A intransigência é sempre um boato
Por Ferreira Fernandes
A VELHA máxima "maluco, maluco, mas não senta o cu no fogão" diz-nos
que há esperança de que as estribeiras não são nunca totalmente
perdidas... Quer dizer, maluco, maluco, individualmente, ainda talvez os
haja: Silvio Berlusconi, por exemplo, parecia capaz de dar, num país à
frente do precipício, o passo em frente. Condenado a quatro anos de pena
de prisão e em risco de perder a imunidade parlamentar, Berlusconi
resolveu arrastar o seu partido (PDL) no tudo por tudo. No sábado, os
seus cinco ministros anunciaram a demissão, saindo da coligação que
tirara, há poucos meses, a Itália do impasse político. Seria que o PDL
ia suicidar-se ou pelo menos chamuscar o rabo? Parecia que sim. Angelino
Alfaro - o ministro da Justiça, fidelíssimo de Il Cavaliere
(como Brutus por Júlio César) - foi o porta-voz das demissões. O velho
Presidente Napolitano e o primeiro-ministro Letta não aceitaram as
demissões e pediram, ontem, um voto de confiança no Parlamento.
Berlusconi continuou intransigente e (pensávamos nós) com ele o seu
partido: "Vamos votar contra." Na terça, porém, na mão de Alfaro
apareceu o punhal (também conhecido por "horror" pelos fogões) que
costuma aparecer nos fidelíssimos e apelou a votar a favor do Governo.
Surpreendido, como todos os que andam à frente sem olhar para trás, o
próprio Berlusconi recuou, ontem. Se já estar sentado no fogão é
incómodo, sozinho é insuportável.
«DN» de 3 Out 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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