Sem emenda - Preto e branco
Por António Barreto
Com campanha eleitoral, é inevitável que se fale de racismo. O passado colonial é terreno fértil para o tema. Em certas áreas é costume dizer-se que Portugal não é um país racista e há gente que até gosta imenso de pretos. Noutras, é hábito dizer-se que Portugal é racista e por isso temos de pedir desculpa aos Africanos.
É difícil tratar deste assunto sem incorrer em ódios vigorosos. Em Portugal, há racistas. Há práticas legais ou comuns de carácter racista. Há comportamentos racistas da responsabilidade de brancos europeus, cristãos ou ateus. As vítimas são ciganos, negros, judeus, muçulmanos, chineses e outros. Também há comportamentos racistas da responsabilidade de africanos, ciganos, chineses e muçulmanos, sendo as vítimas brancos, europeus, cristãos e ateus. Portugal não é um país racista. Talvez já tenha sido. Mas hoje não é. Há racistas, mas não é racista. Não se conhecem normas públicas ou legais que estipulem a inferioridade de etnias ou a redução dos seus direitos.
Estatisticamente, a corrupção, a trafulhice, a promiscuidade, o nepotismo e o peculato são fenómenos praticados maioritariamente por brancos e europeus. Ninguém se lembra de dizer que aqueles crimes são europeus e brancos. Nem há quem garanta, muito menos, que os brancos e europeus sejam todos vigaristas.
Os maiores crimes, em volume de negócios, cometidos em Portugal nas últimas décadas, foram da responsabilidade de banqueiros e da autoria de empresários portugueses, brancos e cristãos, com a ajuda de alguns africanos e chineses, mas a ninguém ocorre afirmar que todos os corruptos, ladrões, culpados de branqueamento e enriquecimento ilícito são católicos portugueses e brancos. E também não se diz que todos os empresários brancos e portugueses sejam corruptos.
Tão mau quanto o crime é o preconceito. Um vigarista aflige tanto quanto um racista. O crime de um branco incomoda tanto quanto o de um negro. A vigarice de um rico empresário é tão condenável quanto a do sindicalista. Um criminoso branco é tão responsável quanto um criminoso negro, não há atenuantes que resultem da família, da origem social ou da cor da pele.
É preconceito pedir desculpa aos povos africanos. É preconceito demagógico pedir perdão pela escravatura ou pela exploração de há cem ou quinhentos anos. É preconceito ignorante esquecer que esclavagistas foram também africanos, árabes, indianos e chineses!
Tão má quanto o preconceito e o crime é a generalização. A generalização abusiva, a popular e a elitista, a dos brancos e a dos negros, é vício de pensamento e calúnia certa. Os homens são todos iguais… A direita é fascista, a esquerda é comunista… Os políticos são vigaristas… Os ciganos são bandidos… Os brancos são racistas… Os negros são ladrões… Os imigrantes fazem tráfico de droga… Os muçulmanos são terroristas… Os chineses não pagam impostos… Os portugueses gastam o dinheiro em mulheres e vinho… Os empresários são aldrabões… Os sindicalistas são preguiçosos…
Há ciganos a viver de abonos e subsídios indevidos. Há africanos a viver de extorsão, jogo ilegal e tráfico de droga. Há ucranianos a viver da prostituição e do lenocínio. Há asiáticos que fogem ao fisco e não respeitam as leis do trabalho. Mas, pela lei da estatística simples, há muitos mais brancos, europeus e cristãos a cometer aqueles crimes. Se muita gente se lembra de dizer que os ciganos e os africanos são isto e aquilo, já não pensam em dizer o mesmo dos Portugueses, brancos e cristãos. O preconceito racista começa aí. Mas também é preconceito racista desculpar ou perdoar os crimes dos africanos, dos asiáticos e dos ciganos por serem o que são. É preconceito e crime desculpar o terrorismo porque é cometido por islamitas. É preconceito e crime desculpar o tráfico de droga porque é da autoria de africanos. É preconceito e crime desculpar qualquer comportamento ilegal por causa da etnia, da religião, dos motivos políticos e das crenças religiosas. Um racista branco não é pior do que um racista negro. E um terrorista cristão não é melhor do que um terrorista muçulmano.
DN, 27 de Agosto de 2017
Etiquetas: AMB
2 Comments:
Assinava por baixo.
Concordo,plenamente com está análise do Dr.António Barreto,especialmente ,quando refere a generalização "A generalização abusiva...é vício de pensamento e calúnia certa" Infelizmente,um problema contemporâneo,onde falta o debate,o conhecimento.A época da informação leviana,irresponsável e não. fundamentada das redes sociais
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