11.5.06

Ou bacocos ou "ibéricos"...


COMO já aqui foi dito, António Barreto (referindo «o medo de Castela») esforçou-se por ridicularizar os portugueses que não querem que os seus filhos nasçam em Espanha, no que foi seguido por outros lúcidos pensadores.
José Sócrates e Correia de Campos também o fazem, claro, mas vão um pouco mais longe e recorrem, agora, ao epíteto de bacocos o que, como se sabe, tem um significado - no mínimo... - desagradável.
Talvez não falte quem goste de ser insultado mas, pela parte que me toca, não apreciei ser tratado assim por dois empregados meus, pois, embora apenas em parte, o ordenado desses cavalheiros sai do meu bolso.
--oOo--

Na «Quadratura do Círculo», ontem, JPP também dizia que não tem mal nenhum que os povos fronteiriços partilhem serviços de um lado e do outro da raia.

Trata-se de uma abordagem mais inteligente, essa, que só precisa de esclarecer uma coisa para ficar perfeita:

Alguém imagina, SERIAMENTE, a situação inversa - mulheres espanholas a virem, aos milhares, parir a Portugal? E porque será que a simples enunciação da pergunta nos dá vontade de rir?

(Uma versão simplificada deste texto - que está em «Comentário-9» -, veio a ser publicada no jornal «metro» de 12 Mai 06, no «DN» de 15 e no «DESTAK» de 26)

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas a questão de fundo não é a cidadania? As crianças portuguesas que nasçam em Badajoz ficam registadas com nacionalidade portuguesa. Isso é o que importa. Quero lá saber se a sala de partos tem mobília espanhola ou alemã, quero é saber de que nacionalidade é a criança. E é portuguesa. Ponto final.

11 de maio de 2006 às 12:44  
Blogger ""#$ said...

Carlos
Pois é!

Esses senhores são empregados dos portugueses todos.

E a últim aparte do post coloca a questão que interessa colocar: alguém vem de espanha nascer aqui?

Do ponto de vista estratégico esta decisão de mandar pessoas nascer em Espanha é uma derrota tremenda.
Estamos a dizer aos gritos que somos incapazes de fazer nascer pessoas em território português e que preferimos ir fazê-las nascer em Espanha.
Brilhante!
Depois descobre-se que a nacionalidade é a portuguesa.
Não é isso que está em causa, nesta situação.

Se, daqui por amanhã, os espanhóis disserem que não querem que esta situação continue, fica-se com as calças na mão?
Nessa altura vão nascer aonde?
Em frança?
Ou tem que se voltar a gastar imenso dinheiro para recriar toda a situação que antes existia, depois desta medida de fechar sitios?

Gostei bastante do post.

11 de maio de 2006 às 15:31  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O sentido da nacionalidade (tal como a sua perda progressiva) também se faz de pequenas coisas, como a Bandeira Nacional pendurada de pernas para o ar (como fez o ex-MNE Martins da Cruz na Líbia, o nosso embaixador no Iraque e a GNR-BF de Lagos), as empresas-chave (não refiro as outras) que são vendidas a espanhois, as pessoas responsáveis que não sabem falar português (ou que, por tudo e por nada usam estangeirismos desnecessários), etc.

Qunato à atitude do «Quero lá saber!», ela apareceu muitas vezes ao longo da nossa História (1383, 1580...), sempre com o apoio de certas elites e até de governantes com os resultados conhecidos.

Curiosamente, foi sempre o Povo que disse que «Queria saber, sim senhor!»

11 de maio de 2006 às 16:55  
Anonymous Anónimo said...

Até sou capaz de concordar com a última afirmação do CMR.
Mas parece-me que quando "quis saber" o povo não estava sózinho. Havia um líder ou uma referência, algo que se seguia. Hoje... bem hoje íamos seguir quem? Hein?
É escusado procurar... a verdade é que há nada nem ninguém que mereça a nossa confiança absoluta, um verdadeiro líder, com autoridade sem ser autoritário... o último desapareceu há muito tempo... ( e não estou a falar do tempo da outra senhora)

11 de maio de 2006 às 20:32  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Em 1383-85, segundo Fernão Lopes, o Mestre de Avis era "fraquinho", acabando por ser o Povo a empurrá-lo.

O mesmo se passou com D. João IV, em 1640. Quase que teve de ser levado ao colo...

11 de maio de 2006 às 21:06  
Anonymous Anónimo said...

Ora aqui está um assunto que vai ao encontro de muitas mentalidades adormecidas, que estão a acordar perante a insensatez destas medidas.
Ainda niguém demonstrou quanto custa um parto um espanha para poder comparar com o quanto custa em Portugal. mas a questão não é apenas de números, é também de outras dimensões e outras razões, como por exemplo saber quais as regras para contabilizar as estatisticas demográficas, as medidas para combater a desertificação do interior e a consequente macrocéfalia da sociedade Portuguesa. Até pode acontecer que uma das pragas que entre na moda seja "Vai parir a espanha", como corolário da exclusão total da cidadania Nacional. Depois há aqueles, que como eu, começam a descobrir a lógica dos Nacionais (..ismos).
E, já agora se um dia algum movimneto radical começar a expressar-se à bomba, quem é que o estimulou e lhe deu razões para a tomada dessas atitudes????

11 de maio de 2006 às 21:44  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Este problema das maternidades é, de facto, especialmente interessante porque toca em muitos aspectos da nossa sociedade:

A desertificação, a falta de dinheiro, a escassez de recursos humanos, o divórcio dos governantes face aos sentimentos do povo, a progressiva perda das referências que fazem com que um país o seja, etc.

Claro que o mais caricato (por ser uma situação-limite) é a exportação de infantes para Espanha, mas o resto não é menos preocupante.

Curiosamente, o GRANDE argumento esgrimido (que até deve ser verdade) é a falta de meios nos blocos de partos que eles querem fechar.
Só que, em vez de tratar de arranjar esses meios (que já existiram!), fecham a loja!

Já dever ser um "tique" do PS, pois o seu grupo parlamentar, perante uma (mal explicada) falha do sistema de voto electrónico, também propôs a sua desactivação em vez de chamar o electricista...

11 de maio de 2006 às 22:27  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Nascer em Portugal

(Publicado no «metro» de 12 Mai 06)

O Governo resolveu ridicularizar os portugueses que não querem que os seus filhos nasçam em Espanha chamando-lhes «bacocos» - o que, segundo o dicionário que aqui tenho, significa «palerma, pacóvio».

Seria preferível que tivesse recorrido a uma argumentação mais inteligente, como a de quem diz que «não tem mal nenhum que os povos que vivem junto à fronteira partilhem serviços de um lado e do outro da raia», uma abordagem que não recorre ao insulto e que só precisa, depois, de esclarecer uma coisa:
Alguém imagina a situação inversa - espanholas a virem, aos milhares, dar-à-luz a Portugal? E, já agora, porque será que a simples enunciação da pergunta dá vontade de rir?

12 de maio de 2006 às 10:18  

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