Os três nadas da tempestade perfeita
Por Ferreira Fernandes
SOU DOS raros jornalistas que não disseram na semana passada: "Uma coisa é certa, Portas não pode voltar atrás." Aqui entre nós, a palavra "irrevogável" também me fez supor que ele não voltaria atrás. Mas como estive de férias, safei-me do embaraço público e geral dos meus colegas. Forte desse meu involuntário sucesso, permito-me dar uma lição: na política portuguesa, nunca se diga "não pode". Pode, tudo pode. Em Portugal, Cavaco pode ser Presidente, Passos pode ser primeiro-ministro e Seguro pode ser chefe da oposição. Se isso pode, como não aceitar as mais loucas bizarrias? Até digo mais, essa tempestade perfeita - Cavaco, Presidente, Passos, primeiro-ministro e Seguro, chefe da oposição - não só permite como torna desejável que os políticos portugueses se contradigam e façam o irrevogável vogar para o ponto de partida. Há nisso esbracejar, grito sôfrego, vontade de fugir do marasmo. Tudo melhor do que a angústia de termos Cavaco, Presidente, Passos, primeiro-ministro e Seguro, chefe da oposição. À falta de soluções sólidas, venham, ao menos, essas pequenas provas de vida. Olhem como a simples contradição de Paulo Portas nos levou a um governo um poucochinho melhor do que o anterior... "Levou a..."?! Então já é definitivo, Cavaco aceitou essa solução? Claro que já. Era justamente isso que eu vos estava a dizer. Ele é nada, um dos três nadas deste país. As hesitações que finge são só para o autorretrato com que se ilude.
«DN» de 10 Jul 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Apoiado. Quem governa já tinha avisado: queremos alguem que assine em Junho; e os garotos que brinquem de modo a que nao se ouça os gritos fora do recreio.
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