1.9.12

Pedido de alguém de navio ao pescoço

Por Ferreira Fernandes  
O JARDIM Botânico do Rio de Janeiro foi ocupado por gente que quer fazer casas, o que levou o presidente do jardim Liszt Vieira a pedir a demissão. 
Brasileiros, o jardim é vosso. Mas sejam generosos connosco: perder o jardim far-nos-ia mal. 
Por alguns brasileiros sei da grandiosidade da ocupação holandesa no Recife (1630-1644) que em 14 anos fizeram tantas maravilhas (e rápidas, né?) e sei o que ganharia o Brasil se a colonização fosse inglesa. Aos portugueses resta termos deixado o Jardim Botânico. D. João VI chegou em 1808 e logo mandou fazê-lo. Era belo (parecia francês), era científico (parecia inglês) e teve sementes de cravo, japoneiras, líchias, manga, canela, fruta-pão, noz moscada... - as primeiras do Brasil. Vieram do Índico, trazidas por um Vieira e Silva, do arquipélago Mascarenhas (nome de vice-rei da Índia) com uma ilha chamada Rodrigues (de piloto de outro vice-rei). 
Tanto luso nos mares parece confirmar a anedota brasileira. No cais, um português pergunta para o patrício recém-chegado que espreita pela vigia: "Manuel, porque estás com o navio ao pescoço?" 
Só que as anedotas também deixaram sementes. As já ditas e a da primeira palmeira-imperial, mãe de todas (todas!) as palmeiras-imperiais do Brasil - a Palma mater, plantada em 1809 e morta por um raio em 1972. Raio ainda aceito, mas, brasileiros, não deixem os portugueses, que parece terem dado tão pouco ao Brasil, ficar sem o seu único orgulho. Obrigado. 
 «DN» de 1 Set 12

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