O ANIMAL LITERÁRIO
CHAMAM-LHES ESTUDOS LITERÁRIOS DARWINIANOS (literary Darwinian studies). O nome é um pouco infeliz, pois não está em causa tentar explicar as tendências de evolução da literatura pela teoria da selecção natural. E felizmente que não está, pois as transposições abusivas de uma área do saber para outra — demasiadas vezes saudadas como «multidisciplinares» — pecam por esterilidade, quando não por vícios piores. A ideia é simplesmente destacar o que a ciência moderna tem revelado sobre a natureza humana, nomeadamente o peso grande da transmissão genética em áreas que se julgavam puramente culturais, e transportar esses conhecimentos para o estudo da literatura. É uma ideia incómoda para femininistas radicais, foucaultianos, desconstrucionistas, pós-modernistas e partidários de outras correntes derivadas do pós-estruturalismo.
Um ponto central destes movimentos é a negação de alguma natureza humana inata. O homem seria uma «tabula rasa», na qual se inscreveriam as construções sociais. Mas a biologia, a linguística, as ciências da cognição e outras disciplinas têm vindo a mostrar, com dados cada vez mais convincentes, que existem características comuns, adquiridas por mecanismos evidenciados por Darwin, e que essas características dominam muito do comportamento humano.
Joseph Carroll, Jonathan Cottschall, David Sloan e outros críticos modernos têm vindo a defender que isso têm consequências importantes para a crítica literária e que se devem procurar nas narrativas os traços comuns que atravessam géneros, épocas e culturas. A beleza, o amor romântico, o conflito e outros temas insistentes da arte não serão, afinal, meras construções sociais.
Adaptado do «Expresso»Etiquetas: NC
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