O restaurante
Assim que me explicaram ao certo o que queriam, fiquei um pouco confuso, pois nunca pensei que alguém me considerasse especialista em nomes de restaurantes!
- O nosso drama – prosseguiu a mulher – é que queremos dar ao restaurante um nome que não fuja muito ao habitual nesse género de estabelecimentos, mas que ao mesmo tempo esteja disponível no Registo de Sociedades.
E essa era a parte mais difícil pois, como muito bem sabe quem anda por esse país fora, há inúmeros restaurantes com nomes semelhantes, do género O Caldinho-da-Sogra, A Cozinha da Avó Torta, O Retiro do Lavrador Cansado, A Lareira da Velhota, O Sótão dos Petisquinhos, A Cave da Minha Açorda... e por aí adiante.
Pedi-lhes então, como habitualmente, que me dessem dois ou três dias para fazer as necessárias pesquisas, despedi-me deles, e voltei para casa; mas em breve tive de reconhecer que me havia enganado quando pensara que o assunto era fácil e que o resolveria em poucos minutos: por mais que puxasse pela cabeça a inventar nomes de restaurantes, o meu pesquisador favorito encontrava sempre algum já existente!
Como o tempo estava a passar e o prazo que eu havia pedido a chegar ao fim, resolvi pegar no meu computador portátil com ligação à Internet e ir até ao local do estabelecimento em busca de inspiração – talvez nas vizinhanças houvesse qualquer coisa que me pudesse dar uma ideia para um nome interessante... Sei lá!
Talvez uma árvore ou um charco de água, que pudessem justificar um nome como «O Restaurante do Sobreiro» ou «A Tasca do Lago»... Infelizmente, quando lá cheguei, apercebi-me de que, além de não haver nada dessas coisas que me pudessem inspirar, o restaurante era apenas mais um dos inúmeros do mesmo género à beirada estrada.
Trânsito de camionistas havia com fartura, e freguesia, portanto, também não faltava – e era exactamente por isso que os meus clientes estavam impacientes para começar a facturar; praticamente, só faltava desencantar um nome... e – quem diria! – isso dependia de mim!
Arvorei então o meu melhor sorriso, entrei na casa com ar confiante, cumprimentei todos, a começar pelos trabalhadores que davam os últimos retoques na decoração, e escolhi uma mesa sossegada a um cantinho para abrir o meu computador.
Embora eu mostrasse um ar decidido, teclando para trás e para a frente como se estivesse em vias de descobrir grandes coisas, o certo é que não me aparecia nada e eu estava cada vez mais embaraçado...
E foi quando me viu a coçar a cabeça, já não conseguindo esconder o drama que me consumia, que a senhora se chegou ao pé de mim, com ar maternal, e me disse, querendo ajudar:
- Olhe, como passam por aqui muitos camionistas, lembrei-me de uma coisa. Veja aí na Internet se o nome está vago... Não acha que ficava bem «A Rota»?
(*) «Os patrocinadores»: http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/os-patrocinadores.html
1 Comments:
Arrota...
A Ròta...
A Rôta...
Os camionistas iam gostar...
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