29.5.07

A propósito do "post" anterior (*)

Quem Anda à Chuva...
UMA TARDE, ESTAVA EU A FAZER-LHE COMPANHIA, quando me apercebi que ele se ligara à Internet e se preparava para usar um programa muito conhecido para se fazer recordar de um compromisso qualquer.
A ideia era vir a receber uma mensagem numa determinada data e hora (enviada por ele para si mesmo!) a tempo de ser avisado para fazer qualquer coisa importante.
Já não me lembro do que se tratava nem isso interessa muito agora. O essencial é que, ao ver a atenção que eu prestava, interrompeu o que estava a fazer e comentou:
- Amigo Jeremias, acho que nunca lhe contei como é que comecei a usar estas modernices, pois não?
Não percebi se se referia ao tal programa de reminder, à Internet, ou à informática propriamente dita. Mas, como a resposta era a mesma nesses três casos, confirmei; e ele, recostando-se para trás na cadeira e saboreando a oportunidade de poder contar uma história saborosa – coisa que lhe dava sempre grande prazer – prosseguiu:
- Desde muito novo que eu sempre fui uma pessoa de fraca memória, tendo que tomar apontamentos de tudo e mais alguma coisa para não me esquecer até das tarefas mais corriqueiras!
- Mesmo na sua actividade militar?!
– estranhei eu.
Acenou que «sim» com a cabeça, riu-se (decerto recordando alguma peripécia mais picaresca), e continuou:
- Pois, um belo dia, fiz um nó no lenço para me lembrar de uma determinada coisa. Só que, em seguida, tive que dar outro nó para me lembrar do primeiro!
- Estou mesmo a ver
– comentei, sorrindo – acabou por encher o lenço com nós!
Confirmou que fizera quatro, um em cada canto, e à medida que a história se ia aproximando do fim mais vezes tinha que interromper devido ao riso que a recordação da cena lhe provocava.
- Pois... nessa altura já estavam a aparecer as agendas electrónicas para nos recordar das coisas... Mas eu não tinha nenhuma, e até nem achava graça a essas modernices. E computadores também ainda não havia muitos.
- Então e depois?
– perguntei, ao ver que ele se interrompia para continuar a teclar como se já tivesse contado tudo.
«Querem ver que o homem é, de facto, tão esquecido que se esqueceu da história que estava a contar acerca dos esquecimentos?!» - pensei eu. Se calhar fora isso que se passara, mas, a meu pedido, acabou por retomar a narração.
- Ah, pois... Como estava dizendo... Saí nesse dia à rua, e, a certa altura, começou a chover a cântaros. Não havia onde me abrigar e tive a ideia de pôr na cabeça o lenço que, como já estava com quatro nós, ficou mesmo bem!
Não contive o riso ao imaginar um garboso militar naquela figura. Mas não comentei, ele também se riu, e continuou:
- Quando a chuva parou tirei o lenço da cabeça e, ao torcê-lo, é que reparei bem nos nós. Comecei, então, a desfazê-los sucessivamente e a reconstituir o que os motivara.
- E conseguiu lembrar-se?
- Claro! É que, logo de manhã, como já estava a contar ir à rua e o céu estava muito nublado, eu tinha dado o primeiro nó para não me esquecer de levar o guarda-chuva!

_________
(*) Capítulo 5 de «Jeremias e o Incrível Coronel Reboredo», disponível em PDF em www.jeremias.com.pt

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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eh-eh-eh!!!

:)))

29 de maio de 2007 às 12:12  
Blogger Raquel Sabino Pereira said...

LOLÃO!!!!!

29 de maio de 2007 às 13:14  
Anonymous Anónimo said...

Já me fartei hoje de rir, não só com esta história como com muitas outras que encontrei nesse site do Jeremias.

Bem-haja!

29 de maio de 2007 às 19:19  

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