24.2.13

Afinal, nem tudo é asno

Por Ferreira Fernandes
ONTEM a SIC mostrou-nos o Centro de Acolhimento de Burros em terras de Miranda do Douro. Os burros, vivendo 35 anos, a dada altura ficam velhos para o mercado de trabalho. Para explicar a um burro imprestável, cujos olhos pestanudos mostram não entender nada do que lhe sucede, havia que lhe lançar a fórmula moderna: "Qual é a parte de 'não há dinheiro para ti' que não entendes?" Mas os burros são burros e os seus donos geralmente não têm licenciatura em Comunicação Empresarial. Acresce que muitos dos donos dos burros velhos já estão tão velhos quanto eles, se é que também não tão burros, e não procuram obter com os quadrúpedes o derradeiro lucro. Na verdade, há um mercado para a compra da carne velha de burro, para ser deitada às matilhas de cães. Mas não, aos burros, falo agora dos bípedes, custa-lhes o desprezo pelos últimos dias do seu burro. Então, sem ligarem ao provérbio da Escola de Chicago "a mula com mataduras (mazelas) nem cevada nem ferraduras" - isto é, nada de gastar em reformas -, os donos vão levar o burro ao Centro de Acolhimento, em Duas Igrejas, para descansados últimos dias. Ali, recolhem-se burros velhos, limam os dentes pontiagudos, cuidam dos cascos e deixam-nos passear sem precisar de arrastar o arado. Embora me pareça desperdício a manicura para improdutivos, confesso que a dado passo da reportagem me comoveu a visita semanal de um casal de jarretas ao seu velho companheiro. 
«DN» de 24 Fev 13

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