Foram procurar sorrisos em jornais
Por Ferreira Fernandes
O Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, não se cansa de olhar para nós. Há dois anos, queria mudar o Código Penal para que se pudessem filmar as expressões faciais dos suspeitos nos interrogatórios policiais: "Na face vê-se tudo", garantia um professor, especialista em separar a verdade da mentira. Na altura, nesta coluna, só lamentei a falta de ambição. Propus mudar também o Código Eleitoral, para que técnicos analisassem as expressões faciais na caça ao voto: "Reparou que o candidato levantou a sobrancelha? Era uma promessa falsa!", dir-nos-iam os especialistas logo a seguir a cada tempo de antena...
Ontem, o laboratório do "tá na cara, né?!" apresentou outro estudo, sempre dentro da mesma perspetiva facial: "Uma década de sorriso em Portugal". Durante dez anos, desde 2003 até ao final de 2013, estudaram-nos os arreganhos zigomáticos. Chegaram à conclusão esperada: sorrimos pouco. E temos piorado: "Este padrão [a fronha fechada] acentuou-se durante o segundo semestre de 2013"... Só lemos coisas tristes, comentei, de lábios descaídos. Foi então que vi onde se fez o trabalho de campo: os sorrisos foram pesquisados em 400 mil fotografias de jornais! Nos jornais?! Os jornais felizes são os que têm notícias do avô que viola o neto e nessas páginas, convenhamos, não cabem sorrisos. Mais valia o tal laboratório ter posto uma câmara à porta do Cemitério de Agramonte.
«DN» de 3 Jan 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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