1.12.08

Perguntas assassinas

Por Alfredo Barroso
UM DIA DESTES as pessoas não aguentam mais. Tantos sacrifícios infligidos àqueles que pouco ou nada têm – a esmagadora maioria – são insuportáveis. E tanto zelo a proteger os que tudo têm – a escandalosa minoria – é intolerável. Qualquer dia vai tudo raso!
Os cidadãos anónimos começarão a fazer – em público e em coro – perguntas assassinas a um governo de maioria absoluta, que de socialista só tem o nome, e que, na prática, só protege os senhores do dinheiro, sacrificando os que apenas vivem do seu trabalho.
Poderão dizer que é demagogia, mas faz todo o sentido perguntar porque é que seria tão prejudicial para a imagem deste país deixar falir o BPP, um minúsculo e ridículo banco que apenas gere fortunas dos muito ricos – especulando sem freio na bolsa – e já não é prejudicial para essa imagem deixar que fechem as portas dezenas de empresas que nem sequer faliram – algumas fecham tão-só para reduzir os custos das multinacionais – e que, assim, lançam no desemprego e na pobreza vários milhares de trabalhadores?!
Mais: porque é que o Estado saca do dinheiro dos contribuintes para proteger o BPN, banco de vigaristas de alto coturno afogado em burlas de toda a espécie, como se fosse bom para a imagem do país salvar a face de uma instituição corrupta que tem enchido os bolsos de alguns dos mais indignos representantes do chamado «bloco central»?!
Há limites de tolerância para tão flagrantes injustiças e tanto escândalo. Será que ainda não perceberam que o «capitalismo de compinchas» é uma vergonha e está a ruir?
NOTA: Será premiado, com um exemplar deste clássico da literatura policial, o autor do melhor comentário feito a esta crónica até às 20h do dia 4 Dez 08. Dado que o texto está igualmente afixado no blogue Traço Grosso, serão tidos em conta, também, os comentários que lá forem colocados.
Actualização (4 Dez 08/20h20m): o júri decidiu atribuir o 1.º prémio a Carlos Ponte (que vai receber o livro indicado) e o 2.º prémio a Bernardo Moura (que vai receber um livro de O Santo). Obrigado a todos!

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18 Comments:

Blogger Manuel Baptista said...

Eu não procuro nenhum prémio.
Procuro encontrar pessoas de boa vontade que queiram olhar para além do capitalismo, pois no capitalismo, com mais ou menos respeitabilidade, é sempre a lei do lucro. É o capitalismo em si mesmo que é obsceno. As formas de obscenidade concreta das pessoas e instituição que nele se movem, apenas confirmam a impossibilidade de o moralizar.

O que me causa calafrios, quando penso nas gerações dos nossos filhos e netos, é que estão realmente muito longe de conseguirem, com o fraco equipamento moral que lhe deram os pais (mantendo-os numa cultura hedonista) de fazer aquilo que tem de ser feito: varrer o sistema capitalista. Mas realmente a profecia «socialismo ou barbárie» está a realizar-se plenamente aos nossos olhos.
Não há socialismo possível quando as pessoas são mantidas num estatuto de menoridade mental. É todo o problema do «empossamento» (empowerment)... uma revolução a sério terá que ser uma das mentalidades, da cultura, para que as reformas estruturais façam sentido. Uma transferência de poderes, seja em nome de quem fôr, não será revolução nenhuma, pois se manterão iguais ou piores. Muitas e repetidas experiências desse fracasso têm acontecido, nos últimos 150 anos.
Encaro o socialismo como um conjunto de práticas e de atitudes, mais ainda do que um sistema acabado de doutrinas e ideologias.

1 de dezembro de 2008 às 13:10  
Blogger mafegos said...

eu também não quero prémio nenhum,pois as finanças vinham logo atrás de mim.
Esta do estado ajudar estes bancos,é caso para dizer,que os que são roubados,ainda emprestão o dinheiro dos seus impostos aos salafrários.
Uns abrem bancos outros encostam-se aos lugares nas empresas públicas.
Corre aí uma notícia,que o BCP com a anuência de alguns poderes angolanos,usurpou um terreno em Angola,mais propriamente em Luanda e não pagou ao seu legitimo proprietário,como é possivel um banco com dinheiros do estado português cometer esta fraude.

1 de dezembro de 2008 às 15:44  
Blogger FranciscoSantos said...

