20.2.07

Holograma

EVA PERON teve a Argentina aos pés da sua imagem de alternadeira amiga dos pobres e não se safou nada mal. Muitos primeiros - ministros fizeram pior do que ela. Hoje, no entanto, conta muito menos o que se faz e é mais importante aquilo que parece. As modernas democracias são imagem pura.
Na primeira república, Manuel Teixeira Gomes foi um grande político sem nenhuma imagem, enquanto António José de Almeida foi um pequeno político com uma grande imagem. Já em Roma se cultivava a imagem, embora ali existindo gente prudente e sábia capaz de dizer “prefiro que me interroguem por que razão não tenho eu uma estátua em Roma, a que me perguntem porque tenho eu uma estátua em Roma”.
Sócrates continua a mandar em São Bento e tem imagem, apesar de, até agora, só o termos visto ganhar jogos amigáveis. No entanto, ele acredita, secretamente, que triunfará, quando todas as suas utopias e promessas se converterem, finalmente, em realidade. Vamos esperar para o aplaudir e lhe darmos razão ou para nos convencermos de que não passa dum holograma.
«25ªHORA» - «24 horas» de 19 Fev 07

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nos regimes ditatoriais ou absolutistas, explica Tocqueville, o despotismo atinge grosseira e rudemente o corpo. Encarcera-o, sevicia-o, elimina-o com as detenções e as torturas, as prisões e as Inquisições. Com as decapitações, os enforcamentos, os fuzilamentos, as lapidações. E, fazendo assim, ignora a alma que, intacta, se pode elevar acima das carnes martirizadas e transformar a vítima em herói.

Pelo contrário, nos regimes inertemente democráticos, o despotismo ignora o corpo e atira-se furiosamente à alma. Porque é a alma o que quer encarcerar, seviciar, suprimir.

Com efeito, não diz à vítima : «Ou pensas assim, ou morres». Diz : «Escolhe. És livre de não pensar, ou de pensar como eu. E se pensares de maneira diferente de mim, não te punirei com os autos de fé. Não tocarei no teu corpo, não confiscarei os teus bens, nem lesarei os teus direitos políticos. Inclusive poderás até votar. Mas não poderás ser eleito porque afirmarei que és um ser impuro, um louco ou um delinquente. Condenar-te-ei à morte civil, farei de ti um fora-da-lei e o povo não te escutará. Mais : para não serem também punidos, os que pensam como tu também te abandonarão».

Este pedaço de prosa encontra-se em "A Força da Razão", de Oriana Fallaci, pág 273/274, edição portuguesa, editora Difel.

O problema pode não ser bem aquele que Joaquim Letria coloca, mas sim o de saber se um dia destes ainda temos um verdadeiro regime democrático ou uma caricatura democrática, mais parecida com a Acção Nacional Popular.
Jorge Oliveira

21 de fevereiro de 2007 às 06:36  

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