Grandes pontos!
HÁ ALGUNS disparates e incorrecções irritantes (que aparecem com frequência na Comunicação Social) que seriam evitáveis com uma boa 4ª classe à antiga - mas parece que estamos condenados a conviver com eles até ao fim dos tempos.
Entre os disparates, brilham os «ventos de (...) quilómetros-hora» e, entre os crimes linguísticos, «as (...) gramas».
Não menos irritantes são as incorrecções que mostram que há portugueses responsáveis que usam a norma anglo-saxónica em detrimento da europeia a que Portugal aderiu oficialmente há MUITOS anos:
Refiro-me, p.ex., aos números decimais com PONTO em vez de VÍRGULA (incorrecção praticada por Durão Barroso, Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Jorge Sampaio, etc.) e aos BILIÕES (que, em notação europeia, são «um milhão de milhões» e NÃO «mil milhões» (*)...
(*) A Ota vai custar mais de 3 mil milhões - e não mais de 3 biliões, como disse ontem Cavaco Silva.
Entre os disparates, brilham os «ventos de (...) quilómetros-hora» e, entre os crimes linguísticos, «as (...) gramas».
Não menos irritantes são as incorrecções que mostram que há portugueses responsáveis que usam a norma anglo-saxónica em detrimento da europeia a que Portugal aderiu oficialmente há MUITOS anos:
Refiro-me, p.ex., aos números decimais com PONTO em vez de VÍRGULA (incorrecção praticada por Durão Barroso, Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Jorge Sampaio, etc.) e aos BILIÕES (que, em notação europeia, são «um milhão de milhões» e NÃO «mil milhões» (*)...
(*) A Ota vai custar mais de 3 mil milhões - e não mais de 3 biliões, como disse ontem Cavaco Silva.
24 Comments:
Na TV, quando há notícias da Bolsa, é frequente ouvirmos dizer:
«Ontem desceu 1.3% mas hoje subiu 1,2%».
É a chamada "norma do tanto faz".
Santana Lopes também era um dos nossos "pontos"
Carlos, explique melhor essa dos crimes linguisticos relacionados com "quilómetros-hora e, entre os crimes linguísticos, as gramas.".
Deveriam dizer "Kilometros por hora"? Parece-me um preciosismo desnecessário no meio de tantas barbaridades ditas na TV. E "gramas" ? devia ser no singular? Ou ao facto de estar no feminino? Também acho que aqui se trata de um excesso de zelo e vontade de mal dizer...
Crime, crime foi ver na CNN no outro dia "100 kph"
E perguntam vocês: o que é um "kph" ?
Pois bem, "kph" é "kilometer per hour". Não estou mesmo a ver onde é que eles foram inventar semelhante barbaridade nem tão pouco porque é que não haveriam de por simplesmente "km/h".
Anónimo (M/F) das 15h 32m:
O "por" significa "divisão", e a sua ausência significa "multiplicação".
Assim, a velocidade é, p. ex., em "QUILÓMETROS POR HORA" (km/h); por seu lado, a energia eléctrica é, p. ex., em kWh (e não POR hora).
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Grama, unidade de massa, é um substantivo masculino.
Grama, s.f. feminino, é gramínias, relva.
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Defender que «estes disparates não têm importância porque há outros piores»... não comento.
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Sendo sinal de uma escolaridade deficiente, essas incorrecções podem ser desculpáveis em conversas de café mas não em telejornais e, muito menos, na boca de políticos responsáveis.
CMR,
O senhor do programa «A roça com os tachos» é que diz «DUZENTAS gramas».
Outros disparates de palmatória são os "kilogramas" (em vez de "quilograma" ou "kg") e os "kilómetros" (em vez de "quilómetro" ou "km").
E há também as centrais eléctricas com capacidade para alimentar uma terra com x habitantes «durante um ano» - será que no ano seguinte deixam de a poder alimentar?!
Ah! A imagem representa a minha professora primária, que partiu muitas réguas à conta de coisas como as que aqui são referidas...
E o terrífico "tem à ver" ou será que, quem disto isto (incluindo jornalistas televisivos), escreverá: tem haver ?
Mistério ... que tem que ver com a qualidade do ensino e por conseguinte dos professores que forma e não "tem à ver" com os tão invocados falta de meios.
