10.10.15

“Erro” ou homofobia

Por Antunes Ferreira 
Inadmissível? Lamentável? Ignominioso? Desleixo? Este pot-pourri de interrogações não serve para qualificar o que é inqualificável. Refiro-me obviamente à actuação de José Rodrigues dos Santos, um pivot de qualidade mas também de alguns excessos frente às câmaras da RTP. Por mais desculpas esfarrapadas que sejam apresentadas (e que já foram por Paulo Dentinho, director de Informação da televisão pública, ao visado) tenho de estar do lado do povo: ”desculpas não curam!” 
A cena caricata (para não dizer pior!) teve por protagonista (indesejável) Santos que ao apresentar os deputados à nova Assembleia da República, afirmou que “o deputado mais velho tem 70 anos e foi eleito - ou eleita - pelo PS.” Decorreu na quarta-feira no telejornal. Gafe, descuido, distracção? Um jornalista como JRS, qualificado universitariamente, tarimbado por muitas intervenções vividas em cenários de guerra, inúmeras reportagens e etc. não pode dar-se ao luxo deste incrível lapso (???). O professor jubilado Alexandre Quintanilha é homossexual assumido e casado com o escritor norte-americano Richard Zimler. 
Também e como é sabido sou jornalista, reformado ao que dizem, pois para mim um jornalista nunca se reforma e aceito que se cometa um erro, seja por que por que motivo for. Quem anda em tais vidas – e, curiosamente, também andei – por mais que o alinhamento dum programa em directo não pode dizer “o deputado mais velho tem 70 anos e foi eleito – ou eleita pelo PS”. Uma simples regra da morfologia – que aprendi na 4.ª classe da instrução primária (quando a havia…) diz que o sujeito sujeita o complemento directo em número, grau ou espécie.
Parece que nos dias que vão correndo a terminologia é outra; mas foi assim que aprendi e embora se diga que só os burros não mudam, continuo a sentir-me confortável com aquilo que digo e escrevo. Outro tanto digo sobre o famigerado Acordo Ortográfico que para mim é hortugráphico... Mas, já me afastei do objectivo que aqui me traz: o dislate, mais, o despautério de José Santos.
Explico: quando o pivot diz o deputado foi eleito, por mais distraído que esteja e não deve estar, não pode concluir, dando de barato que a gramática não é uma cebola, “ eleito ou eleita”. Mau… Desse-lhe o nome mais antigo ou mais moderno (eu fico-me pelo primeiro) parece que há casos em que não se deve respeitar a concordância. Assim sendo, pergunto: em que ficamos? Cumprem-se as mais elementares regras? Não se cumprem? Sabe muito bem JRS destrinçar essa incómoda e maniqueísta situação. É escritor bem publicitado e professor universitário.
Confessou ele um dia depois que “por equívoco, referi que o deputado mais velho eleito para o parlamento era uma mulher. Na verdade, o deputado mais velho é Alexandre Quintanilha”. Estava levantada a polémica. As redes sociais que dia-após-dia vão aumentando o seu poder de disseminação começaram de imediato a publicar inúmeras mensagens a insultar o apresentador e exigindo severa punição.
O provedor do telespectador, outro jornalista, Jaime Fernandes, disse que também na quinta-feira  recebeu “dezenas de protestos” sobre a infausta “notícia” do telejornal e que vai abordar o assunto no seu próximo programa. Já o inefável Carlos Magno (também jornalista, isto tem uma mão-cheia deles…) veio dizer que não participa em “caça às bruxas” e que não concordava com o processo que o Conselho Regulador da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social tinha anunciado que decidira “abrir um processo contra a RTP" devido à notícia do Telejornal de quarta-feira sobre os novos deputados.
Em comunicado, a ERC referiu que o processo contra a estação pública resulta da "notícia do Telejornal de ontem [quarta-feira] sobre os novos deputados", explicando que a abertura do mesmo "deve-se a indícios de violação de direitos fundamentais dos cidadãos". Este anúncio surgiu depois do director de informação da televisão (ainda) nacional, Paulo Dentinho perante o anúncio do processo pela ERC ter vindo “esclarecer” que se tratou de "um erro não intencional" a referência no feminino, feita pelo apresentador José Rodrigues dos Santos, quando falava do deputado Alexandre Quintanilha, a quem já foram pedidas desculpas.
Aqui, faço mais uma pergunta: que vai sair deste imbróglio? Talvez nada. Num país em que ainda na quinta-feira o senhor que vive em Belém e às nossa custas veio reivindicar a necessidade de uma revisão constitucional para ampliar os poderes do Chefe do Estado. Mas quem é senhor gajo para se intrometer nos domínios da Assembleia da República e do (des)Governo. Cada vez mais tenho vergonha desde sujeito que se diz Presidente da República; infelizmente ainda tenho que o aturar durante mais quatro meses.
Mas, voltando a R. Santos ainda me pergunto se foi um “erro não intencional” ou uma demonstração de homofobia? Quem souber – e se souber - responder-me que o faça. O ignorante autor ficar-lhe-á muito grato. Mas mesmo assim, não posso ditar para a acta: se eu fosse um Grande da RTP, José R. Santos já estava no olho da rua.

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1 Comments:

Blogger opjj said...

QUINTANILHA COMEÇOU BEM. Se forem estes os projectos de lei a apresentar estamos confessados. A homofobia começa pelos minoritários que nem admitem erros.
Que motivos tinham JRS para trocar as idades de propósito?
Veja etimologicamente o que é um casal e um mhomem e uma mulher.
Chamemos os bois pelos nomes, SÃO PARELHAS ou pares que denegridem a moral.
Imagine eu em frente aos meus netos e netas perante gente que só sabe falar de homossexualidade. SIM O PALEIO ANDA SEMPRE Á VOLTA DESTE ASSUNTO.
Porque não fazem a sua vida discreta como o comum dos cidadãos!

10 de outubro de 2015 às 19:54  

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