Arco-íris duplo
É MUITO raro, mas uma vez na vida temos a sorte de ver um duplo arco-íris. A sorte chegou-me hoje, por via de uma distracção. Já antes tinha trocado um dia de viagem, mas dessa vez tive uma desculpa para me ter confundido. Foi talvez o voo mais longo da minha vida, umas 12 horas desde Nova Zelândia até Los Angeles. Sem conseguir dormir.
ligação para Nova Iorque partia às 11h e pouco. Com as demoras da alfândega, quando cheguei ao balcão de check-in faltavam poucos minutos para as 11h. A funcionária olhou para o bilhete e riu-se do meu ar afogueado. «Por que está com tanta pressa? O seu voo é só amanhã, domingo.» Como era possível? Não tinha eu partido sábado à noite da Nova Zelândia? «Pois, mas agora são 11h da manhã de sábado», esclareceu. «Almost everybody gets confused», acrescentou, com a simpatia que os norte-americanos sabem transmitir quando querem, educadamente, não ofender os seus interlocutores.
Pois... quase toda a gente se confunde. Sair sábado à noite de um aeroporto e chegar a outro no mesmo sábado, mas de manhã, depois de passar 12 horas no avião, não é uma experiência muito comum. Apenas acontece quando se cruza a linha internacional da mudança de data, no Pacífico. Essa linha, situada a leste da Nova Zelândia, separa um dia do outro. Quando são 24h nesse país, no fuso horário adjacente a leste parece ser uma hora mais tarde, pois é uma da manhã. Mas é uma da manhã do mesmo dia, de forma que quem passa de oeste para leste anda para trás no tempo legal.
Era natural que me confundisse e quisesse fazer o check-in um dia antes do voo marcado. Menos natural foi o que me aconteceu agora. Saí de Berkeley de manhã, com uma mala muito mais carregada no retorno do que na ida, apanhei o metropolitano para o aeroporto de S. Francisco e dirigi-me ao balcão. «Wrong day!» Tinha chegado 24 horas mais cedo.
É demais! Como me poderia ter enganado no dia?! E não era possível alterar o voo. Regresso no metropolitano a Berkeley, desanimado, com 10 dólares e 70 cêntimos desperdiçados no transportes e mais de três horas perdidas. Ainda por cima com chuva.
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Para subir a moral, deambulo pelas livrarias da Telegraph Street, onde aproveito para arranjar mais peso para a minha mala. À saída da Cody’s olho para o céu e vejo um perfeito arco-íris. Sigo-o com os olhos e noto, concêntrico mas mais acima, um segundo arco-íris. Tal como nos livros, é mais largo e mais pálido que o primeiro, e, ao contrário deste, com o azul de fora e o vermelho por dentro.
É um fenómeno raro, que apenas se nota em condições excepcionais. O arco-íris primário é causado por uma reflexão e uma dupla refracção da luz do Sol, que está na posição oposta do céu. Os raios luminosos penetram nas gotículas de água das nuvens, reflectem-se no seu interior e mudam de direcção ao entrar e sair, pois nessa altura mudam de um meio óptico para outro. Como essa mudança de direcção depende do energia da luz, as cores separam-se e vemos o arco-íris. Por vezes, conseguimos ver um outro arco colorido, que resulta de uma dupla reflexão no interior das gotículas, pois a luz reflecte-se na parede superior e na inferior das gotas, antes de sair de dentro delas. É um fenómeno que deixou perplexos os estudiosos e que apenas foi compreendido nos tempos de Descartes e de Newton. As fotografias e as explicações aparecem nos livros, mas não há nada como observá-lo. Foi a minha primeira vez.
A sorte que tive em não ter apanhado o avião!
(*) Adaptado do «Expresso»
1 Comments:
Dois reparos:
Diz-se "subir o moral".
É Telegraph Avenue enão Telegraph Street.
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