Crimes e investigações
Por Antunes Ferreira
De repente apareceram pessoas a matar pessoas com requintes de malvadez, premeditadamente, com sangue frio q.b. crimes quem sabe se copiados e ou pelo menos inspirados em séries policiais de canais televisivos do tipo AXN. Será que uma vez mais o que falta de imaginação a nós, portugueses, terá de vir de fora, terá de ser importado? Já se sabia que a balança de pagamentos era usualmente deficitária. Mas pelo andar da carruagem agora a balança criminal também começa a sê-lo…
Há uns tempos o meu amigo e também jornalista Nicolau Santos (que muito admiro) escreveu um artigo em que enumerava as alíneas demonstrativas de que não somos um país pequeno. Arquivei-o mas no meio da desordem desarquivada que pratico não o consigo reproduzir aqui o que é uma contrariedade – e das grandes, ainda que s contrariedades não se devam quantificar. Mas, perdoem-me, sou assim e não é aos 77 anos que vou mudar. Burro velho…
Mas voltando à vaca fria (como diz o povo) estes crimes passionais abrem um fosso profundo entre aqueles a que nos habituámos através das páginas de pasquins apelidados de jornais como é o caso do “Correio da Manha”, oops, “Manhã” e nos audiovisuais da sua CMTV. A TVI bem se esforça por integrar o pelotão mas não consegue, ainda que por vezes consiga atingir alguns objectivos.
O caso do matutino é paradigmático: as suas equipas de “reportagem” chegam sempre antes das polícias que vão averiguar as ocorrências. É um mistério que me tem vindo a deixar muitíssimo intrigado, mas que creio fácil de resolver: saber quem informa o “Correio” antes de alertar as autoridades. Facílimo. O busílis é saber quem e quem…
Estes dois últimos casos o da senhora abatida pela filha adoptiva e genro e do triatleta assassinado pelo amante da esposa e por esta revestem-se de duas características que há que ressaltar: por um lado a desfaçatez e a ironia de serem os próprios criminosos a alertarem as autoridades para os “desaparecimentos misteriosos” dos que já tinham eliminado.
Por outro a proficiência, a paciência e o profissionalismo dos investigadores portugueses que passo a passo, cuidadosamente, foram tecendo as teias em que os matadores se enredaram. Descendo as mínimos pormenores, sem dar nas vistas, paulatina e perseverantemente quais cães de fila atrás do cheiro, de uma pista. Nós, os portugueses, temos de lhes agradecer, pois estamos entregues em boas mãos.
Mas, infelizmente, neste contexto da investigação toda a rosa tem os seus espinhos. Os casos de Tancos são vergonhas a que o Exército não pode escapar. Quando o chefe máximo da Polícia Judiciária Militar fica em prisão preventiva, depois da sua instituição ter andado a “brincar às escondidas” com a sua partenaire civil há forçosamente que citar Shakespeare quando Hamlet diz que “Algo está podre no reino da Dinamarca”. Pelos vistos algo está podre no reino da investigação em Portugal..
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