20.8.06

A "firewall"

DE VEZ em quando, António Borges "chega-se à frente" e, enquanto não o escolhem para dirigir o PSD, lá vai oferecendo os seus conselhos, opiniões e palpites - que Marques Mendes não aceita nem agradece, como se tivesse activado uma firewall, implacável e sempre atenta às intrusões.

Não sei se a comparação é justa, mas faz-me lembrar o que em tempos se passou numa empresa portuguesa muito conhecida onde, em meados dos anos 90, um jovem engenheiro, entusiasmado com as enormes possibilidades das chamadas "novas tecnologias", começou a mostrar a toda a gente quanto a empresa podia beneficiar com elas.

Sucedia, porém, que a "casa" era gerida por "pessoas de outros tempos" pelo que, embora bem recebidas pelos colegas de espírito mais aberto, as novidades tecnológicas eram sistematicamente ridicularizadas e rejeitadas pela hierarquia que as apelidava de "modernices tontas e desnecessárias".
Mas a situação também não durou muito porque, a breve trecho, o chefe do jovem o chamava ao gabinete e lhe dizia, olhos-nos-olhos:

- Meu caro, pare lá com essa treta toda. É que, de cada vez que você fica bem-visto entre os seus colegas, eu passo por burro e atrasado. E isso não lhe admito. Estamos entendidos?

Com esse raciocínio, o Grande-Chefe mostrava que, apesar de marreta, não era parvo de todo. Mas o mais certo é que não tenha percebido o que o jovem quis dizer quando, acabrunhado mas sempre irreverente, lhe comunicou, já à saída:

- Está entendido, chefe! Firewall activada!
_________

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Depende de quem se considerar o Grande-Chefe marreta e o jovem engenheiro.

21 de agosto de 2006 às 08:46  
Anonymous Anónimo said...

É sabido que uma «inverdade» repetida muitas vezes se converte em dogma. E veio num jornal que assim era, e foi dado como adquirido que assim é...

Não é razoável pensar-se que, à parte chicanas políticas, tendo Marques Mendes convidado António Borges para integrar o Conselho não sei das quantas que tem como função aconselhar o líder, este teime agora eu não querer ouvir quem, estatutariamente, está obrigado a ouvir...

Para além de que tudo isto foi desmentido por ambos...

É certo que existe um problema de liderança com o Borges a perfilar-se; mas não exageremos, em nome da credibilidade e razoabilidade que pretendamos ter...

Paula E.

21 de agosto de 2006 às 16:06  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Quantas vezes, nos últimos meses, não vimos nós, já (em jornais, rádios, TV - notícias e entrevistas) António Borges a "chegar-se à frente" (como aqui se diz), ficando depois a falar para os peixinhos?!
Terão sido alucinações, «inverdades muitas vezes repetidas»?

Mas isso não parece ter muita importância. Foi apenas um pretexto para um texto que pretende ser de humor, até porque a 2ª parte (a do engenheiro) é 99%verídica (o 1% está na última linha...)

21 de agosto de 2006 às 19:00  
Anonymous Anónimo said...

De cada vez que Borges aparece a falar ou a dar entrevistas, mostra bem que quer vir a ter uma palavra importante no PSD, e faz ele muito bem. Não vejo qualquer dúvida nem qualquer problema.

Também basta ter os olhos abertos para se ver que, sejam quais forem as razões para esse facto, ele não está a ser aproveitado pelo partido.

A imagem da «Firewall de Marques Mendes» parece uma alegoria aceitável.

Não falta quem se prepare para colher os frutos do trabalho de Mendes e A.Borges parece ser um desses, e está no seu direito. Mas também há que reconhecer que o PSD actual não está a ter "pedalada" para se opor ao PS.

Finalmente, há também que reconhecer que o PSD (com ou sem a anedota do actual CDS)tem a vida MUITO dificultada, na medida em que o PS, além da maioria absoluta que tem, trata de aplicar as receitas da "concorrência".
E o GRANDE drama é esse, quer A.Borges esteja metido nisso, quer não esteja.

Ed

21 de agosto de 2006 às 19:29  
Anonymous Anónimo said...

Marques Mendes neste momento, quer algumas individualidades queiram ou não, exerce a mesma função que Ferro Rodrigues exerceu no PS, ou seja, um líder de transição entre uma personagem forte e consensual(Durão Barroso) e uma outra personagem com as mesmas características, que se perfila cada vez como António Borges. Ninguém o quer na posição que está a ocupar, todos o criticam pelas costas e pela calada dos media, mas ninguém o quer tirar de lá - para queimar ele chega.

Mendes tem a plena noção disso e procura evitar ao máximo situações em que a legitimidade da sua liderança seja colocada em causa. Desse modo, quaisquer conselhos ou indicações dadas por António Borges são filtradas e ignoradas - a última coisa que Mendes quer é os media a insinuarem que Borges manda no partido e Mendes é apenas testa de ferro. Os seu anos de política e a sua personalidade não lhe permitiriam isso nunca, além de que a sua posição como líder ficaria irremediavelmente destruída.

Contudo, Borges sabe que tem de se mexer e apresentar-se ao eleitorado como alguém credível e com um rumo e idéias para o partido e para o país. Só assim é que pode almejar ao lugar que Mendes ocupa. Um pouco como António Vitorino, que enquanto Ferro Rodrigues era presidente assumia pela calada uma posição de poder no PS, mas que optou por transferir esse poder para Sócrates.

Quanto á qualidade do PSD enquanto oposição, reflete em muito a força de Mendes. Contudo, lembrem-se que mesmo Ferro Rodrigues não foi um bom líder de oposição e contudo, nas eleições legislativas o PS teve um o melhor resultado eleitoral de sempre (que infelizmente originou devaneios como Carrilho em Lisboa e Soares para a presidência). Muitas vezes factores externos influenciam bastante mais o voto do eleitorado do que a própria força dos partidos.

21 de agosto de 2006 às 21:43  

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