HUMILDES
Por Joaquim Letria
Para se tirar bom proveito daquilo que a curiosidade nos dá
a saber, é indispensável o uso da razão
de modo a assimilarmos os
conhecimentos. O que chamamos de
inocência é a infância, que Jean Jacques Rousseau comparava “com a luz da
aurora que resplandece pela manhã ao nascer o sol sem nuvens”.
Inocência e razão, infância e maturidade compõem o binómio de
que é formada a maravilha a que nós chamamos de “género humano”. Por outro lado, é interessante observar como o
homem sempre quis minimizar, ou mesmo apagar, os melhores exemplares de si
próprio. Essa qualidade pode sintetizar-se, como convém para esta reflexão,
num ponto comum a que chamamos modéstia,
seja esta verdadeira ou falsa, e que acabamos por classificar como se tratando
de virtuosa.
Dizia Boileau que a humildade se verifica quando o mais
sábio é aquele que nem remotamente pensa em vir a sê-lo. Para os povos latinos, humildade é quando “ninguém é
sábio em todas as ocasiões”. Humildade, sentenciava Séneca, é “quando se pode
ser sábio sem vanglória nem inveja”. Sócrates, que também se deu ao trabalho
desta reflexão, criou um “leit motiv” defensivo, mas que nos chega até hoje: ”Só sei que nada sei”.
Em síntese, e à luz da nossa tradição judaico-cristã, é a
sabedoria que garante que “quem se humilhe será exaltado” e , como profetizado no Livro de Job, “viverá em
glória”.
Muita gente, como Afonso Karr, não acredita em nenhum sábio
até o ouvir dizer três vezes “duvido” e duas “não sei”. E pergunto eu num sobressalto: ”porque não
fazer a vontade a esta gente se a Terra pertencerá aos humildes?!
Para já, brinquemos à razão do repouso, que é muito
diferente e nada tem a ver com o repouso da razão. Assim poderíamos ser todos
muito felizes ao guardarmos de outros muito do que sabemos
.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
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