7.12.05

O Grande Kalynadas

EM TEMPOS, conheci de perto um patusco extremamente vaidoso e malcriado que, como todos os dessa laia, não aceitava críticas fosse a propósito do que fosse; e as pessoas que o rodeavam, tendo em conta o seu mau feitio, evitavam dizer-lhe alguma coisa - ou até mesmo falar com ele.

Ora, como toda a gente sabe, indivíduos assim caem facilmente no ridículo, e este não era excepção:

Tendo combates mal resolvidos com a língua-pátria, os seus erros de ortografia (com que generosamente polvilhava cartas, faxes, e-mails e actas de reuniões) faziam o desespero dos seus chefes - mas também as delícias dos colegas e subordinados que tinham a suprema ventura de lhes pôr a vista em cima.

Até que, um dia, alguém que tinha mais confiança com ele lhe chamou a atenção para uma barbaridade do género «atenção» escrito com dois "S".

O cavalheiro, furioso com o reparo, recusou-se a corrigir o erro, fazendo ali mesmo questão de mostrar como o fax (pois era isso que estava em causa) seguiria mesmo assim!
E, perante o gozo de alguns e o pasmo da maioria dos circunstantes, declarou - enquanto carregava na tecla «enviar»:

-As regras do meu Português sou eu quem as faz!

Como se compreende, essa história entrou de imediato para o fabulário da empresa.

Mas ainda teve um delicioso post-scriptum:

Algum tempo depois, e a propósito desse mesmo assunto, o indivíduo, pretendendo proclamar que não cometia erros de ortografia, berrou:

-Eu nunca cometo erros de caligrafia!

Coitado... Lá devia pensar que caligrafia vinha de calinada...


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(Este texto veio também a ser publicado no «Diário Digital» em 15 Dez 05)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Conheço gente assim...

C.E.

7 de dezembro de 2005 às 16:53  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

NOTA: Qualquer semelhança com pessoas reais NÃO é pura coincidência.

7 de dezembro de 2005 às 18:53  

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