A Irmã Lúcia no Panteão, já
Por Maria Filomena Mónica
TAL COMO há dias sugeriu o Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, o corpo da Irmã Lúcia deve sair da companhia dos primos pastorinhos e ir já, já, já, para o Panteão. Se Amália representa o fado e Eusébio o futebol, a Irmã simboliza o terceiro «f» da trilogia nacional, isto é, a fé.
Recuemos no tempo e saltemos para dentro de outro país, a França, que tantas vezes nos forneceu inspiração. Ali, o Panteão teve origem num voto pio feito pelo rei Luís XV, que acabaria por morrer antes da inauguração. Isto levou a que o mesmo fosse apropriado pela Revolução, que decidiu consagrá-lo à exaltação dos «grandes homens». Seguiram-se peripécias inesquecíveis, como a «panteonização» de Marat, o revolucionário puro, no mesmo dia (21 de Setembro de 1794), em que o impuro Mirabeau de lá era expulso. A consagração dos heróis andou aos trambolhões per saecula saeculorum. Tal como Portugal, a França é uma nação dividida.
No princípio de Outubro, fui a Paris. Após ter constatado, nos jornais, a existência de uma polémica à volta do machismo panteónico, decidi visitar o local. Por ali andei, quase sozinha, estranhando a falta de algumas personalidades e a presença de outras. Da segunda metade do século XIX, figuram escritores românticos, como Victor Hugo, e, do século XX, cientistas como Paul Langevin. Até aqui, nada de especial. O que mais me espantou foi a presença dos ossos de Jean Monnet, esse mesmo, o da CEE, sobre o qual a poeira dos anos ainda se não abateu.
Mas não é isto que agora excita os franceses, mas o facto de terem descoberto que, por direito próprio, só ali está sepultada uma mulher, Marie Curie. Na era do politicamente correcto, seria isto tolerável? Não, não era. Logo, a França o declarou, embora Marc Fumaroli tivesse advertido, a 11 de Outubro, que a mulher a ser sepultada no Panteão teria de ser consensual. Talvez seja justo que, além de Marie Curie - uma francesa um bocado polaca - ali aparecessem outras, embora a importância dada à «causa» me pareça absurda.
A polémica surgiu, na sequência de um relatório encomendado pelo Presidente Hollande ao Centre des Monuments Nationaux. Depois de conciliábulos, os relatores chegaram à conclusão de que seria preciso abrir as portas do Panteão às mulheres. Eis ipis verbis o que escreveram: «Graças a elas [mulheres], o povo, todo o povo, entrará no Panteão». É um disparate, mas soa bem. Como se isto não bastasse, foi decidido perguntar ao povo, via Net, quais as mulheres que gostaria de ver «panteonizadas». Por mim, não tenho dúvidas. São elas três: Ségolène Royal, Valerie Trierweiler e Julie Gayet. O facto de terem suportado na cama um homem com cara de periquito faz delas umas heroínas.
Voltemos a Portugal. Aqui, a escolha não é difícil. Nem é preciso esperar pelo momento em que a Dra Maria Cavaco Silva morra. Bastará retirar de Fátima o corpo da Irmã Lúcia. Tal como Amália, é uma mulher, o que a classifica para poder dormir eternamente no Panteão.
«Expresso» de 18 Jan 14Etiquetas: FM
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home