6.12.05

Grandes pontos!

HÁ ALGUNS disparates e incorrecções irritantes (que aparecem com frequência na Comunicação Social) que seriam evitáveis com uma boa 4ª classe à antiga - mas parece que estamos condenados a conviver com eles até ao fim dos tempos.

Entre os disparates, brilham os «ventos de (...) quilómetros-hora» e, entre os crimes linguísticos, «as (...) gramas».

Não menos irritantes são as incorrecções que mostram que há portugueses responsáveis que usam a norma anglo-saxónica em detrimento da europeia a que Portugal aderiu oficialmente há MUITOS anos:

Refiro-me, p.ex., aos números decimais com PONTO em vez de VÍRGULA (incorrecção praticada por Durão Barroso, Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Jorge Sampaio, etc.) e aos BILIÕES (que, em notação europeia, são «um milhão de milhões» e NÃO «mil milhões» (*)...

(*) A Ota vai custar mais de 3 mil milhões - e não mais de 3 biliões, como disse ontem Cavaco Silva.

24 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Na TV, quando há notícias da Bolsa, é frequente ouvirmos dizer:

«Ontem desceu 1.3% mas hoje subiu 1,2%».

É a chamada "norma do tanto faz".

Santana Lopes também era um dos nossos "pontos"

6 de dezembro de 2005 às 15:17  
Anonymous Anónimo said...

Carlos, explique melhor essa dos crimes linguisticos relacionados com "quilómetros-hora e, entre os crimes linguísticos, as gramas.".

Deveriam dizer "Kilometros por hora"? Parece-me um preciosismo desnecessário no meio de tantas barbaridades ditas na TV. E "gramas" ? devia ser no singular? Ou ao facto de estar no feminino? Também acho que aqui se trata de um excesso de zelo e vontade de mal dizer...

Crime, crime foi ver na CNN no outro dia "100 kph"

E perguntam vocês: o que é um "kph" ?

Pois bem, "kph" é "kilometer per hour". Não estou mesmo a ver onde é que eles foram inventar semelhante barbaridade nem tão pouco porque é que não haveriam de por simplesmente "km/h".

6 de dezembro de 2005 às 15:32  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Anónimo (M/F) das 15h 32m:

O "por" significa "divisão", e a sua ausência significa "multiplicação".

Assim, a velocidade é, p. ex., em "QUILÓMETROS POR HORA" (km/h); por seu lado, a energia eléctrica é, p. ex., em kWh (e não POR hora).

-

Grama, unidade de massa, é um substantivo masculino.

Grama, s.f. feminino, é gramínias, relva.

-
Defender que «estes disparates não têm importância porque há outros piores»... não comento.
-
Sendo sinal de uma escolaridade deficiente, essas incorrecções podem ser desculpáveis em conversas de café mas não em telejornais e, muito menos, na boca de políticos responsáveis.

6 de dezembro de 2005 às 15:51  
Anonymous Anónimo said...

CMR,

O senhor do programa «A roça com os tachos» é que diz «DUZENTAS gramas».

6 de dezembro de 2005 às 15:57  
Anonymous Anónimo said...

Outros disparates de palmatória são os "kilogramas" (em vez de "quilograma" ou "kg") e os "kilómetros" (em vez de "quilómetro" ou "km").

E há também as centrais eléctricas com capacidade para alimentar uma terra com x habitantes «durante um ano» - será que no ano seguinte deixam de a poder alimentar?!

6 de dezembro de 2005 às 16:42  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Ah! A imagem representa a minha professora primária, que partiu muitas réguas à conta de coisas como as que aqui são referidas...

6 de dezembro de 2005 às 16:47  
Anonymous Anónimo said...

E o terrífico "tem à ver" ou será que, quem disto isto (incluindo jornalistas televisivos), escreverá: tem haver ?

Mistério ... que tem que ver com a qualidade do ensino e por conseguinte dos professores que forma e não "tem à ver" com os tão invocados falta de meios.

6 de dezembro de 2005 às 16:52  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Odete Pinto

E que tal o indivíduo que, segundo a TV, foi apanhado com «duas ponto oitenta e duas gramas»?


--
Sempre houve, evidentemente, quem "desculpasse a ignorância" (mesmo quando não é desculpável).

Mas há quem faça pior - e se orgulhe dela.
É, tipicamente, o caso de muitas «pessoas de letras» quando se referem, com ar superior, a «coisas técnicas».

