Os infor-trôpegos (*)
ENTRE muitas outras coisas de fazer abrir a boca ficámos a saber, recentemente, que durante mais de 20 anos uma família residiu nos subterrâneos do Hospital de Santa Maria - tendo, inclusivamente, levado para lá mobília!
Ora, se isso pode ser explicado pelo facto de aquilo ser um labirinto ainda mais complexo do que a biblioteca de «O Nome da Rosa», há um outro problema que merece uma abordagem diferente:
É que veio também a saber-se que, no respectivo armazém, havia desvios de 600 mil euros por ano, acção essa facilitada porque - pasme-se! - os respectivos registos de entradas e saídas eram feitos... à mão!
De facto, e apesar de os computadores terem sido inventados há mais de 60 anos (e de a Internet já ter comemorado o seu 36º aniversário), o info-analfabetismo continua a ser uma praga de efeitos devastadores.
Em Portugal, ainda não há muito tempo (e como será agora?), profissionais de muitas áreas podiam acabar os seus cursos superiores sem saberem mexer num computador, e recentemente conheci mesmo engenheiros em altos postos empresariais que nunca tinham enviado um e-mail, nem navegado na Internet, nem faziam a menor ideia de como é que se acedia ao conteúdo de uma disquete.
De facto, a revelação deste escândalo do armazém do Hospital de Santa Maria vem bem a calhar numa altura em que tanto se fala de «codificação» (!) e «encriptação» (!!) a propósito do famigerado «Caso do Envelope 9» e das disquetes da PT: é que, pelos vistos, o problema envolveu vulgares ficheiros de Excel a que alguém aplicou, simplesmente, a ingénua opção «Filtro».
Se, como parece, foi isso o que se passou, uma vez enviados assim, esses ficheiros ficaram à mercê da primeira pessoa que, sabendo que uma disquete se insere com o buraquinho para baixo (se a ranhura for horizontal...), quisesse dar uns "cliques" de rato - coisa que, hoje-em-dia, qualquer adolescente sabe fazer.
Será que a Microsoft não arranja mais umas quantas vagas no Curso de Introdução à Informática que acaba de oferecer a 4500 desempregados da indústria têxtil?
--
(*) Publicado no jornal «metro» (com pequens cortes e acompanhado pelo "cartoon" ) no dia 19 Jan 06; e no «Público-Local», na íntegra, no dia seguinte.
Ora, se isso pode ser explicado pelo facto de aquilo ser um labirinto ainda mais complexo do que a biblioteca de «O Nome da Rosa», há um outro problema que merece uma abordagem diferente:
É que veio também a saber-se que, no respectivo armazém, havia desvios de 600 mil euros por ano, acção essa facilitada porque - pasme-se! - os respectivos registos de entradas e saídas eram feitos... à mão!
De facto, e apesar de os computadores terem sido inventados há mais de 60 anos (e de a Internet já ter comemorado o seu 36º aniversário), o info-analfabetismo continua a ser uma praga de efeitos devastadores.
Em Portugal, ainda não há muito tempo (e como será agora?), profissionais de muitas áreas podiam acabar os seus cursos superiores sem saberem mexer num computador, e recentemente conheci mesmo engenheiros em altos postos empresariais que nunca tinham enviado um e-mail, nem navegado na Internet, nem faziam a menor ideia de como é que se acedia ao conteúdo de uma disquete.
De facto, a revelação deste escândalo do armazém do Hospital de Santa Maria vem bem a calhar numa altura em que tanto se fala de «codificação» (!) e «encriptação» (!!) a propósito do famigerado «Caso do Envelope 9» e das disquetes da PT: é que, pelos vistos, o problema envolveu vulgares ficheiros de Excel a que alguém aplicou, simplesmente, a ingénua opção «Filtro».
Se, como parece, foi isso o que se passou, uma vez enviados assim, esses ficheiros ficaram à mercê da primeira pessoa que, sabendo que uma disquete se insere com o buraquinho para baixo (se a ranhura for horizontal...), quisesse dar uns "cliques" de rato - coisa que, hoje-em-dia, qualquer adolescente sabe fazer.
Será que a Microsoft não arranja mais umas quantas vagas no Curso de Introdução à Informática que acaba de oferecer a 4500 desempregados da indústria têxtil?
--
(*) Publicado no jornal «metro» (com pequens cortes e acompanhado pelo "cartoon" ) no dia 19 Jan 06; e no «Público-Local», na íntegra, no dia seguinte.
2 Comments:
Um exemplo... ao contrário:
Faço parte da direcção de uma associação de amigos e utentes de um hospital - sem fins lucrativos nem apoios monetários que não sejam as quotas (baixas) dos associados.
Coube-me a tarefa de redigir as Actas das reuniões, o que faço no computador e envio para os restantes membros por e-mail.
Pois bem, coube-me também esta semana ir à repartição de Finanças pagar 50 cêntimos por cada folha de um livro de Actas (50 folhas numeradas, que têm que ser rubricadas uma a uma) para o qual tenho que transcrever, à mão, as referidas Actas já elaboradas em computador. E, claro, todas as Actas vindouras.
Porque é que não envia esta história para os jornais?
Se mandar para vários, há sempre grande problabilidade de sair!
Enviar um comentário
<< Home