11.10.15

OS OBREIROS DA GEOLOGIA PORTUGUESA (3)

Por A. M. Galopim de Carvalho

Carlos Ribeiro (1813-1882)

Pioneiro da geologia portuguesa, iniciou estes estudos a meados do século XIX, pondo especial ênfase no trabalho de campo, inovando uma prática quase inexistente no panorama científico da geologia portuguesa. Foi o primeiro geólogo português que, no quadro dos conhecimentos da época, estabeleceu a sucessão estratigráfica dos terrenos de Portugal continental, podendo ser considerado o fundador da estratigrafia portuguesa.
Nascido de uma família de poucos recursos, conseguiu, com muito empenho e com o apoio de amigos, finalizar os estudos que o habilitaram a ingressar no ensino superior. As lutas liberais arrastaram-no para o serviço militar e, terminados os conflitos, em 1834, retomou os estudos na Academia Real de Marinha e, depois, na Escola do Exército, concluindo, em 1837, os cursos de artilharia e engenharia com distinção, na qualidade de oficial.
Em 1840, estando em serviço no Porto, no 3º Regimento de Artilharia, deu seguimento à sua vocação para uma carreira técnico/científica, frequentando, com notoriedade, o curso da Academia Politécnica. Tendo começado a trabalhar na Companhia das Obras Públicas de Portugal, foi encarregado de dirigir a construção da estrada de Lisboa às Caldas da Rainha e da de Carvalhos a Ponte de Vouga, obras que lhe puseram à frente dos olhos a natureza dos terrenos esventrados no traçado daquelas vias, intensificando grandemente o seu interesse pela geologia.
Em 1849, aceitou trabalhar nas minas de carvão do Cabo do Mondego e Buçaco, tendo estudado o terreno escolhido para o cemitério de Coimbra.
Em 1852, Carlos Ribeiro foi convidado por Fontes Pereira de Melo, para chefiar a 4ª secção da Repartição Técnica da Direcção Geral de Obras Públicas, com o encargo de superintender a actividade das minas e pedreiras e os trabalhos geológicos, em início de organização. Dois anos depois, em conjunto com Francisco António Pereira da Costa (1809-1898) lente da cadeira de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica de Lisboa, elaborou a Lei de Minas. Nos anos que se seguiram, assegurou a chefia dos trabalhos de geologia com as de chefe da repartição de minas e pedreiras, e ainda as de vogal do Conselho de Obras Públicas e Minas.
Em 1857, com o objectivo de elaboração do Mapa Geológico de Portugal, Carlos Ribeiro fundou, de colaboração com o referido lente Pereira da Costa, a atrás citada Comissão Geológica do Reino, incorporada na Comissão dos Trabalhos Geodésicos, no quadro do Ministério das Obras Públicas, sendo Carlos Ribeiro nomeado o seu director. Esse objectivo foi concretizado de parceria com Nery Delgado (1835-1908) e, assim, cerca de duas décadas depois, surgia, em 1876, o primeiro Mapa Geológico de Portugal, na escala de 1:500 000.
Tendo estabelecido relações com Daniel Sharpe, permitiu-se corrigir algumas das observações deste conceituado geólogo amador, o que lhe valeu reconhecimento internacional. No dizer de Paul Choffat: Carlos Ribeiro deve ser considerado como um discípulo de Sharpe, porque foram as publicações do sábio inglês que serviram de base aos seus estudos, tendo mantido com ele uma aturada correspondência; mas o discípulo foi rapidamente muito além do mestre, no conhecimento da geologia portuguesa.
Carlos Ribeiro viajou por diversos países da Europa e manteve correspondência regular com os mais eminentes especialistas da época. Na década de 1850, traçara o primeiro esboço de uma carta geológica da região compreendida entre o Tejo e o Douro e um outro do Alentejo, duas realizações que contribuíram para a elaboração do primeiro mapa geológico de Portugal e que Eduard Verneuil e Eduard Collomb utilizaram na elaboração do Mapa Geológico da Península Ibérica, na escala 1:1.000.000, editado em 1864.
Desenvolveu diversos estudos de geologia mineira e de hidrogeologia, com destaque para o estudo do abastecimento de água à cidade de Lisboa, e foi o grande impulsionador dos estudos de arqueologia e pré-história em Portugal. Atribui-se-lhe os  achados das grutas do Poço Velho (Cascais), das Antas do Monte Abraão (Belas) e do povoado de Leceia (Oeiras) e deve-se-lhe a descoberta em, 1863, dos concheiros de Muge, designação que deu aos amontoados de conchas de moluscos e outros restos de comida. Conservados junto desta povoação do vale do Tejo, estes importantes testemunhos pré-históricos estão associados a esqueletos humanos, a objectos talhados em pedra e em osso atribuídos ao Mesolítico.
Carlos Ribeiro dedicou os últimos anos da sua vida em busca de vestígios dos nossos antepassados nas formações miocénicas e pliocénicas da Bacia do Tejo. Mercê de uma sua convicção (errónea) sobre a existência de um hominídeo surgido nesses tempos, esteve no centro da discussão que remetia para o Terciário os começos da nossa presença na Terra. Por seu empenho e para debate desta questão, teve lugar em Lisboa, em 1880, o IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Históricas.
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Francisco António Pereira Da Costa (1809-1898)
Bacharel em medicina, em 1833, pela Universidade de Coimbra, foi nomeado, em 1840, lente da cadeira de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica de Lisboa, cargo que exerceu até se reformar, em 1887. Além destas matérias, dedicou-se ao estudo da paleontologia. e da  arqueologia pré-histórica. Pioneiro nestas disciplinas em Portugal, da sua obra destaca-se um estudo dos moluscos fósseis do Terciário de Lisboa e do Algarve, com especial realce para a jazida de Cacela, e um outro sobre paleontologia humana em terrenos do Vale do Tejo.
Classificou os materiais das colecções do Palácio Real da Ajuda, existentes na Academia Real das Ciências, de que foi membro efectivo. Em 1853 foi eleito membro do Conselho de Minas e, em 1857, de parceria com Carlos Ribeiro, fundou a Comissão Geológica do Reino, assumindo o encargo dos estudos de paleontologia e o da organização das colecções.
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Louis Charles Gaston de Saporta (1823-1895)
Paleobotânico francês, membro da Academia das Ciências de Paris, foi o autor do estudo das plantas fósseis recolhidas por Paul Choffat em diversas formações do Mesozóico português e, assim, precisar a idade dos respectivos terrenos. Deste estudo resultou a publicação, em 1894, de Flore fossile du Portugal - Nouvelles contributions a la flore mesozoïque.

Do seu trabalho destaca-se a descoberta de espécies de dicotiledóneas no Cretácico inferior de Cercal (Ourém), num nível muito mais antigo do que até então era conhecido, passando a localizar-se em Portugal o berço deste grande grupo botânico

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