Parece já serem muito poucos (curiosamente já na reforma política ou a caminho dela) os que no Pêésse se disponibilizam para dizer em voz alta que o rei vai nú.
Por isso quero começar por lhe dar os meus parabéns, por manter essa postura de esquerda e de anti-conformismo.
Não sou militante socialista nem de nenhum partido político, mas votei algumas vezes no PS.
No contexto actual, em que os governos de Portugal das últimas décadas têm dado cumprimento integral ao papel que nos é atribuído pelas instâncias de regulação internacional (UE, OCDE, FMI/BM), a actuação do governo Pinto de Sousa acompanha, sem dúvida, as "melhores práticas". É por isso que tudo faz para desvalorizar a Escola Pública Republicana e Laica, depois de ter acabado de entregar a saúde aos interesses privados.
É também nessa lógica que tem que se entender a vergonhosa actuação do governo e do regulador no caso dos bancos privados, sejam eles o BCP, o BPN ou o banco dos especuladores BPP.
À falta de um Buiça, talvez nos chegasse uma reencarnação do Salgueiro Maia.

1 de dezembro de 2008 às 16:49  
Blogger Black said...

"Há limites de tolerância para tão flagrantes injustiças e tanto escândalo. Será que ainda não perceberam que o «capitalismo de compinchas» é uma vergonha e está a ruir?" - tem toda a razão Alfredo Barroso.

E a verdade é que esses compinchas continuarão a roubar impunemente enquanto o Estado não entregar à legítima proprietária o dinheiro que lhe é desviado.

Enquanto uns roubam o dinheiro da princesa outros aproveitam-se e roubam noutros lados - num, cada vez mais incerto, equilíbrio de chantagens.

1 de dezembro de 2008 às 16:51  
Blogger fcr said...

Hoje é o 1º de Dezembro! Será que sabem o que lhe deu origem e o que o promoveu? se não, verifiquem e irão compreender o porquê da matéria actual!

1 de dezembro de 2008 às 17:05  
Blogger Jorge Oliveira said...

Ah, o BPN é um banco de vigaristas, dos mais indignos representantes do chamado bloco central ?!

Bem, que havia lá uns vigaristas do PSD já toda a gente tinha percebido. Mas se a coisa mete bloco central, quais são então os vigaristas do PS ?

A eterna dúvida...

1 de dezembro de 2008 às 19:57  
Blogger Ana said...

É este o país que temos, minhas senhoras e meus senhores. É triste a sina que nos persegue... Não temos governantes à altura de uma nação que foi outrora uma das maiores do mundo. Talvez tenha sido esse o grande problema de há uns séculos para cá.
Somos um povo trabalhador e que gosta de ir à luta, no entanto não temos do lado de lá alguém que nos estimule e nos permita muitas vezes seguir em frente.
A questão da "salvação" destes bancos é rídicula, mas necessária para assegurar os investimentos das homens "fortes" do nosso país. Caminhamos a largos passos para extinção da classe média, e o limiar da pobreza é cada vez maior.
Com um país que está quase sempre na cauda da Europa, onde paira o orgulho de ser português, que nos permitiu no dia 1 de Dezembro de 1640, restaurar a nossa independência?
Hoje a nossa independência está cada vez mais dependente nas mãos destes senhores...

1 de dezembro de 2008 às 20:26  
Blogger jotabil said...

Procuro um prémio....no sonho de poder encontrar a coragem nas palavras, apenas inscritas nas mentes estarrecidas perante a cobiça e a fuga.

1 de dezembro de 2008 às 20:26  
Blogger Bmonteiro said...

Esta crónica, repete uma verdade há muito verificada nas sociedades políticas.
Enclausurados nos seus gabinetes, divorciados da realidade, os responsáveis são por vezes surpreendidos.
Sucedeu em Portugal em 25Abr74 a alguns. Àqueles que tiveram de fazer as malas e procurar refúgio em Espanha ou no Brasil (por uns tempos).
Surpreendidos pela revolução, pelos deserdados, pelos sans-culotte daquele tempo.
Até que novamente restabelecidos, porque a memória é curta e a inteligência que preside aos poderosos, mesmo em democracia, não escapa ás contingências da condição humana:
“O código cósmico” (a física quântica como linguagem da natureza)
«Se é que existe uma tal consciência colectiva, não faço a menor ideia de como comprovar a sua existência. Aqueles que apelam para uma consciência colectiva como «a vontade do povo» fazem-no geralmente para servir os seus interesses ou as suas opiniões políticas ou sociais»
Heinz R. Pagels, Gradiva (Lisboa)
José B. Monteiro

1 de dezembro de 2008 às 23:37  
Anonymous Anónimo said...

Bravo!
Bem haja quem não se cala.
A forma descarada como roubaram este país é de deixar qualquer um atónito. Sim, roubaram este país. O mais grave é que foram filhos a roubarem a mãe.
Não entendo esta obscena situação, nem a irei entender. Custa-me pensar no que vem ai. Lamento que nada se irá mudificar. Muitos, mas muitos dos nossos compatriotas gostam ou são lambe-botas e vão votar novamente num governo que nos vai deixar sem nada, apenas com o sorriso escabroso do Socas.
Vamos colocar um anúncio em nome de Portugal? Seria: "Precisa-se de sangue-novo para gerir um país que está mal." .

