6.11.19

No "Correio de Lagos" de Out 19

«Errar é humano, e humano é também evitar corrigir o erro» (R. Reycraft)

A foto que escolhi para ilustrar a crónica deste mês já é conhecida dos leitores mais atentos, pois foi publicada neste jornal, na secção “Buracos e Companhia”, há nove meses — tempo que é suficiente para gerar um ser humano, mas não para que os serviços “competentes” corrijam o que ela documenta. 
E escolhi esta (e não outra, das muitas possíveis) porque faz a transição perfeita entre Lawrence Peter, que foi tema da crónica do mês passado, e o seu contemporâneo Edward Murphy (1918-1990), como adiante veremos. 
Antes de mais, é curioso saber-se que O PRINCÍPIO DE PETER (“Numa organização hierarquizada cada elemento tenderá a ser promovido até atingir o seu Nível de Incompetência”) não foi escrito pelo próprio, mas sim por Raymond Hull, a partir dos apontamentos daquele: senhor de um grande senso de humor, Peter dizia que se sentia incompetente para escrever sobre a incompetência, pelo que delegou a tarefa em quem o poderia fazer melhor — decisão muito acertada, pois a obra foi um “best seller”. 
Peter, então, tendo-se fartado de ganhar dinheiro, resolveu voltar ao tema, desta vez pela sua mão, com A ANÁLISE DE PETER e O RECEITUÁRIO DE PETER, que, no entanto, são apenas sequelas — confirmando, com isso, que todos somos incompetentes, só que em coisas diferentes: pode ser-se um competente professor universitário e uma anedota como ministro... 
Ora, uma das curiosidades do Princípio de Peter é o facto, que o próprio autor salienta, de se tratar de um “princípio” e não de uma “lei”. 
Ou seja: se as pessoas envolvidas forem suficientemente inteligentes e informadas, será possível escaparem a essa perversa atracção — mas trata-se de excepções que apenas confirmam a regra. 
Diz também Peter que todas as organizações conseguem carregar consigo uma certa percentagem de incompetentes, limitando-se a segregar os super-competentes (porque colocam em causa os restantes trabalhadores) e os super-incompetentes (pois são letais para a organização). 
Mas não estou suficientemente a par da história de Lagos para confirmar o primeiro postulado (quantos responsáveis foram afastados, nos últimos anos, por serem demasiado bons?), e tenho sinceras dúvidas quanto ao segundo, como se pode ver por esta imagem que nos leva, então, a MURPHY e à sua famosa lei: “Qualquer coisa que pode correr mal irá correr mal”. 
Ao contrário de Peter, Murphy nunca ganhou um cêntimo com isso — o que é natural, tendo em conta que se tratou apenas de um desabafo (que alguém registou para a posteridade), no seguimento de um trabalho que ele, engenheiro aeroespacial, fez e que correu mal: uma determinada ficha, que só tinha DUAS POSIÇÕES possíveis, fora colocada na posição ERRADA, inutilizando todo o trabalho feito. 
Foi também o que sucedeu aqui (só havendo duas posições possíveis, o “artista” optou pela errada), o que nos faz voltar a Peter, com a constatação de que um incompetente nunca está só: para que esta aberração visse a luz dia, houve um outro incompetente que o colocou a fazer a tarefa, um terceiro que depois aprovou o trabalho, e muitos outros que, podendo e devendo corrigir o erro, o não fazem — desautorizando o consultor internacional que, salvo erro no famoso “Relatório Porter”, concluiu que “Os portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam”...
"Correio de Lagos" de Out 19

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1 Comments:

Blogger 500 said...

Por essas bandas não há oftalmologistas e lojas de óculos?

6 de novembro de 2019 às 18:26  

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