O mistério do filósofo na capa
Por Ferreira Fernandes
NA MESMA semana, três revistas francesas destacaram a mesma personagem,
duas dando-lhe a capa e outra várias páginas. Seria normal se a
coincidência fosse causada pela atualidade - Marilyn, por exemplo, seria
capa óbvia. Mas não, Le Nouvel Observateur, de esquerda, Le Point e Le
Figaro Magazine, de direita, desencantaram a sua personagem no baú da
Antiguidade: o filósofo grego Epicuro (341- -270 a. C.).
Para lá da
bizarria de revistas generalistas se ocuparem em época estival de um
filósofo antigo e não com "conheça as férias mais luxuosas dos nossos
ricos", fica o mistério: porquê Epicuro? Se ainda fosse Epicuro "o
filósofo do prazer", entendia-se logo o destaque dado neste clima de fim
de Império que a Europa vive. "Bora beber o melhor vinho das ânforas
antes qu'isto acabe e cheguem os bárbaros..." Acontece, porém, que as
revistas desmontam o mito desse Epicuro, desvirtuado e caluniado nos
séculos que se lhe seguiram como adepto de bacanais (e nessa
desmontagem, a revista mais levezinha, Le Figaro Magazine, tem o melhor
texto, na entrevista ao filósofo Michel Onfray). O epicurismo seria,
isso sim, a felicidade procurada na serenidade e nos prazeres simples,
via radical da libertação do indivíduo.
Afinal, foi mesmo a atualidade -
os noticiários que nos fazem sentir, hoje como nunca, impotentes e
manipulados - que tornou Epicuro atual. Epicuro nos quiosques é mais um
sinal de que isto vai. Não sabemos ainda é para onde.
«Dn de 7 Ago 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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