10.4.11

A lição de '12 Homens em Fúria'


Por Ferreira Fernandes

O FILME antigo 12 Homens em Fúria podia ter por título "Lá dentro Escaldava", por toda a acção se passar dentro de uma sala de jurados, mas seria errado. O autor quis dizer, mesmo, que aquilo era sobre 12 jurados, um a um, cada um com a sua consciência.
Foi o primeiro filme de Sidney Lumet, é de 1957, e trago-o para aqui em agradecimento ao grande realizador moralista que morreu ontem.
12 Homens em Fúria
deveria ser ensinado nas escolas como aula de moral. A história: um rapaz pobre é julgado pela morte do pai e o júri reúne-se para decidir a pena capital ou não. À primeira votação todos votam "culpado" com excepção do jurado n.º 8 (Henry Fonda). Este está convencido de uma coisa: tem dúvidas. E essas dúvidas, perante a enormidade que estava em jogo (a vida ou morte do rapaz), obrigam-no a ser tenaz. Ele pergunta, insiste, argumenta, até fazer com que os seus companheiros de decisão também sejam interpelados pela consciência.
Todo o filme viver dentro de uma sala coloca o espectador perante si próprio - essa a genialidade artística de Lumet. Mas o filme vale sobretudo por nos ensinar o mundo, a olhá-lo e decidir. No fim, todos os jurados votam "inocente". E, não, não é um filme contra a pena de morte, é contra a imprudência (indecência, até) de não termos dúvidas.
Esse o método que deve ser ensinado na escola. Porque depois, quando somos cronistas, bloguistas e comentadores televisivos, já é tarde.
«DN» de 10 Abr 11

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2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O filme referido nesta crónica pode ser visto, integralmente, no YouTube. Afixa-se, aqui, a "Parte 1/10", aparecendo depois, do lado direito, os links para as restantes.

10 de abril de 2011 às 11:19  
Blogger GMaciel said...

Concordo. Penso que se deve "ensinar" a pensar, a questionar, a duvidar das "evidências", coisa assaz difícil nos tempos que correm, quando o que se ensina e como se ensina não pode ser colocado em questão.

Mas antes de tudo isso, penso eu que deveríamos reconquistar os conceitos de verticalidade e imparcialidade, entre outros caídos em desuso e, porventura, censurados hoje como sinal de fraqueza, pois sem uma coluna vertical sucumbe-se ao poder de quem manieta.

10 de abril de 2011 às 12:25  

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