Autismo
Por Antunes Ferreira
NÃO GOSTO da troika; desta. Não gosto de nenhuma. Mas, por vezes até chego
a concordar – muito a contragosto – com alguns procedimentos da “nossa” (?)
Nesta última visita, só para ver como andavam e andam as coisas, os membros
dela deram um raspanete no (des)Governo dos srs. Coelho, Portas, Crato, Cruz,
Marilu et aliud. Que nas anteriores
viagens a Lisboa tinham constatado que os membros dessa quadrilha (o termo é
meu) eram muito competentes e muito bem mandados e comportados pois cumpriam as
ordens que lhe davam, isto é, dava a sr.ª Merkel. Abreviando: que eram muito
bons alunos, citação que lembra outros tempos no Cavaquistão.
Desta feita, porém, a roda tão bem oleada, desandou Ao longo de três anos
em que todos eram muito amigos e muito abraços e muitos elogios, a visita na
passada quarta-feira veio dar para o torto. Os inúmeros e consecutivos elogios,
uns quantos “atenção” e recomendações, poucos, a troika a la portuguesa
descobriu afinal que quando se ausentara as coisas tinham começado a derrapar,
a descer um caminho inclinado, enfim a desandar. Acentue-se: com ela presente
com regularidade, os Portugueses precisavam de fiscalização, quer dizer de
chicote sem cenoura.
Daí concluiu o trio que em relação aos desafios que a economia portuguesa
tem de ganhar, pelos vistos tinha. O (des)Governo abrandara a aceleração metera
o travão (quase) a fundo e estava o caldo entornado. O BCE parece ter entrado
mudo e saído calado. Mas o Fundo Monetário Internacional, FMI e a Comissão Europeia
não se quedaram. Que porque assim, que porque assado, sem eles a mandar em
Portugal o jogo não só não valia, nem sequer terminara empatado: era o
princípio de uma cabazada isto para usar termos futebolísticos tão do agrado da
lusa gente, que até tem o Cristiano Ronaldo e o José Mourinho
Esta foi a primeira de várias monitorizações pós programa que irão
continuar a ser feitas até que Portugal pague a maior parte dos seus
empréstimos: já se sabia, mas agora foi oficial. A galinha da vizinha é sempre
melhor do que a minha, ou seja, venham os euros que emprestaram acompanhados
dos respectivos juros. E não demorem muito. A troika achou que, ao fim de seis
meses fora do país, que Portugal já está a ir pelo caminho errado. Para eles,
claro, os agiotas que dominam os idiotas que todos nós (ou quase) somos. Foi o
prelúdio de umas orelhas de burro; e já não falo nas palmatoadas da menina dos
cinco olhos.
Especifico. Washington e Bruxelas apontaram duas áreas em que em seu
entender Portugal, ou seja o (des)Governo tem metido mais o pé na poça – o
défice e as reformas estruturais. E ambos os pecados resultaram dos
(des)governantes terem “deixado de se esforçar”. Mau Maria, a coisa estava
mesmo a dar para o torto. E apontaram o caminho a (re)seguir para que os
credores dos Portugueses vejam as suas notas a regressar aos respectivos lares,
engordando-os, portanto. E nós a emagrecer dia após dia.
E os dois organismos foram apontando o que estava errado em especial no
famigerado OE 2015. As previsões do (des)Governo português apontavam para um
défice inexplicável. Logo na terça-feira a Comissão tinha avisado que o saldo
negativo das contas públicas seria de 3,3% contra o que os (des)governantes
apontavam: 2,7% que tinham sido prometidos pelo (des)Executivo (que conseguira alargar
os 2,5% inicialmente acordados).
Foi uma verdadeira machadada. Mas faltava o pior; o FMI que fez uma análise
semelhante disse que o tal sado negativo não seria de 3,3% mas sim 3,4%. Ora
bolas: uma décima a mais ou a menos não é importante, são peanuts. E a ministra
Marilu, impávida e serena de cara fechada como é seu hábito, manteve as contas
a la portuguesa. Não disse, mas deve ter pensado que “eles” eram umas
cavalgaduras e quem sabia da poda era ela. E ponto.
Ao
invés da ministra das Finanças (?) os agora dois carrascos consideram que as
derrapagens (des)governamentais, ainda por cima nas costas deles, resultaram
principalmente do aumento do salário mínimo e de outras medidas que tinham sido
tomadas por São Bento. O aumento, diz Bruxelas,
“poderá tornar ainda mais difícil a transição para o mercado de trabalho para
os grupos mais vulneráveis”; o FMI pinta o quadro com tintas mais negras: a
decisão “vai tornar mais difícil para os trabalhadores não qualificados manter
e encontrar novos empregos”.
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