6 de dezembro de 2005 às 17:56  
Blogger João Dias de Carvalho said...

Está enganado. Cavaco já incluía o valor final após os desvios… um milhão de milhão.

http://www.local-imperfeito.blogspot.com/


Local Imperfeito - JAC

6 de dezembro de 2005 às 18:55  
Anonymous Anónimo said...

Sou o "Anónimo (M/F) das 15h 32m:"

Carlos, se quer mesmo ser preciosista deverá usar as unidades no singular.

10 [m] - 10 metro
5 [v] - 5 volt
... etc ... etc ...

A meu ver caso não haja ambiguidade, não me parece assim tão dramático usar os "crimes" acima referidos.
ATENÇÃO: Não estou com isto a defender quem escreveu o que escreveu. Eu por acaso até sou geralmente acusado de preciosista :)

para o Anónimo das 3:57 PM:
Embora de facto seja "quilómetro" a palavra que faz parte da lingua portuguesa, teve origem certamente num desvio semelhante a considerar as gramas fêmeas. Pois deveria, a meu ver, ser "kilometro".
Sendo kilo um prefixo multiplicador por 1000 e metro a unidade do Sistema Internacional.

6 de dezembro de 2005 às 23:15  
Blogger António Viriato said...

Saúdo o autor do blogue, pela sua boa doutrina e pela perseverança com que a defende e a inculca aos demais leitores, que, assim, nem precisam de comprar prontuário, nem consultar a velha gramática da Escola do António, a da Primária bastaria, para poupar nos dislates, nos despautérios, nos solecismos e demais barbaridades linguísticas.
Quanto às unidades, parece-me um preciosismo abstruso proferir cem metro : fulano avançou dez metro !!!, quando a linguagem normal, corrente e correcta aconselha a concordãncia entre dez e a unidade de medida. Já se for na escrita, aí deve escrever-se 10 m e basta. Sugiro, já agora, ao nosso distinto Medina que, num dos seus próximos apontamentos, explique a diferença entre m/s e m.s, entre unidades de potência e de energia, entre esta e combustíveis, etc., etc. Tudo coisas simples, mas onde reina a confusão mais desbragada, até na boca de digníssimos doutores e Professores dos ditos, em particular dos oriundos das economias ou da gestão ou da barra dos tribunais... e, por ora, boa noute, meus amigos.

7 de dezembro de 2005 às 00:59  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caríssimos,

Eu andava com preguiça de escrever um pequeno texto intitulado «O Caligráfico», que aborda estes mesmos assuntos.

Mas ainda hoje vou tratar disso e afixá-lo como post à parte.


Abraço
CMR

7 de dezembro de 2005 às 08:35  
Anonymous Anónimo said...

Há aqui várias questões ao mesmo tempo.

No que se refere aos quilómetros hora (ou passageiros ano, como dizem alguns ilustres quando falam dos aeroportos) trata-se claramente de um erro.

Como o nosso amigo Medina já explicou, quilómetros hora representa um produto. Tal como, por exemplo, homem hora, ou hora hoem, que representa uma unidade de trabalho. Mas o produto de um comprimento por um tempo não tem significado físico. O que tem significado é a divisão de um comprimento por um intervalo de tempo, grandeza a que se chama velocidade. Por isso, o correcto é quilómetros por hora, em que o "por" traduz uma divisão. E o mesmo com passageiros por ano.

No que se refere à, ou ao, grama, o Medina já disse tudo. Grama como unidade de massa é masculino. Ponto final.

No que respeita ao ponto em lugar da vírgula e aos biliões em lugar dos milhares de milhões já a coisa fia mais fino.

Não estamos perante erros propriamnete ditos, mas sim perante a utilização de convenções distintas, concretamente as normas europeias (continentais...) ou as normas anglo-saxónicas.

É natural que se recomende a um europeu e em particular a um português que utilize a vírgula para separar a parte inteira e a parte decimal de um número. Assim como se pode recomendar a utilização do milhar de milhão em lugar do bilião. Mas não se lhe pode dizer que está errado.

A existência de duas normas distintas é que constitui o problema. Quando o mundo se torna cada vez mais globalizado, é o dinamismo anglo-saxónico que vem ao de cima. Muito mais do que a timidez europeia. É a vida. Que norma, então, adoptar?

Jorge Oliveira

7 de dezembro de 2005 às 09:44  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro Jorge,

O problema dos pontos e das vírgulas pode não ser importante, mas também pode ser - especialmente na escrita.

