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9969248.post-77618413290551188032024-01-13T08:19:00.005+00:002024-01-13T08:19:34.931+00:00 Grande Angular - Santos e diabos. Polícias e ladrões.<p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Por António Barreto<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span></b> <b>Partido Socialista </b>é, cada vez mais, o partido do regime. Está a ficar parecido com o que foram, durante uns tempos, o Partido Conservador britânico ou os partidos Gaullistas franceses. É o partido da democracia portuguesa. Não era esse exactamente o sonho de Mário Soares, mas foi o de Sá Carneiro e a obsessão de Cavaco Silva. Os dois últimos falharam. Nunca estiveram tão próximos de ser o partido do regime como o PS de hoje, herdeiro de Guterres e de Sócrates, filho de Costa e de Santos. O que é uma vantagem para os socialistas e certamente um motivo de orgulho. Mas os benefícios para a população são muito discutíveis. Até porque não é partido do regime quem quer e só porque quer. É também preciso que o deixem ser.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O grande sonho do PS consiste em transformar-se numa espécie de PRI mexicano, o Partido Revolucionário Institucional! Só o nome é um programa! Único na história a juntar, na mesma designação, revolução e instituição! O PS conseguiu meter tudo dentro. Do liberalismo ao socialismo, passando pelo corporativismo. Tanto ajuda, apoia, subsidia e controla a economia privada como a empresa pública. Foi o maior obreiro da Constituição, mas também o seu mais importante revisor ou revisionista. Dentro de si cabem todos. Há lugar para todos e acredita em tudo, desde que esteja no poder e que os seus dirigentes desempenhem as primeiras funções.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Na verdade, dentro do PS, há de tudo. Santos e demónios. Polícias e ladrões. Virtuosos e bandidos. Maçons e católicos. Rigorosos e trafulhas. Por isso se sucedem a si próprios, por isso se alternam. Neste PS, está o público e o privado. O nacional e o estrangeiro. O judeu e o palestino. O americano e o russo. Guterres e Sócrates. Costa e Santos. Tudo cabe no PS que consegue sempre mudar de pele sem mudar de corpo. Melhor ainda, o PS é capaz de criticar, com aparente inocência, o que está mal no país e não corre bem por sua própria responsabilidade. Com enorme sentido da oportunidade, faz o mal e a caramunha.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Sempre o PS teve uma predilecção pelos serviços públicos. É o seu melhor lado, a sua primordial inspiração. Acontece que é crente, mas não praticante. O estado actual em que se encontram muitos serviços púbicos faz-nos pensar em ciclos de bancarrota ou situações depois de catástrofe natural. As cidades são esvaziadas, é o termo, dos seus habitantes tradicionais. Nas ruas de Lisboa e Porto, regressam os mendigos, os sem abrigo e os despejados sem capacidade económica. A crise da habitação parece planeada pelos especuladores. O caos do Serviço Nacional de Saúde é inimaginável. É escandalosa a absoluta falta de previsão das necessidades, dos meios, dos profissionais e dos recursos para a saúde. Tal como a incapacidade para gerir a escola pública, que parece em permanente desastre.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;"><b><span style="font-size: 18pt;">O</span></b> partido e os seus dirigentes revelaram um excepcional talento para adoptar todas as políticas possíveis. Sucessivamente ou, se for necessário, ao mesmo tempo. Aliaram-se com a direita, com o centro e com esquerda, com a mesma sinceridade. É o único partido que já se coligou com quase todos os outros: CDS, PSD, PCP e Bloco, sem falar nos governos provisórios onde estavam em circunstâncias excepcionais. Nacionalizaram e privatizaram com igual alegria. Tiveram tantas políticas económicas, agrícolas e industriais, quanto os ministros que nomearam e não foram poucos. Com igual firmeza, foram centralistas, descentralizadores e regionalistas. Construíram incansavelmente o Serviço Nacional de Saúde, que estão em vias de destruir ou deixar decair com cuidadosa minúcia. Tiveram várias políticas de educação, ao sabor dos ministros, com cujas ideias, as boas e as más, navegaram alegremente. Foram campeões do endividamento e brilharam pelo modo como reduziram o mesmo. Levaram o país à bancarrota e pediram assistência financeira internacional. Quando havia recursos, gastaram tudo o que havia para gastar e foram, depois, autores dos primeiros grandes programas de austeridade. Defendem a abertura de fronteiras, são tolerantes e amigos dos imigrantes, mas os seus governos são os que mais permitiram o desenvolvimento do tráfego de mão-de-obra ilegal e a sobre-exploração de trabalhadores estrangeiros.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Os socialistas podem gabar-se de ter estado em todas, de terem sido responsáveis por tudo! Foram favoráveis a pelo menos quatro localizações diferentes para o aeroporto de Lisboa. Tal como apoiaram, hesitaram e combateram o TGV ou, antes disso, as auto-estradas. Nacionalizaram e privatizaram a TAP com igual destreza.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O novo secretário geral, Pedro Nuno Santos, anunciou ao que vinha. Depois de um enorme elogio ao antepassado António Costa e ao seu tempo histórico, garantiu que tudo isso, Costa e o seu tempo, estava acabado. Terminado. Ultrapassado. E prometeu que agora tinha chegado a sua vez. A “nossa” vez, como disse. Com singela delicadeza, anunciou tudo o que de novo e diferente quer fazer, tendo denunciado tudo o que anteriormente fez e em que colaborou.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">O partido de regime necessita de apoio popular. Hoje, na imprensa e na comunicação, tem-no como ninguém. Pedro Nuno Santos, depois de obra mal feita e antes mesmo de obra nova, tem o favor da imprensa como raros políticos recentes. Depois de, na oposição, ter ameaçado os alemães e os banqueiros europeus, é agora, ao comando do partido, um doce e sensato aliado da finança internacional, do capital estrangeiro e das empresas europeias. O seu programa económico, saído directamente da universidade, anunciado no encerramento do congresso, é uma declaração de paz e de rendição à economia europeia e ao capitalismo internacional, mesmo se na versão moderna, sistémica e tecnológica. Prepara-se para fazer, à direita, o que a mão esquerda não vê.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="color: #2b00fe;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #2b00fe;">Nem sempre é mau haver um partido de regime. Ou antes, um partido de regime não tem só más consequências. A democracia cristã em Itália, o partido Gaullista em França e o PRI no México, por exemplo, desempenharam essas funções durante uns anos e garantiram ciclos importantes na história dos seus países e na consolidação democrática. Mas também tiveram péssimas consequências políticas e sociais, sem falar na corrupção a pior chaga dos partidos de regime. Na verdade, a constituição de uma “grande família” de regime e partido é muito negativa para as liberdades e a honestidade. E tenhamos consciência de que, em democracia, um partido destes é assim porque os votos querem e os outros o deixam ser.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i>Público, 13.1.2024<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p>António Barretohttp://www.blogger.com/profile/18382026217475604915noreply@blogger.com2