DESTRUA-SE !
Ora, e apesar de já terem passado umas boas seis décadas, lembro-me, como se fosse hoje, do filme “Aníbal e os Elefantes” (cuja acção decorria durante a segunda das referidas guerras), que muito incentivou o meu estudo desses acontecimentos quando chegou a sua altura na cadeira de História, e que, mais tarde, me fez ler e reler “Salambô” (de Flaubert), e tudo o mais que encontrei acerca da civilização púnica.
IMAGINE-SE, pois, o meu entusiasmo, quando, muitos anos mais tarde, fui mandado a Tunis, a capital da Tunísia, a dois passos da cidade de Aníbal, e vendo passar à porta do hotel autocarros com destino “Cartago”! Eu bem sabia que a cidade havia sido arrasada, mas não ao ponto de — como muitos me diziam — não haver lá nada para ver. Até porque, nessas coisas, sinto sempre a magia de “estar no local onde sucedeu isto e aquilo”, não me importando, portanto, que não houvesse muralhas nem palácios em pé.
E estaria tudo muito bem, se o trabalho não se interpusesse entre o desejo e a realidade, pelo que acabei por apenas saltar do aeroporto para o hotel, deste para o escritório, do escritório para a obra... e fazer o caminho inverso até Carnaxide.
Ora, e tendo em conta que cartagineses e romanos também andaram muito tempo por aqui, pela nossa terra, compreende-se que eu tenha sido vítima de várias associações de ideias, desta feita provocadas pelo derrube da chaminé lacobrigense de que tanto se tem falado.
Reconheço que pode parecer confuso, mas eu explico:
No entanto, fosse por boa educação, por ausência de senso-de-humor, ou porque já estivessem habituados a esses “deslizes”, ninguém se riu, e limitaram-se a explicar-me o que se passava: a casa fazia parte de uma urbanização construída em solo pantanoso, que fora abatendo ao longo dos anos, e já se tinham habituado a viver com isso. Sim, devia ser um terreno semelhante àquele onde, até há pouco, existia a chaminé que, no seguimento de uma acção devidamente autorizada, foi aumentar a entropia do Universo.
E AQUI, também por associação de ideias, entram os paquidermes de Aníbal, devido à metáfora do “elefante em loja de porcelanas” e ao facto de o filme ter passado no Cinema Monumental — essa joia de Lisboa que também sumiu, da noite para o dia, às mãos do camartelo do presidente da CML, o Eng.º Abecassis que, ao menos nesse aspecto, não enganara ninguém pois, oportunamente já prometera “deixar a cidade irreconhecível”!
Etiquetas: CMR, Correio de Lagos
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