25.1.14

O País a nu, como no Meco

Por Ferreira Fernandes 
Amanhã, os jovens corvos voltarão às ruas. Não se escondem, o fato é comum para todos, preto e sobre ele uma capa pesada, faça sol ou frio. Aqueles fato e capa não escondem, expõem a aceitação da mais bizarra das afirmações: somos manada. Num jovem não seria de esperar rebeldia e inquietude? Ora, ora, talvez agora o padrão seja outro, ser rancho, ser grupo. E de grupo sem mérito nem voo. Ali, naquele país inculto e pobre, anunciar pelo fato e pela batina uma conquista, mesmo patética, já é conquista: olhem, sou estudante universitário! Fica com a taça, jovem corvo. Nunca saberás que o mérito seria teres participado em debates e ganho, ou perdido, mas participado; seria teres gozado o prazer de aprender, de duvidar, de perseguires, mesmo erradamente, a luz. Mas esse não és tu. Tu, goza os teus três, quatro anos de fato de luto - o único diploma que te distinguirá a vida inteira, três, quatro anos a andar pelas ruas a proclamar nada. Entretanto, sobe um patamar e praxa. Isto é, leva a tua ambição ao nível dos fundilhos do teu traje. No começo, obedece e humilha-te. Serás premiado, depois, com mandar e humilhar. Fica-te por aí, rasteiro. De grande, só a colher de pau. Fica-te por aí, és o País. Sem saberes que um só dos teus podia redimir a todos. Um só estudante, bela palavra, no pátio de uma universidade, bela palavra, dizendo as mais certas das palavras para um jovem: não vou por aí. 
«DN» de 25 Jan 14

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Um texto pequenino mas muito oportuno.
E tristemente belo.
Uma pena, muitos universitários não terem o hábito de ler. Mesmo textos pequeninos, oportunos e tristemente belos.
Para onde ides, jovens do meu país?
E que pais fomos nós, homens e mulheres da minha geração?
Assim os educámos, assim os temos.
E (há quem diga que) merecemos.
Eu também me conto entre os que, embora passageiramente, se iludiram com a ideia do ser humano naturalmente bom.

25 de janeiro de 2014 às 16:15  
Blogger Agostinho said...

E se esta crónica fosse de leitura obrigatória nas Universidades com discussão entre professores e alunos?

25 de janeiro de 2014 às 19:50  

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