Odete Pinto
E que tal o indivíduo que, segundo a TV, foi apanhado com «duas ponto oitenta e duas gramas»?
--
Sempre houve, evidentemente, quem "desculpasse a ignorância" (mesmo quando não é desculpável).
Mas há quem faça pior - e se orgulhe dela.
É, tipicamente, o caso de muitas «pessoas de letras» quando se referem, com ar superior, a «coisas técnicas».
Está enganado. Cavaco já incluía o valor final após os desvios… um milhão de milhão.
http://www.local-imperfeito.blogspot.com/
Local Imperfeito - JAC
Sou o "Anónimo (M/F) das 15h 32m:"
Carlos, se quer mesmo ser preciosista deverá usar as unidades no singular.
10 [m] - 10 metro
5 [v] - 5 volt
... etc ... etc ...
A meu ver caso não haja ambiguidade, não me parece assim tão dramático usar os "crimes" acima referidos.
ATENÇÃO: Não estou com isto a defender quem escreveu o que escreveu. Eu por acaso até sou geralmente acusado de preciosista :)
para o Anónimo das 3:57 PM:
Embora de facto seja "quilómetro" a palavra que faz parte da lingua portuguesa, teve origem certamente num desvio semelhante a considerar as gramas fêmeas. Pois deveria, a meu ver, ser "kilometro".
Sendo kilo um prefixo multiplicador por 1000 e metro a unidade do Sistema Internacional.
Saúdo o autor do blogue, pela sua boa doutrina e pela perseverança com que a defende e a inculca aos demais leitores, que, assim, nem precisam de comprar prontuário, nem consultar a velha gramática da Escola do António, a da Primária bastaria, para poupar nos dislates, nos despautérios, nos solecismos e demais barbaridades linguísticas.
Quanto às unidades, parece-me um preciosismo abstruso proferir cem metro : fulano avançou dez metro !!!, quando a linguagem normal, corrente e correcta aconselha a concordãncia entre dez e a unidade de medida. Já se for na escrita, aí deve escrever-se 10 m e basta. Sugiro, já agora, ao nosso distinto Medina que, num dos seus próximos apontamentos, explique a diferença entre m/s e m.s, entre unidades de potência e de energia, entre esta e combustíveis, etc., etc. Tudo coisas simples, mas onde reina a confusão mais desbragada, até na boca de digníssimos doutores e Professores dos ditos, em particular dos oriundos das economias ou da gestão ou da barra dos tribunais... e, por ora, boa noute, meus amigos.
Caríssimos,
Eu andava com preguiça de escrever um pequeno texto intitulado «O Caligráfico», que aborda estes mesmos assuntos.
Mas ainda hoje vou tratar disso e afixá-lo como post à parte.
Abraço
CMR
Há aqui várias questões ao mesmo tempo.
No que se refere aos quilómetros hora (ou passageiros ano, como dizem alguns ilustres quando falam dos aeroportos) trata-se claramente de um erro.
Como o nosso amigo Medina já explicou, quilómetros hora representa um produto. Tal como, por exemplo, homem hora, ou hora hoem, que representa uma unidade de trabalho. Mas o produto de um comprimento por um tempo não tem significado físico. O que tem significado é a divisão de um comprimento por um intervalo de tempo, grandeza a que se chama velocidade. Por isso, o correcto é quilómetros por hora, em que o "por" traduz uma divisão. E o mesmo com passageiros por ano.
No que se refere à, ou ao, grama, o Medina já disse tudo. Grama como unidade de massa é masculino. Ponto final.
No que respeita ao ponto em lugar da vírgula e aos biliões em lugar dos milhares de milhões já a coisa fia mais fino.
Não estamos perante erros propriamnete ditos, mas sim perante a utilização de convenções distintas, concretamente as normas europeias (continentais...) ou as normas anglo-saxónicas.
É natural que se recomende a um europeu e em particular a um português que utilize a vírgula para separar a parte inteira e a parte decimal de um número. Assim como se pode recomendar a utilização do milhar de milhão em lugar do bilião. Mas não se lhe pode dizer que está errado.
