Acontece…
Como uma crónica neste jornal (*)
pode ser mais que uma leitura de viagem
EM AGOSTO trouxe para estas páginas a história daquele jovem de 19 anos, filho de pastor, que não tinha dinheiro para se matricular em Arquitectura apesar de ter sido o mais brilhante aluno da sua escola – e do país – com 19,9 valores em Geometria Descritiva. Chamei-lhe Ricardo, nome suposto, e não revelei em que região de Portugal vivia.
”É como um filme bonito mas não sei como acaba” escrevi no título dessa crónica, que terminava assim: “Como vai ser tratado pelo Estado, neste Portugal europeu do século XXI, um jovem que deu provas de valor mas… é filho de pastor… é, simplesmente, pobre. Um pobre pode ser arquitecto, aqui?”
Hoje trago-vos o desenvolvimento dessa história. Que se transformou na história de como uma crónica publicada no “Metro” pode ser mais do que uma leitura de viagem.
Um dia depois da publicação telefonaram-me deste jornal. Uma leitora queria falar comigo e deixara o seu contacto. Liguei-lhe de imediato. E a minha vida ficou mais rica.
Do outro lado da linha, uma voz tranquila e decidida. Jurista, casada com um arquitecto, vive na região de Lisboa, numa casa grande que ficara ainda maior quando os filhos, adultos, partiram para as suas vidas familiares. Leu a crónica no metropolitano, depois guardou o jornal e foi trabalhar. À noite, em casa, estendeu o jornal ao marido e pediu-lhe que lesse. E conversaram longamente. Nessa mesma noite ficou decidido que o Ricardo, o filho de pastor que não tinha dinheiro para estudar Arquitectura em Lisboa, seria muito bem-vindo se quisesse ir viver para aquela casa grande. Ali encontraria abrigo, alimentação e até ajuda nos seus estudos. Sem se falar em dinheiro, claro. O casal não era rico mas o que tinha, era suficiente para mais um.
Ouvi em silêncio. No fim, perguntei: e porquê?
E a resposta: porque não? Ele merece, não merece?
Insisti: mas nem sequer sabem quem é o rapaz…
Resposta: conhecemo-lo quando chegar, se ele quiser vir.
Reservo para mim o que penso sobre este casal, embora não seja muito difícil de adivinhar. Reservo também tudo o que se passou com o Ricardo, depois disto. É lá a vida dele. Mas não quis deixar de vir hoje revelar-vos como uma crónica publicada neste jornal pode ser muito mais do que uma leitura de viagem.
pode ser mais que uma leitura de viagem
EM AGOSTO trouxe para estas páginas a história daquele jovem de 19 anos, filho de pastor, que não tinha dinheiro para se matricular em Arquitectura apesar de ter sido o mais brilhante aluno da sua escola – e do país – com 19,9 valores em Geometria Descritiva. Chamei-lhe Ricardo, nome suposto, e não revelei em que região de Portugal vivia.
”É como um filme bonito mas não sei como acaba” escrevi no título dessa crónica, que terminava assim: “Como vai ser tratado pelo Estado, neste Portugal europeu do século XXI, um jovem que deu provas de valor mas… é filho de pastor… é, simplesmente, pobre. Um pobre pode ser arquitecto, aqui?”
Hoje trago-vos o desenvolvimento dessa história. Que se transformou na história de como uma crónica publicada no “Metro” pode ser mais do que uma leitura de viagem.
Um dia depois da publicação telefonaram-me deste jornal. Uma leitora queria falar comigo e deixara o seu contacto. Liguei-lhe de imediato. E a minha vida ficou mais rica.
Do outro lado da linha, uma voz tranquila e decidida. Jurista, casada com um arquitecto, vive na região de Lisboa, numa casa grande que ficara ainda maior quando os filhos, adultos, partiram para as suas vidas familiares. Leu a crónica no metropolitano, depois guardou o jornal e foi trabalhar. À noite, em casa, estendeu o jornal ao marido e pediu-lhe que lesse. E conversaram longamente. Nessa mesma noite ficou decidido que o Ricardo, o filho de pastor que não tinha dinheiro para estudar Arquitectura em Lisboa, seria muito bem-vindo se quisesse ir viver para aquela casa grande. Ali encontraria abrigo, alimentação e até ajuda nos seus estudos. Sem se falar em dinheiro, claro. O casal não era rico mas o que tinha, era suficiente para mais um.
Ouvi em silêncio. No fim, perguntei: e porquê?
E a resposta: porque não? Ele merece, não merece?
Insisti: mas nem sequer sabem quem é o rapaz…
Resposta: conhecemo-lo quando chegar, se ele quiser vir.
Reservo para mim o que penso sobre este casal, embora não seja muito difícil de adivinhar. Reservo também tudo o que se passou com o Ricardo, depois disto. É lá a vida dele. Mas não quis deixar de vir hoje revelar-vos como uma crónica publicada neste jornal pode ser muito mais do que uma leitura de viagem.
--
(*) Jornal «metro»
(*) Jornal «metro»
2 Comments:
Assim vale a pena escrever. Compensa sobejamente.
Não é todos os dias que há «Ricardos» merecedores. Nem todos os dias casais grandiosos e disponiveis, de portas abertas.
Mas, haverá sempre mais «Ricardos»...
Padeiradealjubarrota.blogs.sapo.pt
Casos destes merecem ser amplamente divulgados para que haja mais entre-ajuda a mais Ricardos.
Enviar um comentário
<< Home