Palavras: o estorvo que mata os jornais
Por Ferreira Fernandes
Por causa do efeito altifalante, as palavras que saem dos jornalistas têm de pagar portagem à inteligência, à deles e à de quem os vai ouvir. Foi o que não aconteceu esta semana quando se narrou um caso que vai a tribunal em Aveiro.
A PJ fez um comunicado - e os jornais e televisões papaguearam-no - dizendo que um grupo, uma mulher e três homens, de 39 a 17 anos, abusaram sexualmente de uma menina de 13. E que "a vítima é filha de um dos detidos." Foi esse horror que os jornais gritaram: um grupo de quatro mânfios (um deles pai da vítima!) violaram uma criança...
Parágrafos abaixo, as notícias voltavam ao comunicado da PJ. Lá se dizia que o rapaz de 17 e a rapariga de 13 estavam unidos por um casamento "combinado entre os progenitores segundo os seus costumes e tradições comunitárias." Ah!... Então é assim (digo eu, porque isso não vinha nas notícias): as famílias ciganas de um rapaz de 17 anos e de uma menina de 13, casaram os filhos. Isso é ilegal e tem de ir a tribunal, sim. E, sim, os portugueses, mesmo quando ciganos, têm de perceber que já somos mais civilizados do que no tempo em que as nossas rainhas casavam meninas. Esse, sim, era o anacronismo que os jornalistas deveriam contar, se a preocupação deles fosse a felicidade da menina. Mas não, eles preferiram "informar" com luvas de boxe: abuso sexual e em grupo... Ironicamente , tiveram a cautela de pôr luvas de pelica e nunca disseram "ciganos".
«DN» de 7 Dez 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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