12.12.05

Não passem palavra!

Aventuras e desventuras de Jeremias
na Sociedade da Informação
UMA MANHÃ, recebi uma das muitas chamadas de SOS com que a Geronto-Teknika me brindava (...)

(V. texto em «Comentário-1»)

2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Não passem palavra!

Uma manhã, alguns meses depois do que acabei de contar (e quando, após muita insistência da minha parte, mais alguns chefes passaram a usufruir do privilégio de ter e-mail...), recebi uma das muitas chamadas de SOS com que a Geronto-Teknika me brindava:

- Olhe lá, você, por acaso, sabe qual é a passa-palavra da nossa Contabilista-Chefe?

Quem assim se exprimia, aparecendo no meu telemóvel com os seus modos grosseiros e o seu vozeirão inconfundível, era o presunçoso e malcriado Dr. Granítico, um dos Directores-Gerais mais temidos da Geronto-Teknika, de que atrás falei.

Respondi-lhe que não sabia, mas que passaria lá pela empresa para tentar descobrir.

É preciso explicar aos leitores que a estranha expressão passa-palavra era a sua tradução de password – tal como Internet era, para ele, inter-rede, Homepage era Casa-da-página... e outras curiosidades semelhantes que só daquela cabeça é que poderiam brotar.

Mas voltando ao assunto: conforme ele explicou em seguida, o que o preocupava era a grande urgência em aceder ao computador da Dra. Gangrenata, a Contabilista-Chefe que se ausentara para o estrangeiro sem deixar qualquer contacto.

E foi assim que apareci na empresa ainda nessa tarde onde fiquei a saber que o grande reboliço que se notava por todo o lado era motivado por uma auditoria que teria lugar no dia seguinte. Como facilmente se percebe, era absolutamente fundamental, antes disso, aceder aos dados do computador pessoal da Dra. Gangrenata.

- Eu sempre disse que isto de computadores só traz é problemas... – foi o desabafo do Arquitecto Quadrilíneo, quando me recebeu na portaria - cordialmente, mas sem esconder a preocupação que compartilhava com os colegas de empresa.

Não era a melhor altura para o contrariar (tanto mais que, para ele, até uma máquina-de-calcular era uma modernice perfeitamente dispensável), pelo que procurei abstrair-me dele e dos demais que diziam coisas semelhantes e, uma vez chegado à Contabilidade, reparei que estava toda a gente com cara de enterro.

Mas o certo é que eu já tinha tanto prestígio por aqueles lados que bastou um sorriso meu, simulando confiança, para que as pessoas presentes perdessem o ar abatido e se animassem – porventura antes do tempo...
Sentei-me então em frente ao computador em causa e comecei a fazer aquilo que é habitual nessas circunstâncias: procurar post-its amarelos – pois a maior parte das pessoas que escolhem passwords complicadas escrevem-nas neles e deixam-nas bem à vista...

Mas não encontrei nada.

Longe de ficar desanimado, passei então à segunda fase, experimentando o invariável «1-2-3-4», os nomes dela (o próprio e o apelido) e o número mecanográfico... mas o certo é que não tive mais sorte.

Deixei para o fim a data de nascimento, porque há várias hipóteses: o velho formato (dia-mês-ano), o novo (ano-mês-dia) e ainda o americano (mês-dia-ano).
O Serviço de Pessoal deu-me a informação correspondente e comecei a fazer tentativas, cada vez mais nervoso à medida que elas se iam gorando.

E foi nessa altura que o Sr. Lombriga, um daqueles brincalhões que há em todas as empresas, se saiu com esta:

- Olhe lá, que data de nascimento é que você está a meter aí?

- É a que está nesta fotocópia do Bilhete de Identidade dela, 17 de Novembro de 1947 – respondi, sem perceber a razão da pergunta.

- Então a marota sempre nasceu em 1947?! Eu bem desconfiava! Sabe que ela diz a toda a gente que é dez anos mais nova?

Sorri, e fiz então mais uma tentativa com a data de 1957.

Então não é que a vaidosa da doutora Gangrenata até tentara enganar o seu próprio computador?!

12 de dezembro de 2005 às 16:55  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O desenho é de José Abrantes, e foi feito para o livro «Jeremias, CONSULTOR» (disponível gratuitamente em PDF em www.jeremias.com.pt)

12 de dezembro de 2005 às 21:41  

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