Passeio Aleatório
Pense bem no que lhe propôs o Pai Natal. Acha que aceitaria jogar com ele por 10 euros? E por 100? E por 1000? É melhor ter cuidado, pois esta história é já antiga e, a seu tempo, confundiu os melhores matemáticos.
Daniel Bernoulli
Ainda este ano, a revista científica «The American Statistician» incluiu uma polémica sobre algumas ramificações do problema, que é hoje conhecido como paradoxo de São Petersburgo.
Para saber quanto deveria aceitar como entrada neste jogo, o melhor é fazer as contas e pensar qual o valor esperado da quantia que dará ao Pai Natal. Ora o jogo não acabará enquanto não sair «caras» e ele receber alguma coisa. No primeiro lançamento da moeda ele vai ganhar dois euros se sair «caras». Quer dizer que ganha dois euros com probabilidade 1/2. Ou seja, em média, se o jogo fosse muitas vezes repetido — e o Pai Natal é muito velho —, ele ganharia 2x1/2=1, isto é, ganharia um euro pelo primeiro lançamento.
No segundo lançamento, que acontece com probabilidade 1/2, o Pai Natal pode ganhar quatro euros. A probabilidade de ganhar esses quatro euros é 1/2 vezes 1/2, ou seja, 1/4. Então esse ganho esperado é 4x1/4=1.
As contas prosseguem da mesma maneira.
O ganho esperado do terceiro lançamento é 8x1/8=1, e por aí adiante. Se chegarmos ao décimo lançamento e ainda não tiver saído «caras», o que é pouco provável mas não impossível, a parada está pelos 1024 euros. Se sair «caras» é essa quantia que ele então ganha, e a probabilidade é 1/1024.
A probabilidade de avançar para jogadas posteriores vai diminuindo, mas o ganho do Pai Natal vai aumentando na mesma proporção. O seu ganho esperado, ou seja, o prejuízo esperado do leitor, é 1+1+1+...
Onde é que isto pára? A realidade é que não pára nunca. Por mais vezes que se tenha lançado a moeda ao ar sem nunca ter aparecido «caras», a probabilidade de aparecer esse lado da moeda no lançamento seguinte não muda. Continua a ser 1/2, o que quer dizer que é sempre possível que não seja ainda dessa vez que o jogo pare e que o ganho potencial do Pai Natal não aumente.
Na realidade, feitas as contas, não há dinheiro neste mundo que compense entrar no jogo. O melhor será pedir outra prenda ao Pai Natal. Acontece que não somos máquinas.
Se encontrar por aí o Pai Natal e ele lhe oferecer um milhão de euros, garanto-lhe, leitor, que o mais racional é não aceitar o jogo. Mas peça-lhe então para vir ter comigo, que pela mesma quantia eu aceito o desafio. E não lhe diga nada: até por menos de metade!
1 Comments:
De facto...Que raio de paradoxo enervante!
A 1ª reacção é aceitar a aposta. Mas a matemática diz que é arriscado! O que fazer? Eu, como o N. Crato, acho que aceitava os ditames da intuição!
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