A existência de duas normas distintas é que constitui o problema. Quando o mundo se torna cada vez mais globalizado, é o dinamismo anglo-saxónico que vem ao de cima. Muito mais do que a timidez europeia. É a vida. Que norma, então, adoptar?
Jorge Oliveira
Caro Jorge,
O problema dos pontos e das vírgulas pode não ser importante, mas também pode ser - especialmente na escrita.
Se eu escrever «100.234»
estou - ou não - a querer dizer "cem mil duzentos e trinta e quatro"?
E há tb o problema inverso:
Se eu usar o ponto como indicador decimal, terei de usar a vírgula para a separação dos milhares, milhões, etc.
O nosso professor Ilharco dizia que, para evitar dúvidas (e se eu quisesse escrever, mesmo,"cem mil duzentos e trinta e quatro"), não se devia usar o ponto mas sim deixar um pequeno espaço de 3 em 3 dígitos.
É isso que procuro sempre fazer.
O problema é quando há mudanças de linha...
O que sucede é que, em geral, é possível (pelo sentido do texto) saber do que estamos a falar:
Alccolemia de 1.54 ou 1,54 não levanta dúvidas nenhumas. Mas isso nem sempre é possível.
--
Para evitar esses e outros problemas é que há as normas.
Para as publicações generalistas, há os chamados
"livros de estilo" (o do Público é bastante bom).
Curiosamente, o livro de Edite Estrela (escrito por 3 pessoas) baralha tudo isto. Diz uma coisa numa página e outra mais adiante.
Falámos sobre isso, e disse-me que ia corrigir em próximas edições.
Já agora:
Para os biliões, triliões, etc:
A norma europeia (a que Portugal aderiu) é conhecida como «a norma do n-lião»:
Considera-se o número escrito sob a forma de «1 milhão elevado a n»
Assim: «1 milhão ao quadrado» é «1 BIlião»; «1 milhão ao cubo é um TRIlião», etc.
Os intermédios são «mil milhões», «mil biliões», etc
Caro Medina
A norma que recomenda o uso da vírgula como sinal decimal, também recomenda um espaço entre cada conjunto de três algarismos e não o uso de pontos.
Mas a coisa é um tanto complicada. Se forem apenas quatro os algarismos na parte inteira ou na parte decimal, não se deve deixar o espaço.
Por exemplo, é correcto escrever 1358 e não 1 358. Assim como é correcto escrever 0,1234 e não 0,123 4.
Todavia, se estes números forem escritos numa tabela, em coluna, juntamente com outros, deve deixar-se o espaço, para acertarem uns com os outros(vide Norma Portuguesa NP-9, de 1960).
Já agora, acerca do plural das unidades : os símbolos das unidades é que não admitem plural, mas quando se escreve o nome da unidade por extenso podemos e devemos usar o plural, se for caso disso (a partir de dois, inclusive).
Além disso, o nome da unidade é escrito em minúsculas, ainda que derive do nome de um cientista. Por exemplo, ampere e newton devem-se a Ampere e a Newton, mas como unidade de grandeza escrevem-se com minúscula.
Esqueci-me de identificar o comentário anterior.
Jorge Oliveira
J.O.
Impec!
Só um complemento em relação ao teu último parágrafo:
Em caso de grandezas com nomes de cientistas, a 1ª letra é minúscula (se escrita por extenso) e o símbolo é maiúscula:
"um newton" ou "1N".
Outro complemento:
Pelo menos teoricamente, no caso de grandezas com nome de cientistas, não se aplica o plural nas quantidades superiores a 1, como em 10 newton, 2 ampere, 50 joule. Nos outros casos, o plural aplica-se, como em 20 litros, 90 graus, 10 horas.
Uma correcção:
Aquilo que aqui tem sido designado "normas europeias (continentais)" corresponde, na verdade, a normas internacionais (mundiais). Elas tanto são aplicadas pela Alemanha como pela Indonésia, por exemplo. Estas normas até são aplicadas, inclusivamente, por alguns países anglo-saxónicos, como a Austrália e a Nova Zelândia. Os norte-americanos e (em grau um pouco menor) os britânicos é que estão fora da norma internacionalmente aceite.
Nu e Cru,
«5 estrelas»!
