A Síria e o uso do gás sarin – A contrainformação pode ser terrível
Por C. Barroco Esperança
Não padeço de antiamericanismo primário, capaz de comparar Obama a Trump, nem de seguidismo moscovita capaz de ver na Rússia de hoje a falecida URSS. Aliás, os factos acabarão por desmascarar o maniqueísmo de quem vê o mundo de forma unilateral.
Posso, pois, errar, sem desejar enganar, e refletir sem preconceitos, surpreendido com a rapidez com que os países do sul da Europa apoiaram Trump no ataque punitivo a uma base Síria. Estavam ansiosos pelo pretexto que lhes permitisse apoiar quem desprezam, alheios à prudência da ONU, instituição que o presidente americano quer neutralizar.
Raramente uma guerra teve tantos suspeitos dos dois lados. A luta entre sunitas e xiitas lembra a guerra europeia dos Trinta Anos, sem Paz de Vestefália à vista, e a reedição da invasão do Iraque, agora de duração indeterminada.
EUA e Rússia digladiam-se com terroristas bons de um lado e terroristas maus do outro, alternando conforme o lado de que são vistos. Entre uns e outros, venha Alá e escolha.
A ONU identificou 25 ataques químicos desde 2011 e os seus investigadores atribuíram a maioria dos ataques às forças governamentais da Síria, sublinhando que a lista não era definitiva, e, sobre o ataque que serviu de pretexto à retaliação unilateral americana, não houve ainda qualquer veredicto. O precedente do Iraque exigia prudência dos que se apressaram a defender o ataque americano, de nebulosa finalidade.
A Síria teve armas químicas e usou-as, mas, tal como Saddam, aceitou que o seu arsenal fosse destruído. Não custa acreditar, até prova em contrário, que o bombardeamento de um depósito de rebeldes tenha causado a dispersão do gás que matou escassas dezenas de pessoas e teria, se provada a autoria Síria, uma repercussão devastadora para Assad.
Numa guerra que já provocou centenas de milhares de mortes e milhões de refugiados, o preço de gasear deliberadamente dezenas de pessoas era excessivo para a ameaçada sobrevivência do Estado da Síria numa altura que a correlação de forças o favorecia.
O acordo entre a Síria e Irão para o oleoduto para escoar o petróleo do Cáspio evitando a Turquia, preterindo sauditas e outros países do Golfo no fornecimento de petróleo ao Ocidente, é talvez a principal causa da guerra. Também por isso, é legítimo duvidar da origem do gás e saber se a Síria o usou no ataque ou se este o libertou de um depósito rebelde.
Ponte Europa / SorumbáticoEtiquetas: CBE
1 Comments:
Diz:Matou escassas dezenas de pessoas! Interessante a irrelevância.
Tivesse Saddam aberto as portas e talvez não houvesse guerra. Só que ele escondia alguma e outras coisas. Vejamos, um parque com mais de 900 carros das marcas mais caras, como 10 Ferraris de cores diferentes. Mais as incontáveis violações a mulheres que lhe enchiam o olho, muitas filhas de amigos. Quem contestava levava com prisão e tortura.
Quanto ao Assad,parece-me que não vai sair tão bem como o seu pai, por isoo vai resistindo.Certo, certo é que não soube negociar a tempo.
Branquiar os factos só por fanatismos.
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