Passeio Aleatório (*)
NUM ARTIGO publicado há alguns meses na revista “Nature” (437, pp.737–40), Andrew Whiten e outros cientistas apresentaram os resultados de um longo estudo sobre a transmissão de práticas em chimpanzés. Os dados experimentais que relataram mostram a tendência destes primatas a manterem atitudes conformes a uma prática maioritária, mesmo quando ela não é a mais eficaz.
Os investigadores dividiram os chimpanzés em três grupos colocados em jaulas separadas e sem comunicação. Junto a cada jaula instalaram um aparelho que descarregava comida desde que apropriadamente manuseado. Num grupo introduziram um chimpanzé que tinha sido treinado para retirar a comida do aparelho pressionando uma peça que nele estava escondida. Noutro grupo introduziram outro chimpanzé previamente treinado para retirar comida de um aparelho idêntico, mas de uma forma mais difícil para macacos: levantando uma peça do aparelho que se encontrava no topo deste. No terceiro grupo não introduziram nenhum chimpanzé treinado.
Nos dois primeiros grupos, os animais aprenderam a retirar comida observando os passos dados pelos chimpanzés treinados. Cada grupo começou a usar o método que observou. No terceiro grupo, nenhum chimpanzé conseguiu descobrir um processo de retirar comida do aparelho.
O mais curioso, contudo, foi o que aconteceu no grupo que aprendeu a retirar comida pelo método mais difícil (levantar uma peça). Alguns elementos descobriram casualmente o método mais fácil (empurrar uma outra peça), mas preferiram continuar a usar o método mais difícil, pois era esse que os seus companheiros seguiam. Os investigadores chegaram à conclusão que a conformidade com o grupo se sobrepunha à facilidade de conseguir satisfazer o objectivo imediato de obter comida. A afinidade cultural, sublinham, é pois importante para os macacos e não apenas para os humanos.
Num outro artigo recentemente publicado na revista “Animal Cognition” (8, pp. 164–81), Victoria Horner e Andrew Whiten levaram as experiências mais longe, comparando o comportamento de chimpanzés com o de humanos. Mostraram aos animais como abrir uma caixa opaca, mas acrescentaram na demonstração uma série de manobras inúteis — os chimpanzés imitaram todas as instruções o melhor que puderam. Em seguida, mostraram-lhes uma caixa em tudo semelhante mas transparente, e abriram-na com a mesma série de movimentos inúteis — os chimpanzés perceberam quais as manobras desnecessárias e abriram a caixa por método mais directo.
Em seguida, fizeram a mesma experiência com crianças e repararam que estas reproduziam os movimentos desnecessários, mesmo com caixas transparentes, em que imediatamente se percebia a inutilidade das manobras praticadas pelos instrutores.
Mais recentemente ainda, Derek Lyons e outros investigadores da Universidade de Yale reproduziram estas experiências e confirmaram a muito maior propensão dos humanos para imitar comportamentos, mesmo quando eles são inúteis. Essa maior capacidade de imitação, defende Lyons, é uma das características distintivas da nossa espécie, e uma característica que nos terá dado uma grande coesão e vantagem na batalha colectiva pela sobrevivência. Ao contrário do que sustentam algumas correntes psicológicas e pedagógicas de cariz construtivista extremo, nem todo o aprendizado corresponde a uma reconstrução criativa e individual. E talvez, por vezes, isso tenha sido e seja uma grande vantagem.
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(*) Nuno Crato - Adapt. do «Expresso»
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3 Comments:
Nas caixas de supermercados e nas praças de portagem, a tendência das pessoas é para irem para as que têm mais gente.
São muitas as vezes em que as encontro "às moscas".
Passa-se o mesmo nas praias:
As pessoas escolhem as que têm mais gente e, nelas, as zonas mais ocupadas - mesmo que, a igual distância, tenham zonas melhores.
C.
Muito bom!
Na verdade, desde que nascem, os animais não fazem mais do que imitar. «Aprendizagem é, antes de mais nada, imitação».
Também o peixe que atravessa um bando de focas está mais seguro num cardume do que sozinho, etc.
Podíamos ir mais longe:
O autarca corrupto apenas faz o mesmo que os outros (pois «No imitar é que está o ganho»)...
D.R.
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