Se eu escrever «100.234»

estou - ou não - a querer dizer "cem mil duzentos e trinta e quatro"?

E há tb o problema inverso:

Se eu usar o ponto como indicador decimal, terei de usar a vírgula para a separação dos milhares, milhões, etc.

O nosso professor Ilharco dizia que, para evitar dúvidas (e se eu quisesse escrever, mesmo,"cem mil duzentos e trinta e quatro"), não se devia usar o ponto mas sim deixar um pequeno espaço de 3 em 3 dígitos.

É isso que procuro sempre fazer.
O problema é quando há mudanças de linha...

O que sucede é que, em geral, é possível (pelo sentido do texto) saber do que estamos a falar:

Alccolemia de 1.54 ou 1,54 não levanta dúvidas nenhumas. Mas isso nem sempre é possível.

--

Para evitar esses e outros problemas é que há as normas.
Para as publicações generalistas, há os chamados
"livros de estilo" (o do Público é bastante bom).

Curiosamente, o livro de Edite Estrela (escrito por 3 pessoas) baralha tudo isto. Diz uma coisa numa página e outra mais adiante.
Falámos sobre isso, e disse-me que ia corrigir em próximas edições.

7 de dezembro de 2005 às 10:18  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Já agora:

Para os biliões, triliões, etc:

A norma europeia (a que Portugal aderiu) é conhecida como «a norma do n-lião»:

Considera-se o número escrito sob a forma de «1 milhão elevado a n»

Assim: «1 milhão ao quadrado» é «1 BIlião»; «1 milhão ao cubo é um TRIlião», etc.

Os intermédios são «mil milhões», «mil biliões», etc

7 de dezembro de 2005 às 10:27  
Anonymous Anónimo said...

Caro Medina

A norma que recomenda o uso da vírgula como sinal decimal, também recomenda um espaço entre cada conjunto de três algarismos e não o uso de pontos.

Mas a coisa é um tanto complicada. Se forem apenas quatro os algarismos na parte inteira ou na parte decimal, não se deve deixar o espaço.

Por exemplo, é correcto escrever 1358 e não 1 358. Assim como é correcto escrever 0,1234 e não 0,123 4.

Todavia, se estes números forem escritos numa tabela, em coluna, juntamente com outros, deve deixar-se o espaço, para acertarem uns com os outros(vide Norma Portuguesa NP-9, de 1960).

Já agora, acerca do plural das unidades : os símbolos das unidades é que não admitem plural, mas quando se escreve o nome da unidade por extenso podemos e devemos usar o plural, se for caso disso (a partir de dois, inclusive).

Além disso, o nome da unidade é escrito em minúsculas, ainda que derive do nome de um cientista. Por exemplo, ampere e newton devem-se a Ampere e a Newton, mas como unidade de grandeza escrevem-se com minúscula.

7 de dezembro de 2005 às 10:37  
Anonymous Anónimo said...

Esqueci-me de identificar o comentário anterior.
Jorge Oliveira

7 de dezembro de 2005 às 10:59  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

J.O.

Impec!

Só um complemento em relação ao teu último parágrafo:

Em caso de grandezas com nomes de cientistas, a 1ª letra é minúscula (se escrita por extenso) e o símbolo é maiúscula:

"um newton" ou "1N".

7 de dezembro de 2005 às 11:21  
Anonymous Anónimo said...

Outro complemento:

Pelo menos teoricamente, no caso de grandezas com nome de cientistas, não se aplica o plural nas quantidades superiores a 1, como em 10 newton, 2 ampere, 50 joule. Nos outros casos, o plural aplica-se, como em 20 litros, 90 graus, 10 horas.

Uma correcção:

Aquilo que aqui tem sido designado "normas europeias (continentais)" corresponde, na verdade, a normas internacionais (mundiais). Elas tanto são aplicadas pela Alemanha como pela Indonésia, por exemplo. Estas normas até são aplicadas, inclusivamente, por alguns países anglo-saxónicos, como a Austrália e a Nova Zelândia. Os norte-americanos e (em grau um pouco menor) os britânicos é que estão fora da norma internacionalmente aceite.

7 de dezembro de 2005 às 16:11  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Nu e Cru,

«5 estrelas»!

(E não «5 estrela»...)

Abraço
CMR

7 de dezembro de 2005 às 16:35  
Anonymous Anónimo said...

