Tormentas
Por João Paulo Guerra
“PARTIDOS dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso”.
Foi nestes termos que o cronista João de Barros, nas Décadas da Ásia, relatou a viagem de Bartolomeu Dias quando, em 1488, dobrou o cabo, depois chamado Tormentoso ou das Tormentas, e que o rei D. João II reavaliou e rebaptizou como Cabo da Boa Esperança. E foi esta simbologia da História que o primeiro-ministro, mais de cinco séculos depois, utilizou para dizer ao País que a Esperança está ali à espera, ao dobrar das Tormentas.
O primeiro-ministro reconhece assim que a sua política é tormentosa, o que reúne largo consenso. Mas quanto à Boa Esperança, ao dobrar o cabo, nem tantos pensam assim. Há mesmo quem diga, e sustente com dados e avaliação de rigor, que a política actual não só vai deixar o País consideravelmente mais endividado, como vai levar os portugueses à miséria e desfalcar a democracia.
O que está a acontecer em Portugal, como em grande parte da Europa e do mundo, não é apenas um acerto de contas para afinar os défices e pagar as dívidas. O que está a acontecer é um ajuste de contas com a civilização que criou um código de direitos que afronta o espírito da ganância e o desiderato da acumulação. Portugal, como outros países europeus, não está apenas a tratar da contabilidade: está a eliminar direitos que distinguiam os tempos actuais da era da escravatura. Os resultados de um estudo da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, revelaram que os sem-abrigo, cujo número dispara todos os dias, têm uma esperança de vida de quarenta e poucos anos. Voltámos à Idade Média.
Ver o Cabo da Boa Esperança para lá desta política é apenas um ingénuo e pouco convincente postal de festas felizes.
«DE» de 23 Dez 11“PARTIDOS dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso”.
Foi nestes termos que o cronista João de Barros, nas Décadas da Ásia, relatou a viagem de Bartolomeu Dias quando, em 1488, dobrou o cabo, depois chamado Tormentoso ou das Tormentas, e que o rei D. João II reavaliou e rebaptizou como Cabo da Boa Esperança. E foi esta simbologia da História que o primeiro-ministro, mais de cinco séculos depois, utilizou para dizer ao País que a Esperança está ali à espera, ao dobrar das Tormentas.
O primeiro-ministro reconhece assim que a sua política é tormentosa, o que reúne largo consenso. Mas quanto à Boa Esperança, ao dobrar o cabo, nem tantos pensam assim. Há mesmo quem diga, e sustente com dados e avaliação de rigor, que a política actual não só vai deixar o País consideravelmente mais endividado, como vai levar os portugueses à miséria e desfalcar a democracia.
O que está a acontecer em Portugal, como em grande parte da Europa e do mundo, não é apenas um acerto de contas para afinar os défices e pagar as dívidas. O que está a acontecer é um ajuste de contas com a civilização que criou um código de direitos que afronta o espírito da ganância e o desiderato da acumulação. Portugal, como outros países europeus, não está apenas a tratar da contabilidade: está a eliminar direitos que distinguiam os tempos actuais da era da escravatura. Os resultados de um estudo da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, revelaram que os sem-abrigo, cujo número dispara todos os dias, têm uma esperança de vida de quarenta e poucos anos. Voltámos à Idade Média.
Ver o Cabo da Boa Esperança para lá desta política é apenas um ingénuo e pouco convincente postal de festas felizes.
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