Portas sabota memória de Gaspar
Por Ferreira Fernandes
Numa dezena de dias, deixei Portugal em crise e regresso com ele "herói-surpresa da zona euro", como diz o Financial Times. Mesmo dando de barato a ofensa sub-reptícia, sabe bem. Sim, aquela palavrinha "surpresa" faz-me lembrar, era eu jovem repórter e tendo sido cumprimentado no jornal por uma qualquer reportagem, que na redação se fez ouvir a voz de um menos jovem repórter: "O texto é bom, surpreendeu-me." Mas o facto é que o patinho feio europeu exportou mais. É verdade que a comparação era connosco, mas hoje fazemos melhor do que ontem, essa é que é essa. Caucionados por lá fora, os eufóricos locais aproveitaram a maré: "Milagre económico", disse Pires de Lima. Depois, ele iria corrigir: "Foi excesso de linguagem..." Não era bem um milagre prodigioso com cura surpreendente, temos de continuar a tomar os remédios... A mensagem de Pires de Lima passou (como são, os do CDS, tão melhores que os sócios a passar mensagens!) E funcionou: um acamado prefere um otimismo moderado a ufanismo. Registada a mezinha, insistiu-se nela: "Não há motivo para um discurso de euforia", disse ontem o mesmo ministro. Há meses, a frase levar-nos-ia a comentar: "Até eles não acreditam..." Hoje, a negativa ("não há motivo") serve para implantar a dúvida inversa: "Queres ver que isto está a começar a correr bem..." Sim, uma crise acabou. Estou a falar de crise política - a do Governo acabou. E, também ontem, Portas sabotou a memória de Vítor Gaspar.
«DN» de 19 Fev 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Paulo Portas não deixa de ser uma mais-valia num país com grande deficit de políticos de qualidade mas é um cagão tão vaidoso que volta e meia mete as patas com as suas previsões fabulásticas e as suas intervenções eleitoralescas.
Enviar um comentário
<< Home