E a nova medida que foi recentemente introduzida pela CS?
"O espaço ocupado pelo novo aeroporto é de 1 400 campos de futebol"
Pergunto eu: quais as subdivisões desta nova medida? piscinas olímpicas?

8 de dezembro de 2005 às 12:31  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Anónimo das 12h 31:

Quando foi dos fogos de Verão, referiu-se neste blogue que o pssoal não chegava a acordo (acerca da área ardida) porque passavam a vida a falar em "campos-de-futebol" em vez de hectares.

E indiquei as áreas possíveis para esses campos de jogos, que variam na proporção de 1:2 (ou mais)!

Meti ontem um post intitulado "O Grande Kalynadas" e daqui a pouco vou meter outro semelhante.

(Os posts mais antigos, como este, vão tendo cada vez menos leitores, pelo que a solução - quando é caso disso - é retomar estes assuntos em posts novos).

Abraço
CMR

8 de dezembro de 2005 às 12:37  
Anonymous Anónimo said...

Ao leitor Nu e Cru :

Não tenho conhecimento de nenhuma recomendação relativa à formação do plural dos nomes das unidades em que se estabeleça uma excepção para os casos em que a origem se encontre no nome de um cientista.

É correcto escrever 10 newtons (singular newton, unidade de força, símbolo N, homenagem ao cientista Newton) ou 2 amperes (singular ampere, unidade de intensidade de corrente eléctrica, símbolo A, homenagem ao cientista Ampere) ou 50 joules (singular joule, unidade de energia e de trabalho, símbolo J, homenagem ao cientista Joule).

Relativamente às “normas europeias (continentais...)” tem razão quando diz que se trata de normas internacionais. O termo “continentais”, que utilizei entre parêntesis, tinha apenas a intenção de excluir as ilhas britânicas, parte da Europa em que se fazem orelhas moucas à aplicação destas normas.

No que respeita ao bilião americano e ao milhar de milhão internacional, francamente falando, não vejo grande vantagem na norma internacional. Apesar de, pessoalmente, seguir a norma internacional, não me esqueço de que na escola primária, já lá vão mais de 50 anos, aprendi precisamente a outra, em que, a cada três casas, se passava do milhão ao bilião, ao trilião e assim sucessivamente. Muito mais simples !

O Prof. Cavaco Silva, aqui criticado por recorrer aos biliões, é mais antigo do que eu e certamente aprendeu a mesma regra. Quem a mudou, possivelmente entendeu que era mais esperto do que os americanos e ingleses. Porventura, como os brasileiros entenderam que sabiam mais de português do que nós, para alterarem a norma ortográfica da língua portuguesa da forma que o fizeram. Adiante ...

E no que respeita à dicotomia do ponto e da vírgula, estou convencido de que, mais tarde ou mais cedo, toda a gente sobre o planeta Terra utilizará o ponto como sinal decimal.

É já o que acontece em Portugal, por exemplo, com pessoas ligadas à Ciência ou às actividades financeiras. Quem é que vai dar-se ao trabalho de mudar os pontos para vírgulas nas tabelas de valores que lhe chegam dos organismos internacionais? Em que a influência anglo-saxónica é determinante ...

Se quiséssemos impor as nossas normas, a nossa língua, os nossos hábitos, teríamos, primeiro que tudo, de nos impor no avanço científico e tecnológico. Foi o que fizeram os anglo-saxónicos. Em lugar de queimarem cientistas nas fogueiras da Inquisição, davam-lhes acolhimento. Por isso, goste-se ou não, são eles que estão ao comando.

Pelo meu lado não tenho preocupações com isso. Considero os países anglo-saxónicos e, em particular, os Estados Unidos, como aliados preferenciais e não como adversários ou opositores.

Jorge Oliveira

8 de dezembro de 2005 às 12:43  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro Jorge,

Se perguntar a uma velhinha italiana se ela «vai ao Casino», é capaz de não gostar. É que «Casino», na sua língua, é «bordel».

Da mesma forma, a mim não me preocupa nada usar uma norma ou a outra. Só preciso é de saber "que língua falamos" (ou sempre, ou caso-a-caso):

Quando referimos, p. ex., os tais 100.234, estamos a falar de «Cem mil, duzentos e trinta e quatro» ou de «Cem, vírgula duzentos e trinta e quatro»?

8 de dezembro de 2005 às 13:02  

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