1.5.07

PASSEIO ALEATÓRIO

O eixo do mal
Por Nuno Crato
HÁ CIENTISTAS QUE ADORAM NOMES ESTRANHOS. Quando há dois anos os astrofísicos Kate Land e João Magueijo, no Imperial College, em Londres, descobriram um padrão curioso no mapa da radiação cósmica de fundo, chamaram-lhe «eixo do mal». O que encontraram foi um alinhamento de algumas regiões mais energéticas nesse mapa, que mostra a radiação que enche o universo e que se crê ser um resquício do Big Bang. No conjunto, no entanto, o mapa mostra o universo como isotrópico, isto é, praticamente o mesmo em todas as direcções, o que corresponde à ideia mais generalizada entre os astrofísicos sobre o cosmos.

Duvidando do significado da descoberta de Land e Magueijo, vários astrónomos procuraram explicações para esse aparente padrão. Alguns sugeriram que se tratava de erros nos instrumentos usados. Outros imaginaram distorções na radiação chegada até nós causadas por um aglomerado de galáxias.
Recentemente, no entanto, duas observações parecem corroborar a existência do eixo do mal. O belga Damien Hutsemékers verificou que a polarização da luz de quasares que se encontram perto desse alinhamento é mais ordenada do que seria de esperar. O norte-americano Michael Longo analisou 1660 galáxias espirais e verificou que os seus eixos de rotação tendem a estar alinhados com o eixo do mal. É pouco provável que se trate apenas de um acaso. Mas, como sempre, a dúvida é parte da ciência. A «New Scientist» cita o cosmologista Carlo Contaldi, que alerta para o «perigo de, uma vez tendo ouvido falar sobre o eixo do mal, começar a vê-lo em todos os dados».
Ao contrário do que por vezes se diz, os cientistas procuram sobretudo destruir teorias, mas resistem a precipitar-se.
Adaptado do «Expresso»

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