15.12.05

PERVERSÕES DA ‘LEI BOSMAN’

Crónica
de
Alfredo Barroso (*)

PASSAM amanhã dez anos sobre a famosa ‘sentença Bosman’, que revolucionou por completo o futebol europeu e os respectivos campeonatos nacionais, derrubando as barreiras proteccionistas impostas pela UEFA e pela FIFA e obrigando estes organismos a aceitar que os futebolistas nascidos em países membros da União Europeia não sejam considerados estrangeiros. (...) (Texto integral em «Comentário-1»)

(*) Aqui transcrita com autorização do autor

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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

PERVERSÕES DA ‘LEI BOSMAN’

PASSAM amanhã dez anos sobre a famosa ‘sentença Bosman’, que revolucionou por completo o futebol europeu e os respectivos campeonatos nacionais, derrubando as barreiras proteccionistas impostas pela UEFA e pela FIFA e obrigando estes organismos a aceitar que os futebolistas nascidos em países membros da União Europeia não sejam considerados estrangeiros. Desde 1995 até hoje, o número de futebolistas estrangeiros e comunitários aumentou exponencialmente em todas as grandes Ligas profissionais ou – se preferirem a designação antiga – em todos os grandes campeonatos nacionais.

A sentença proferida pelo Tribunal do Luxemburgo em 15 de Dezembro de 1995 foi o culminar de uma ‘batalha legal’ que durou cinco anos, desencadeada por um quase desconhecido futebolista belga, Jean-Marc Bosman, e pelo seu advogado, especializado em direito comunitário, Jean-Louis Dupont. E bem se poderá dizer que Bosman entrou para a história do futebol, não propriamente pelas suas qualidades de centro-campista, mas pela legítima reivindicação da liberdade de escolha de um posto de trabalho.

Hoje, é óbvio que, como todas as ‘revoluções’, também esta acabou por produzir efeitos bastante perversos. Se é certo que a ‘lei Bosman’ consagrou o inalianável direito dos futebolistas a beneficiarem da ‘liberdade de circulação dos trabalhadores’ na Europa comunitária, pondo termo a uma espécie de ‘escravatura contratual’ que os clubes lhes impunham, não é menos certo que essa lei se transformou na ‘galinha dos ovos de ouro’ dos agentes que representam os jogadores, inflacionando imenso os preços no mercado de transferências e aumentando a taxa de desemprego dos futebolistas nacionais.

A consequência mais perversa é, todavia, a acentuada descaracterização ou perda de identidade do futebol que se pratica em cada país europeu. Hoje, é muito mais difícil falar de ‘futebol português’ ou de ‘futebol espanhol’ ou de ‘futebol inglês’ e por aí fora. Será bastante mais apropriado falar do futebol que se joga em Portugal ou em Espanha ou em Inglaterra ou em outros países da União Europeia. Mesmo em relação a selecções nacionais, são cada vez menos as que reflectem o nível do futebol praticado nos países que representam, tantos são os seleccionados que jogam em Ligas estrangeiras.

Sempre houve futebolistas estrangeiros de alta qualidade a alinhar em equipas de grandes clubes, mas eram uma minoria. Hoje, é muito difícil encontrar clubes campeões nacionais, cujas equipas sejam maioritariamente constituídas por jogadores nacionais. O Valência foi um raro exemplo, quando conquistou o título espanhol, há um par de anos, com oito ou nove jogadores espanhóis como habituais titulares. O Arsenal é o exemplo oposto e mais frequente, fazendo alinhar muitas vezes uma equipa em que não há um só futebolista inglês como titular. E por isso não espanta que haja quem diga que um clube cuja equipa está cheia de estrangeiros perde a sua identidade e, até, a sua ‘alma’.
Não tenho uma opinião definitiva sobre se tudo isto é um bem ou um mal. Mas é verdade que tenho cada vez mais dificuldade em perceber por que razão um adepto mais ou menos fanático mantém a sua preferência, ligação e fixação a um clube nacional cuja equipa está repleta de estrangeiros. É um facto que, em muitos casos, se contratam cada vez mais futebolistas estrangeiros porque são mais baratos do que os nacionais, mesmo que sejam piores. E também é um facto que, regra geral, os ‘clubes formadores’ acabam por ser bastante prejudicados, constrangidos como são a aumentar imenso os salários de jovens jogadores mais talentosos, para evitar que eles ‘fujam’ para o estrangeiro.
A crise do futebol também passa por aqui. Por isso, acho bem que a UEFA fixe quotas de jogadores ‘seleccionáveis’ nos respectivos países aos clubes que disputam as suas competições: quatro em 2006 e oito em 2007. Talvez seja outra ‘revolução’.

Adapt. do «DN» de 14.Dezembro.2005

15 de dezembro de 2005 às 10:39  
Anonymous Anónimo said...

Clubites! Realça o Valência, mas esqueceu-se de realçar o Fc.Porto, que foi Campeão Nacional, vencedor da taça UEFA, vencedor da Liga dos Campeões Europeus e da Taça Intercontinental, com a maioria de futebolistas portugueses a titulares(bem mais que 6 ou 7).

15 de dezembro de 2005 às 12:50  
Anonymous Anónimo said...

Um texto muito interessante e com a lucidez a que Alfredo Barroso nos habituou.

Mas ele tb deve saber que nem todos os "adeptos da bola" conseguem apreciar algo mais inteligente do que banalidades acerca das lesões do Chico ou do menisco do Batatas - como muito bem diz hoje, neste mesmo blogue, Carlos Pinto Coelho.

16 de dezembro de 2005 às 12:03  

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