A matemática dos encontros amorosos
Crónica de Nuno Crato (*)
(*) Adaptado do «Expresso-online»
ENTRE as muitas actividades de divulgação científica a decorrer no país, há temas curiosos. Sábado 25 de Março, no Funchal, às 15h, Miguel Gouveia fala numa «Tarde de Matemática» sobre sistemas eleitorais, os seus limites e o significado da democracia. Dia 8 de Abril, no Pavilhão do Conhecimento, um historiador, um padre e uma professora de matemática falam sobre calendários. Mas a palestra de título mais intrigante é possivelmente uma a desenrolar em Lisboa, no mesmo Pavilhão do Conhecimento, num ciclo de «Tardes» intitulado «A Matemática das Coisas». Sábado dia 3 de Junho, dois investigadores discutem «A Matemática dos Encontros Amorosos».
Que poderá dizer a ciência sobre o amor? Não será a paixão precisamente aquilo que há de mais imprevisível e impossível de quantificar? É verdade que é impossível reduzir um tema tão subtil a números. Mas daí não se pode concluir que a matemática nada tenha a dizer sobre os encontros amorosos.
Curiosamente, o emparelhamento de elementos de dois conjuntos é um tema estudado em probabilidades. Há problemas clássicos que levaram ao desenvolvimento de ferramentas matemáticas poderosas e presentes em muitas áreas. Um desses problemas pode ser formulado da seguinte forma.
Imaginem-se 100 homens numa sala, cada um com o seu chapéu. A certa altura, cada um atira o seu chapéu ao ar, o mais alto que puder. Quando os chapéus caem, cada um recolhe ao acaso um deles. Qual a probabilidade de nenhum ficar com o chapéu certo? E qual a probabilidade de todos ficarem com o chapéu certo? O que é mais provável, que o número de chapéus certos seja mais de metade ou menos de metade? As respostas são menos intuitivas do que parecem.
Os encontros amorosos não são emparelhamentos de pessoas e chapéus. O sucesso nas relações pessoais constrói-se, e é muito mais complexo. Mas é curioso notar que os portais Internet de acasalamento — gigantes do negócio como Match.com, e Harmony.com e Chemestry.com —, portais que recebem milhares de inscrições por dia e têm milhões de clientes em todo o mundo, são a face visível de empresas que empregam psicólogos, sociólogos e matemáticos. Se esses negócios aumentarem a sua taxa de sucesso, aumentam em muito os seus lucros, de onde é natural que tudo façam para desenvolver algoritmos de emparelhamento que juntem pessoas com personalidades compatíveis.
Pense-se o que se pensar das agências de acasalamento, se a matemática aumentar, por pouco que seja, a probabilidade de êxito de um encontro entre duas almas solitárias, não é isso um sucesso?
(*) Adaptado do «Expresso-online»
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