Abraço

2 de dezembro de 2008 às 09:15  
Blogger Karocha said...

Pergunta assassina.

Caro Dr. Alfredo Barroso, o Senhor que é um homem de bem, que gosto tanto de ouvir quando fala na SICN e, que ainda por cima nasceu naquele Pais tão bonito, que tanta cultura e beleza deu ao mundo, diga-me, porque não responde ÀS PERGUNTAS ASSASSINAS?

3 de dezembro de 2008 às 00:19  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Explicação:

Pelo menos neste livro, «dinheiro negro» significa «dinheiro sonegado ao fisco».

Pelo que é dito, nos EUA (pelo menos nessa época - anos '60' do século passado), esse crime era severamente punido.

3 de dezembro de 2008 às 13:34  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Absolutamente a não perder a entrevista de Manuela Moura Guedes a Paulo Portas, na TVI, onde ele coloca uma boa dúzia de perguntas assassinas a Vítor Constâncio - [aqui].

Tanto quanto sei, ele já as colocou directamente ao mesmo V.C., no Parlamento, mas as respostas foram chochas...

3 de dezembro de 2008 às 21:09  
Blogger Alfredo Barroso said...

Vi Paulo Portas na TVI, sexta-feira passada, e fiquei impressionado com a forma como arrasou o Governador do Banco de Portugal, com documentos avassaladores e argumentos demolidores.

Em qualquer outro país democrático civilizado, um Governador do Banco Central não teria resistido a acusações tão bem fundamentadas e, por uma questão de decência, ter-se-ia demitido no dia seguinte.

Mas este País é o que é, o Governador goza da protecção do ministro das Finanças (aliás, tão incompetente como ele) e a ambos o Primeiro-Ministro põe-lhes a mão por baixo (como deus faz ao menino e ao borracho).

Curiosamente, o presidente do CDS/PP, Paulo Portas, é, neste momento, o único político de direita que dá sinal de vida e o único dirigente partidário que demonstra que a direita ainda mexe.

O PPD/PSD, coitado, continua a pairar no vazio do discurso político incoerente, insensato e sem sentido da sua pobre presidente, Manuela Ferreira Leite.

4 de dezembro de 2008 às 10:22  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Portas fez aquilo que devia ser o bê-a-bá da Oposição: fez o trabalho de casa, e encostou à parede adversário. Na medida em que este tem o apoio do governo, o que Portas fez chama-se, simplesmente, "oposição a sério".

4 de dezembro de 2008 às 10:28  
Blogger carlos ponte said...

Na admirável obra “Memórias de Adriano”, Margarite Yourcenar, apresenta-nos um imperador próximo da gente comum, atacado pelas mesmas fraquezas que atormentam a gente anónima. Tendo recebido imensos territórios do seu antecessor Trajano, Adriano, suspende a sanha conquistadora do antepassado e dedica parte da sua vida a solidificar as conquistas recentes. Adriano é um amante da cultura, discreto e reflexivo. Não muito longe já, do fim da vida, numa carta escrita ao jovem Marco, Adriano confidencia-lhe: "Foi em Roma, durante as longas refeições oficiais, que me aconteceu pensar nas origens relativamente recentes do nosso luxo, nesse povo de cultivadores económicos e soldados frugais, alimentados de alho e cevada, subitamente emporcalhados pela conquista nas cozinhas da Ásia, tragando aquelas comidas complicadas com uma rusticidade de camponeses dominados por fome canina".
Socorro-me desta obra para comentar os negócios escandalosos que nos vão entrando pelas portas adentro, pontualmente, às oito da noite de todo o santo dia. Não necessitamos, sequer, das capacidades meditativas de Adriano para concluir que, tal como os romanos, também nós, muito recentemente ainda, não passávamos de uns cultivadores económicos. Quem não se lembra daquela célebre fotografia do “ganhão”, enquadrado por uma paisagem bucólica, deixando ver as botas cardadas e com a sola já furada? As nossas recentes “conquistas” nas “cozinhas” da União, ao tempo Comunidade, emporcalhou muita gente que não estaria preparada para aquela súbita entrada de “comida”. O resultado é o que já sabemos. Espero, esperamos todos, que todos estes exageros dêem pelo menos para uma reflexão profunda sobre o papel que a todos e a cada um de nós está reservado sob pena de vermos uma matilha de cães esfaimados dizimar todo um rebanho dócil e triste.

4 de dezembro de 2008 às 16:09  
Anonymous Anónimo said...

Muito obrigado pelo prémio.

Abraço

5 de dezembro de 2008 às 02:07  
Blogger carlos ponte said...

Obrigado pelo prémio e pela feliz ideia que tiveram.

6 de dezembro de 2008 às 14:47  

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