25.5.08

Toques, retoques e berloques

ONTEM À TARDE, deparei-me com a Torre de Belém assim - ornamentada com uma espécie de colar hippie feito com bóias. Como perguntar não ofende, quis saber "quem foi o da ideia", e remeteram-me para [aqui], onde se lê:
«A artista plástica Joana Vasconcelos inaugurou a instalação "Jóia do Tejo" na Torre de Belém, em Lisboa, dando um toque contemporâneo a um dos mais emblemáticos monumentos históricos do país».
Eu acho que os monumentos nacionais (pelo menos os mais vetustos) dispensam bem estes "toques de contemporaneidade" - mas também tenho de admitir que posso estar a ver mal 'a coisa'.

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10 Comments:

Blogger Luís Bonito said...

Acho que não é o único que está a ver mal "a coisa"!
Imagine-se o que pensarão os passageiros dos navios que entram no porto de Lisboa, ou os passageiros dos aviões que olham lá de cima para a Torre de Belém...
É um país de "artistas", com certeza!

25 de maio de 2008 às 09:52  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Sim, e quando tirei a foto, havia muita gente a fazer o mesmo.

A ideia geral (pelo menos, a avaliar pelos sorrisos dos fotógrafos) parecia ser:

«Olha tão giro! Que engraçadinho!»

25 de maio de 2008 às 10:03  
Blogger Fernando Vasconcelos said...

Bem antes de continuar com o comentário e porque o apelido é o mesmo não tenho nenhum laço familiar com a Joana Vasconcelos, nem sequer a conheço, é apenas coincidência de nome.
Quanto à decoração e ao toque de modernidade acho que tudo depende. Neste caso obviamente não funciona. estou a dizer tudo depende porque por exemplo a pirâmide de vidro no Louvre funciona esteticamente penso eu. O próprio CCB enquadra-se bem na zona histórica onde se inseriu. Ou seja é possível dar toques de modernidade sem estragar, antes reforçando. Não foi o caso aqui. Acho que sinceramente não resulta.

25 de maio de 2008 às 12:11  
Blogger R. da Cunha said...

Mas que coisa mais amaricada! E se deixassem a Torre de Belém em sossego e fossem ornamentar, com toques de modernidade, o "Leão da Estrela" ou a Parreirinha de Alfama?. Também servia a Ginginha do Rossio. E por que não recolocam as Colunas do Cais das Ditas? Coisa amaricada e parola, no meu (enviezado?) posto de vista.

25 de maio de 2008 às 12:46  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Fernando Vasconcelos,

As pirâmides do Louvre foram feitas para ficar e, como tal, objecto de estudos, etc. Como tal, passaram (bem ou mal) a fazer parte integrante da arquitectura do conjunto.

Aqui, não. Trata-se de um "exercício", uma espécie de bricadeira.
Para mim, tem algo de abusivo.

Claro que seria pior ir fazer o mesmo no Monumento aos Combatentes do Ultramar, existente ali perto, 100m mais a Poente; mas, mesmo assim...

25 de maio de 2008 às 14:01  
Blogger Fernando Vasconcelos said...

Pois percebo. O que me parece é que mesmo intervenções temporárias podem em teoria respeitar o monumento e até conferir-lhe uma nova dimensão. Não é certamente o caso desta em que concordo consigo: A execução desrespeita o monumento.

25 de maio de 2008 às 14:13  
Blogger Tiago said...

Gostando ou não, tem uma virtude: é temporário e não traz danos permantentes (excepto, talvez, à nossa carteira se aquilo for subsidiado pelo estado).

Já o que fizeram ao antigo museu de arte popular foi uma verdadeira barbaridade, paga por todos nós e sem fim à vista...

26 de maio de 2008 às 14:04  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Tiago,

De facto, é verdade: aquilo pode tirar-se - felizmente. E também deve ser verdade que 'alguém' pagou a experiência...

O que está em causa é algo que tem semelhanças na música:

Se tocarmos um dó simultaneamente com um mi, soa-nos bem.
Mas se tocarmos o mesmo dó com um ré, já soa mal. É uma dissonância, embora haja quem aprecie, e compositores célebres fizeram maravilhas com elas.
Tudo vai, pois, do "ouvido" de quem ouve.

Também aqui, o colar na Torre de Belém me parece uma "dissonância". Há algo ali que - quanto a mim, claro! - não bate certo, que não é apropriado, que, em suma, parece errado.

Mas, como nas dissonâncias, há quem aprecie.

26 de maio de 2008 às 14:43  
Blogger Corine said...

Não creio que seja uma novidade e confesso ser apreciadora deste tipo de intervenções. A dinâmica dos tempos, das técnicas, das relações que se estabelecem.
Muitos são os artístas que se propuseram a estes desafios.

O resultado da nossa torre é realmente infeliz, podendo apenas estar também eu 'a ver mal a coisa'.

26 de maio de 2008 às 17:06  
Blogger Fernando Vasconcelos said...

Lá está, lá está excelente paralelismo. É que uma dissonância bem aplicada pode ser arte. Quando mal aplicada não o é ... é simplesmente uma nota mal dada, um ré em vez de um mi. Neste caso acho que se aplica o segundo caso.

26 de maio de 2008 às 17:10  

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