11.3.11

Sabemos o peso das palavras?

Por Ferreira Fernandes

SABEMOS O PESO das palavras? Como elas nos responsabilizam, sobretudo aos profissionais delas, os jornalistas?
Volto ao assunto porque estou estupefacto com o que li, ontem, no jornal Le Monde, que já foi uma bíblia. Os correspondentes do Le Monde eram a autoridade que nos levava ao Cairo ou Pequim, na pré-história, quando a CNN ainda não nos ligava em directo a esses mundos longínquos. Na edição de quarta-feira, o enviado do jornal a Tripoli conta que, à porta do hotel onde está, a convite de Kadhafi, uma mulher o interpelou. Ela quis dar-lhe "notícias angustiantes" e disse "palavras muito duras contra o regime." O testemunho foi interrompido porque ela teve medo. Entretanto, disse ao jornalista que trabalhava numa escola próxima. No dia seguinte, o jornalista foi lá, ela ficou embaraçada mas apresentou-o ao director da escola. Na presença dos colegas, a mulher disse o contrário do dia anterior, garantindo que tudo estava bem em Tripoli. Título de Le Monde: "O discurso duplo de uma professora em Tripoli..." O discurso duplo de quem, manifestamente, teve medo. De alguém que Le Monde, não nomeando, fez saber quem era e facilmente pode ser encontrado. Num país a saque...
Este exemplo de irresponsabilidade é próprio de quem olha o mal dos outros como um espectáculo. No quentinho de décadas de democracia, os europeus não estão capazes de ver o mundo. E, agora, nem Le Monde os ajuda.
«DN» de 11 Mar 11

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1 Comments:

Blogger brites said...

Quem nos garante que é medo?
É tão abusivo garanti-lo, como o contrário.

Os jornalistas fazem quase sempre coberturas da guerra subjectivas,mais ao jeito dos seus desejos do que da realidade. Os que não engatilham no discurso "normal" são contestados.
e a sua seriedade posta em causa.

Estando a maior parte formatada à ocidental,age em conformidade.

13 de março de 2011 às 10:47  

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