Merece um sorriso ou preocupação?
CIRCULAM na internet muitas imagens como esta e, em geral, rimo-nos da criatividade que demonstram.
No entanto, se as quisermos encarar de outra forma, teremos de referir um aspecto de que, quase sempre, se evita falar:
O que faz (ou pode fazer) o trabalhador - como principal interessado - pela sua própria segurança?
Já se sabe que a responsabilidade por eventuais acidentes é dos chefes das obras; porém, sendo estes, muitas vezes, pessoas com pouca formação e ainda menos sensibilidade para o assunto, o trabalhador, como principal interessado, pode fazer alguma coisa.
Infelizmente, isso não faz parte da tradição portuguesa, que considera a exposição ao risco como prova de virilidade.
Infelizmente, isso não faz parte da tradição portuguesa, que considera a exposição ao risco como prova de virilidade.
Fui, durante muitos anos, responsável por obras, e sei a luta que era preciso travar para forçar certas pessoas a protegerem-se a si mesmas.
Quantos operários conheci que só punham o capacete quando se aproximava o fiscal ou o chefe!
Quantos se gabavam de subir a alturas impossíveis sem cinto-de-segurança ou de tocar em fios eléctricos sem protecção!
Quantas vezes era o próprio operário-chefe (ou o encarregado) a dar o exemplo do desleixo!
Quantas vezes era o próprio operário-chefe (ou o encarregado) a dar o exemplo do desleixo!
Conheci de perto uma obra em que o trabalho decorria em instalações muito perigosas e onde a segurança era extremamente deficiente - e onde, como se fosse a coisa mais natural do mundo, os trabalhadores portugueses arriscavam a vida a toda a hora.
Até que um dia se juntaram a eles uns alemães que se recusaram a trabalhar assim.
Altamente contrariado, o dono da obra lá acabou por colocar as protecções necessárias - nomeadamente redes anti-queda, que hoje-em-dia são corriqueiras.
Pouco depois, uma delas salvou a vida a um operário português.
Curiosamente, pouca gente deu importância a esse facto - excepto o próprio... talvez.
1 Comments:
Tal como sucede com o trânsito, é a própria noção de "acidente" que está em causa.
O operário que eu refiro, que caiu na rede de protecção que o salvou (mas que só existia porque os colegas alemães a haviam exigido) teria decerto morrido, pois a queda seria de mais de 20 metros, sobre ferros e betão.
Se tal tivesse sucedido, nesse dia falar-se-ia de "acidente"...
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