(E não «5 estrela»...)
Abraço
CMR
E a nova medida que foi recentemente introduzida pela CS?
"O espaço ocupado pelo novo aeroporto é de 1 400 campos de futebol"
Pergunto eu: quais as subdivisões desta nova medida? piscinas olímpicas?
Anónimo das 12h 31:
Quando foi dos fogos de Verão, referiu-se neste blogue que o pssoal não chegava a acordo (acerca da área ardida) porque passavam a vida a falar em "campos-de-futebol" em vez de hectares.
E indiquei as áreas possíveis para esses campos de jogos, que variam na proporção de 1:2 (ou mais)!
Meti ontem um post intitulado "O Grande Kalynadas" e daqui a pouco vou meter outro semelhante.
(Os posts mais antigos, como este, vão tendo cada vez menos leitores, pelo que a solução - quando é caso disso - é retomar estes assuntos em posts novos).
Abraço
CMR
Ao leitor Nu e Cru :
Não tenho conhecimento de nenhuma recomendação relativa à formação do plural dos nomes das unidades em que se estabeleça uma excepção para os casos em que a origem se encontre no nome de um cientista.
É correcto escrever 10 newtons (singular newton, unidade de força, símbolo N, homenagem ao cientista Newton) ou 2 amperes (singular ampere, unidade de intensidade de corrente eléctrica, símbolo A, homenagem ao cientista Ampere) ou 50 joules (singular joule, unidade de energia e de trabalho, símbolo J, homenagem ao cientista Joule).
Relativamente às “normas europeias (continentais...)” tem razão quando diz que se trata de normas internacionais. O termo “continentais”, que utilizei entre parêntesis, tinha apenas a intenção de excluir as ilhas britânicas, parte da Europa em que se fazem orelhas moucas à aplicação destas normas.
No que respeita ao bilião americano e ao milhar de milhão internacional, francamente falando, não vejo grande vantagem na norma internacional. Apesar de, pessoalmente, seguir a norma internacional, não me esqueço de que na escola primária, já lá vão mais de 50 anos, aprendi precisamente a outra, em que, a cada três casas, se passava do milhão ao bilião, ao trilião e assim sucessivamente. Muito mais simples !
O Prof. Cavaco Silva, aqui criticado por recorrer aos biliões, é mais antigo do que eu e certamente aprendeu a mesma regra. Quem a mudou, possivelmente entendeu que era mais esperto do que os americanos e ingleses. Porventura, como os brasileiros entenderam que sabiam mais de português do que nós, para alterarem a norma ortográfica da língua portuguesa da forma que o fizeram. Adiante ...
E no que respeita à dicotomia do ponto e da vírgula, estou convencido de que, mais tarde ou mais cedo, toda a gente sobre o planeta Terra utilizará o ponto como sinal decimal.
É já o que acontece em Portugal, por exemplo, com pessoas ligadas à Ciência ou às actividades financeiras. Quem é que vai dar-se ao trabalho de mudar os pontos para vírgulas nas tabelas de valores que lhe chegam dos organismos internacionais? Em que a influência anglo-saxónica é determinante ...
Se quiséssemos impor as nossas normas, a nossa língua, os nossos hábitos, teríamos, primeiro que tudo, de nos impor no avanço científico e tecnológico. Foi o que fizeram os anglo-saxónicos. Em lugar de queimarem cientistas nas fogueiras da Inquisição, davam-lhes acolhimento. Por isso, goste-se ou não, são eles que estão ao comando.
Pelo meu lado não tenho preocupações com isso. Considero os países anglo-saxónicos e, em particular, os Estados Unidos, como aliados preferenciais e não como adversários ou opositores.
Jorge Oliveira
Caro Jorge,
Se perguntar a uma velhinha italiana se ela «vai ao Casino», é capaz de não gostar. É que «Casino», na sua língua, é «bordel».
Da mesma forma, a mim não me preocupa nada usar uma norma ou a outra. Só preciso é de saber "que língua falamos" (ou sempre, ou caso-a-caso):
Quando referimos, p. ex., os tais 100.234, estamos a falar de «Cem mil, duzentos e trinta e quatro» ou de «Cem, vírgula duzentos e trinta e quatro»?
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