O assaltante, o tiro e a lição de Gao
Por Ferreira Fernandes
ONTEM,
iam três tipos a assaltar gente. Pela hora, sete da manhã, e o local, o
comboio de Sintra, as vítimas deviam ser gente modesta - o que me
comove mais, haver polícias a proteger desapossados de tanta coisa, até
de segurança. Esperei que os polícias tivessem sido enérgicos e
eficientes. E eles foram, apanharam dois dos assaltantes. Olhem um facto
simples: profissionais que fizeram o que deviam. O terceiro assaltante,
fugindo pela estação de Campolide, foi baleado por um polícia e morreu.
Este já não é um facto simples. Isto é, parte de uma verdade simples:
ninguém pode ser morto por ninguém, nem mesmo um assaltante. E que ainda
é mais verdade para um polícia, a quem damos o privilégio de andar com
uma arma.
Ponto final sobre o assunto, culpa do polícia? Não, porque
pode haver justificações para o tiro. É que a realidade atrapalha a
verdade simples: o polícia podia estar em perigo de vida, o polícia
podia ter caído e disparado sem querer... Há que tirar o facto a limpo.
Mas, ontem, as caixas de comentários dos jornais encheram-se de certezas
incivilizadas, aplaudindo o tiro.
Eu digo o que é civilização, também
vinha ontem nos jornais. Em Gao, Mali, os islamistas que ocuparam a
cidade anunciaram o corte da mão de um ladrão. A população ocupou a
praça e impediu a execução: "Eles não vão cortar a mão à nossa frente."
Se pode haver gente civilizada numa cidade ocupada, como há tantos
incivilizados nas nossas cidades?
«DN» de 6 Ago 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Eu sei que é como pregar no deserto, mas não desisto: Um seguidor do islamismo é islamita e não "islamista" (etim. islame + ita).
Parece que deu na moda, os jornalistas fazem de caixa de ressonância uns dos outros, a asneira de um propaga-se de tal maneira que chega tornar-se "ortografia geralmente aceite como correcta".
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