A quota... parte
ESTA manhã, a minha mulher disse-me que eu, a meio da noite, devo ter despertado a vizinhança toda com um grande berro:
- Mas vocês são parvos, ou quê?!
Ora, puxando pela memória durante o pequeno-almoço, lembrei-me então de que, no pesadelo que provocou tal imprecação, eu era abordado por um patusco cavalheiro com ar esgaseado, que trazia na cabeça uma grande cartola e agitava no ar uma bengala cor-de-rosa.
Na cena seguinte (os meus sonhos evoluem quase sempre por "cenas"), ele informava-me, sorridente, que eu ia ser deputado da Nação, pois alguém tinha decretado que passaria a haver uma percentagem de "Carlos" semelhante à existente na população nacional.
Mas nada disso era completamente novo, pois esse pesadelo aparece-me todos os anos, com pequenas variantes, por volta do 8 de Março - o Dia-da-Mulher - data em que, além de pagar a renda da casa, tenho de arranjar uma carga de pachorra para aturar as teorias sobre «as quotas das mulheres».
Curiosamente, nessa recorrente paródia de fim-de-Inverno, o maior problema nem sequer é político, mas sim puramente matemático - pois, quando se pretende (e muito bem!) alargar a teoria da quotas a etnias, preferências religiosas, sexuais, etc, cai-se de imediato em impossibilidades numéricas que só se resolvem com fracções de pessoas (?!); ou, então, com «um número de representantes igual ao de representados» - aquilo que, de certa forma, já foi referido por Jorge Luis Borges quando falava de «um mapa com área igual à cartografada».
Na realidade, os partidos que conseguem ZERO eleitos são os únicos que têm (embora só a posteriori) o problema resolvido, pois 50% desses são homens, 50% são mulheres, e todas as "minorias" estão também representadas com a proporcionalidade rigorosa que o «zero» permite.
Mas palpita-me que isso já é alta-matemática para políticos como os nossos (que desconhecem que os números inteiros se dividem em pares e ímpares), pois só assim se explica que tenham enjorcado um parlamento com um número de deputados que permite empates - como sucedeu com rábula do queijo-limiano (tanto mais ridícula quanto evitável) mas que, por sinal, serviu para justificar o nome Par-Lamento...
Curiosamente, nessa recorrente paródia de fim-de-Inverno, o maior problema nem sequer é político, mas sim puramente matemático - pois, quando se pretende (e muito bem!) alargar a teoria da quotas a etnias, preferências religiosas, sexuais, etc, cai-se de imediato em impossibilidades numéricas que só se resolvem com fracções de pessoas (?!); ou, então, com «um número de representantes igual ao de representados» - aquilo que, de certa forma, já foi referido por Jorge Luis Borges quando falava de «um mapa com área igual à cartografada».
Na realidade, os partidos que conseguem ZERO eleitos são os únicos que têm (embora só a posteriori) o problema resolvido, pois 50% desses são homens, 50% são mulheres, e todas as "minorias" estão também representadas com a proporcionalidade rigorosa que o «zero» permite.
Mas palpita-me que isso já é alta-matemática para políticos como os nossos (que desconhecem que os números inteiros se dividem em pares e ímpares), pois só assim se explica que tenham enjorcado um parlamento com um número de deputados que permite empates - como sucedeu com rábula do queijo-limiano (tanto mais ridícula quanto evitável) mas que, por sinal, serviu para justificar o nome Par-Lamento...
Depois de tudo esclarecido, ficará, porventura apenas uma dúvida:
Como é que se vai fazer para a Presidência da República? Será que a partir de 2011 vamos passar a ter dois - um M e um F?
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Com algumas diferenças, este texto veio a ser publicado no «Diário Digital» (em 14 Mar 06), no «DN», no dia seguinte e no "24Horas" em 31 Mar 06
3 Comments:
Nos termos da Carta Constitucional de 1826, as Cortes compunham-se de duas Câmaras: a Câmara dos Pares e a Câmara de Deputados.
Os deputados de agora baralharam-se, e pensam que são Pares do Reino, daí que não queiram nada com números ímpares.
Subscrevo o repúdio por essa mania das quotas. É um desprestígio para as mulheres, que nem deviam aceitar a medida.
Só passa pela cabecinha de pseudo intelectuais de esquerda, convencidos de que o socialismo chegou a eles e parou.
Jorge Oliveira
O João Pereira Coutinho diz hoje uma coisa com piada.
A ideia dele é que a baixa percentagem de mulheres na política portuguesa só mostra como elas são mais inteligentes do que os homens...
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