10.1.15

JE SUIS CHARLIE

Por Antunes Ferreira

NÃO HESITEI em trazer aqui um acontecimento horrendo que aconteceu ontem (na quarta-feira) em Paris: o massacre de 12 (doze!) pessoas numa reunião que decorria no Charlie Hebdo um jornal humorístico, por vezes pesado da capital de França. Sabendo que corria o risco de transformar – ainda que episodicamente – a nossa Travessa, publico este comentário. Quem discordar da opção ataque-me, insulte-me, abomine-me; tenho as costas largas e estou habituado a esses procedimentos.

Os alegados culpados, à hora em que escrevo este texto, estão a ser procurados por mais de dois mil gendarmes e militares, mas ainda não foram encontrados. Insha’Allah (Oxalá) o sejam para que o crime não fique impune. E não se trata aqui da pena de talião – “olho por olho, dente por dente” máxima pela primeira vez escrita no Código de Hamurabi 1.700 a C. Nada disso; é apenas reprovar alto e bom som o miserável ataque contra a liberdade da informação, contra a Liberdade, contra a República, contra a França; em suma contra a Democracia e contra o Mundo.

Fui católico, mas curei-me. A frase que, de tantas vezes disse e escrevi, já se transformou em calina; viral, como hoje se diz no politicamente correcto, na infoesfera, onde quer que seja. Mas respeito todos credos, todas as religiões com excepção da única que prega a guerra (santa?), a muçulmana. Ainda que no Alcorão não se fale dela, jihad, os ditados do único profeta de Alá, são bem expressivos; nelas é descrita como um esforço que os muçulmanos fazem para levar a teoria do Islão a outras pessoas. E ainda «Está escrito segundo a autoridade de Abu Huraira que Maomé disse: ‘Aquele que morreu mas não lutou no caminho de Alá nem expressou alguma determinação por lutar, morreu como morrem os hipócritas» (Sahih Muslim 2:4696).

Entre os doze mortos encontrava-se um homem que conheci e se tornou meu Amigo: Georges Wolinski. Inclino-me perante ele como o faço em relação aos outros abatidos. Era um homem bem disposto, cartunista de alto gabarito. Humorista brilhante, por vezes acre e acintoso, mas na verdade para mim um Amigo. Foi vítima da denúncia que fazia sobre as práticas da bestialidade cometidas pelos muçulmanos radicais.

Os prováveis assassinos, cujas crueldade, fanatismo e brutalidade andam a para com a ignomínia, neste momento em que escrevo (quarta-feira, 8) ainda não foram capturados (Incha’Allah, oxalá, eu o sejam para que cumpram a pena por que sejam julgados em tribunal e não na rua. De resto os bandos terroristas do chamado “Estado Islâmico já lhes chamaram “heróis” De nacionalidade francesa são bem o exemplo dos que mordem a mão que os alimenta.

No século IV a C o estratega (go?) Sun Tzu /Tse escreveu  A Arte da Guerra (um tratado militar) do qual consta que a finalidade da guerra é matar o inimigo. Com o seu carácter sentencioso, Sun Tzu forja a figura de um general cujas qualidades são o segredo, a dissimulação e a surpresa. Acredita-se que o livro tenha sido usado por diversos estrategas (os?) militares através da História como Nguyen Giap, Mao Zedong w até Napoleão. Nele se basei a guerra de guerrilha. Os criminosos de Paris assim procederam para consumar a sua loucura vingativa, alegando, tanto quanto se sabe, que o jornal atacava repetidas vezes Alá, o Alcorão e Maomé. Uma nova cruzada? Não sei.

Mas, recordo Amim Maaluf que escreveu em França (obviamente sem censura) “As Cruzadas vistas pelos Árabes”. Maalouf  é um escritor libanês. É membro da Academia Francesa desde 2011 . Recebeu entre outros o Prix des Maisons de la Press, o Prémio Goncourt 1993 e o Prémio Príncipe das Astúrias na categoria Letras. E que me conste a sua isenção não lhe permite advogar a guerra (santa?).

O cerne do problema está na circunstância dos criminosos viverem entre nós, usarem os mesmos transportes públicos, comerem nos mesmos restaurantes. E dando de barato que há “muçulmanos bons” e “muçulmanos maus” como poderão ser reconhecidos? Usando um letreiro colado na testa: BOM – MAU?  Não sei responder a estas questões verdadeiramente angustiantes. Sei, sim que também JE SUIS CHARLIE, afirmação que corre por todo o Mundo, exemplo de solidariedade com os que, inocentes, pagaram com a própria vida a defesa da Liberdade