27.10.06

Vá lá, não lixem a reciclagem!

VALHA-NOS Bruxelas. Às vezes parece que, se não fosse Bruxelas, isto era a completa parvónia. Ou, no caso, a completa pocilga. Vem isto a propósito das últimas ordens lá "de cima": em três anos, diz a manchete de ontem do DN, a quantidade de lixo doméstico que vai para o aterro tem de baixar de 64% para 11%, mediante a pressão dos "dinheiros de Bruxelas", aumentando a reciclagem.
Isto tem uma certa graça, porque tudo leva a crer que já era obrigatório separar os lixos, vidro para um lado, papel e cartão para o outro, mais plástico e embalagens para outro ainda. Que cada português já era obrigado a encontrar lugar para acondicionar os montinhos da separação durante uns dias, e a reunir forças para carregar com o resultado até ao ecoponto mais próximo, mesmo que o ecoponto mais próximo fique a um quilómetrozito (e a subir), isto enquanto o outro lixo, o tal que tem de ser só 11% do total nacional, é pontualmente recolhido à porta pelos serviços das edilidades.
Mas pelos vistos foi confusão. Tudo o que se passou até aqui, incluindo as ameaças e concretizações de aplicação de coimas a quem não separasse os lixos, era mero ensaio, aquecer dos motores para a grande operação de reciclagem que vai avassalar o País.
Ainda bem que assim é. Fico muito mais descansada. É que só assim se compreende que por exemplo em Lisboa a entidade autárquica responsável pela recolha de lixo recuse pedidos de munícipes no sentido de multiplicar a presença de ecopontos, tornando-os mais acessíveis e menos lotados (e talvez menos nojentamente conspurcados que o costume), alegando não existir "lugar" para os mesmos. Só assim se compreende que, sendo a percentagem de lixo a reciclar aparentemente mais alta que a do lixo "indiferenciado", este seja recolhido porta a porta e o outro dependa quase em exclusivo da boa vontade e suor dos cidadãos, exigindo-lhes não raro uma dedicação a raiar a santidade ambiental.
Era tudo a fingir, perceberam? Não era para levar a sério. Agora é que vai ser. Ecopontos a cada porta, limpos e a reluzir, e toda a gente a separar. E não, não é para rir.

Fernanda Câncio

«DN» de hoje - [PH]

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

No «Nós por cá» mostraram uma infeliz que foi multada no valor do salário mínimo nacional por ter deixado um saquinho junto ao contentor.

Para a próxima, deixe-o debaixo de um carro, que é como, às vezes, na Av. de Roma fazem...

M.

27 de outubro de 2006 às 19:39  
Anonymous Anónimo said...

A maior parte das vezes, quando vou colocar o lixo nos contentores próprios, encontro montanhas de lixo ao pé, mesmo sem que haja a desculpa de estarem cheios.

Quando vejo pessoas a passar (especialmente se sei que moram ali perto), faço comentários em voz alta, procurando levá-las a pronunciarem-se.

Em média, metade acompanha-me na minha revolta, mas a outra metade fica a olhar para mim como quem olha para um extra-terrestre...

Ed

28 de outubro de 2006 às 10:43  
Anonymous Anónimo said...

«O Triunfo dos porcos»

Ao pé da minha casa há uma loja de "utilidades" (e não é de chineses!) que todas as tardes deixa as caixas (esferovite, plástico, cartão, etc) à porta.

De noite, o vento, os cães e os sem-abrigo reviram tudo - e, de manhã, é a nojeira que se imagina.

Pelas imagens das caixas, vê-se bem que são coisas vendidas por aquela loja, mas ninguém faz nada.
E, como atrás se diz, as pessoas que passam por ali desviam-se ou pisam o lixo - o que fazem com o ar mais natural do mundo.

«Como serão as casas desses porcos?» - interrogo-me, às vezes.
Ora, tanto quanto sei, são casas normais. As pessoas, ao contrário do que se poderia pensar, são limpas em casa e porcas na rua.

28 de outubro de 2006 às 11:00  

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