31.10.06

A histerese da barba

O LEITOR terá já certamente reparado que as lâminas de barbear simples caíram de moda. Agora as lâminas descartáveis são duplas ou triplas, em resultado das decobertas de um investigador da Gillette chamado Norman C. Welsh. Os seus trabalhos deram origem às célebres lâminas gémeas Trac II, que em 1972 foram um enorme sucesso comercial. Os concorrentes seguiram-lhe os passos e hoje as lâminas múltiplas são mais comuns que as simples.
Foi uma revolução no barbear porque as lâminas duplas são realmente melhores. Elas tiram partido de um fenómeno peluginoso descoberto pelo investigador da Gillette. O fenómeno dá pelo estranho nome de histerese e tem sido muito estudado em física, economia e outras ciências. Tem esse nome por inspiração no vocábulo grego «husterēsis», que significa falta ou atraso.
O que Welsh descobriu foi que a barba se atrasava a recolher-se. Ora quando uma lâmina passa por um pêlo da barba puxa-o ligeiramente para fora e corta-o. Fica de fora uma parte do pêlo que foi arrastada pela lâmina. Se outra lâmina se seguir à primeira, encontra parte do pêlo ainda fora do poro e corta-o. Dessa forma, quando o pêlo duplamente cortado se recolhe completamente, não fica à face da pele e sim recolhido. A barba fica mais bem feita. Diz-se que o pêlo se comporta histereticamente porque demora a recolher-se depois de ter sido puxado. Como demora cerca de um oitavo de segundo a voltar à posição original, lâminas afastadas 1,5 mm, conseguem cortar duplamente um pelo desde que se desloque o instrumento a velocidade superior a 12 mm por segundo. É preciso ser muito preguiçoso para não aproveitar a histerese da barba.

Adaptado do «Expresso»

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