A DISCRIMINAÇÃO DOS MAUS ALUNOS
Por João Miranda
NA PASSADA QUARTA-FEIRA, o CDS-PP propôs no Parlamento a criação de exames nacionais no 4.º e no 6.º anos. Paulo Portas justificou os exames com a necessidade de impor uma "ética do esforço" aos alunos. A deputada Paula Barros, pelo PS, contestou os exames, considerando a proposta do CDS-PP "discriminatória" e reveladora de "profunda insensibilidade social".
Este caso ilustra bem as posições típicas de conservadores e progressistas sobre educação. Nenhuma das facções reconhece a autonomia dos pais para educarem os filhos. Ambas acreditam que o Estado é que deve ser o grande educador. Os conservadores, representados pelo CDS-PP, acreditam que o Estado deve educar de acordo com os valores tradicionais. Moral católica, trabalho, família, Pátria, rigor e esforço. Os progressistas, representados pelo PS, estão mais interessados na igualdade do que na educação. Acreditam que se a escola ensinar alguma coisa torna-se discriminatória, porque os bons alunos aprenderão mais do que os maus. A forma mais segura de impedir a discriminação é garantindo que as escolas não ensinem nada.
Quem tem razão? Conservadores ou progressistas? O ensino conservador parece demasiado tradicionalista para entusiasmar alunos e professores e o progressista demasiado experimental para ser credível. Dado que os senhores deputados não conseguem ir além do senso comum, o mais provável é que o conhecimento para escolher entre a via conservadora e a via progressista não se encontre no Parlamento, mas disperso pela sociedade. É mesmo possível que a resposta dependa do aluno, das suas condições familiares e da cultura de cada escola. Existe uma solução que poderá contentar tanto os conservadores como os progressistas e que, como bónus, ainda consegue aproveitar o conhecimento disperso pela sociedade: a liberdade de escolha. Se as escolas pudessem escolher os seus métodos de avaliação e seleccionar os seus alunos e se os pais pudessem escolher a escola dos filhos, os deputados seriam dispensáveis. Os pais, que estão muito mais interessados no futuro dos seus filhos que o Parlamento, teriam liberdade para decidir. Os defensores do ensino conservador e os do ensino progressista teriam que abdicar do poder do Estado para impor as suas teses e teriam que convencer pais e professores com argumentos fundamentados. Paulo Portas e Paula Barros teriam que se converter em gurus das respectivas comunidades educativas. Os deputados do CDS-PP colocariam os seus filhos em escolas com exames externos e os do PS colocariam os seus em escolas sem exames promotoras de igualdade. Ah, e os maus alunos poderiam ir para as escolas sem exames onde não correriam o risco de ser descobertos. Quero dizer, onde não correriam o risco de ser discriminados.
Etiquetas: JM
6 Comments:
A sugestão é curiosa:
Imaginemos 2 escolas iguais em tudo, excepto numa coisa:
Numa delas, havia exames regulares e exigentes; noutra passava-se sempre de ano, quer se soubesse, quer não.
Para onde é que os pais mandariam os seus filhos?
Provavelmente começariam por escolher as segundas.
Anos depois, e como, nessas coisas, «o mercado resolve», talvez mudassem de critério quando vissem que as criancinhas apenas serviriam para lavar o rabo aos turistas da 3ª idade que vêm para cá gozar o sol e a reforma... E mesmo assim esse "trabalho" vai ser muito disputado!
Ed
O problema é que essa igualdade forçada ja não se fica só pela escola primária mas abrange graus superiores como cursos universitários, mestrados e doutoramentos. Hoje em dia ter um Doutoramento está mais associado á falta de um emprego estável do que ás capacidades do estudante, ou seja, quem quer pode continuar, sem haver qualquer tipo de pre-selecção.
Os defensores das igualdades só os são para os mais fracos, há uma sobre-protecção dos fracos e muito poucas ajudas aos excelentes... e a isto não se chama igualdade, chama-se comunismo puro.
B.
Não se onfunda "igualdade" com "igualdade de oportunidades".
É que «igualdade é tratar por igual o que é igual», mas também - e não se deve ter medo de o dizer! - «é tratar de forma diferente o que é diferente».
C.
Magnífico artigo.
Diz-se nesta crónica que o PS recusou a proposta do CDS, mas o que li na imprensa foi que "toda a esquerda" a tinha recusado.
Um amigo meu costuma dizer:
«Quando não sei se uma coisa está bem ou está mal, limito-me a tirar conclusões a partir dos resultados».
E os resultados do nosso "sistema educativo" falam por si (e bem alto!) e dispensam intérprete...
MR
Promoção da igualdade? Interessam as estatísticas de "sucesso" para "inglês ver".
Li hoje um artigo de uma professora, no Público, que resume tudo: muito se opina mas pouco se conhece da escola real dos tempos actuais.
Não há um projecto a médio ou a longo prazo. Há tentativas e experiências que se enrolam umas nas outras.
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