29.10.14

Sobre fobias que atacam coisas boas

Por Ferreira Fernandes
As coisas más fartam-se de nos ensinar coisas. Graças às guerras sabemos geografia, de Donetsk a Kobani, como nunca teríamos imaginado e com os ataques de clowns em França descobrimos o que é coulrofobia, o medo de palhaços. Que os palhaços podem meter medo já sabíamos desde a boca rasgada do Joker, no Batman, ou desde o romance de horror It, sobre um palhaço que vive nos esgotos de uma cidadezinha americana e mata crianças... Ainda não sabemos é se já havia coulrofobia antes do escritor Stephen King ter ido por aí ou Jack Nicholson ter decidido ser mais uma vez excelente. Um dia, se calhar, vamos descobrir que existe o pânico do sexo, um medo que bem poderia chamar-se teresoguilhermofobia, uma fobia que talvez seja antiga mas que o mau gosto da madrinha e os seus acólitos da Casa dos Segredos têm aprimorado como ninguém. A questão é: nem as coisas boas, como palhaços e sexo, podem dizer-se imunes a gente que estrague tudo. Hoje em dia, há crianças e adultos no Sul de França cujo maior receio é encontrarem na garagem um nariz vermelho, tal como em muita cama portuguesa o pesadelo é ser assaltado pela ideia duma metralhadora falante a instigar coitados à canzana. Sobre se o medo de palhaços é para continuar, não sei. Sobre a outra fobia de que falei, também não. Receio é que esta última traga mais outra: a anatidaefobia, o medo de ser observado por patos. De facto, o número de patos a querer ver aquilo é de meter medo.
«DN» de 29 Out 14

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